Viver, a incorporadora que vive comprando problemas

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Divulgação/Viver Incorporadora

Após fim de recuperação judicial, Ricardo Piccinini está ajudando a identificar problemas na Viver

Uma das tarefas mais importantes de um CEO é fazer sua empresa evitar problemas. Boa parte da agenda de Ricardo Piccinini, principal executivo da incorporadora Viver (VIVR3), é procurá-los. A empresa, que saiu de uma recuperação judicial em agosto deste ano, está no processo de “arrumar a casa” para se posicionar no setor imobiliário como referência, só que não de forma tradicional.

Piccinini diz que, após pagar as dívidas, a Viver estava mais capitalizada, com equipe renovada e conseguiu retomar os empreendimentos do “legado”, que tinham ficado parados no período da recuperação judicial.

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“Foi nesse momento que decidimos planejar os próximos anos. Paramos para pensar no que nós aprendemos com a recuperação e a conclusão foi que nós viramos ótimos solucionadores de problemas”, diz Piccinini.

Ele conta que voltar para o mercado sendo apenas mais uma incorporadora não era uma opção, já que a concorrência era muito grande e a Viver não tinha apelo no setor. “Decidimos que o nosso foco seria comprar obras paradas e focar nos ativos alternativos, que não tem tanto destaque no mercado”, afirma.

A empresa ainda tem empreendimentos novos em seu portfólio e não vai descartar oportunidades, mas esse não é mais o foco, de acordo com o empresário.

Ele comenta que como o mercado de ativos alternativos é pouco explorado, as margens são melhores. “Hoje nós mapeamos mais de 800 obras residenciais paradas. Nesse processo nós já adquirimos créditos de obras do Itaú, Banco do Brasil e temos mais de 10 propostas para comprar novos empreendimentos”, conta Piccinini.

Plano de expansão

No momento, a Viver está na transição da segunda para a terceira fase do seu plano de reestruturação, passando da temporada de experimentação do novo negócio para a etapa de expansão, que deve acontecer aos poucos.

O CEO da companhia diz não acreditar em uma expansão muito grande no curto prazo, e diz que esse é um dos maiores problemas das incorporadoras, que muitas vezes levam as empresas à falência.

Para isso, a empresa buscou novos investimentos e aprovou a captação de R$ 100 milhões por meio de uma emissão de debêntures. O objetivo dos recursos é financiar a compra de mais empreendimentos alternativos.

“Para a nossa surpresa, os retornos têm sido bem melhores e mais rápidos do que uma incorporação comum, já que quando pegamos uma obra no meio, ela já tem a estrutura, projeto aprovado e nos poupa muitos gastos que seriam necessários para tirar um prédio do chão”, diz Piccinini.

O resultado do novo posicionamento começou a ser percebido no balanço do segundo trimestre. A Viver divulgou um lucro de R$ 17,9 milhões ante os R$ 2,5 milhões do mesmo período de 2021.

Exportando tendências

Para criar um modelo de negócio, o CEO conta que precisou sair do Brasil, já que por aqui a preocupação por crédito imobiliário ainda não é tão grande.

Por outro lado, ele diz que nos Estados Unidos e na Europa existem diversas empresas muito grandes de recuperação de crédito e de obras, que trouxeram grande inspiração para a construção da nova Viver.

O empresário ainda explica que alguns concorrentes internacionais tentaram vir para o Brasil e operar negócios como esse, mas que com a dificuldade do sistema judiciário por aqui nada foi para frente.

“Claro que não é possível entrar em um mercado complexo como esse de uma hora para outra. Estamos nesse processo há mais de dois anos, vemos muitas oportunidades e sabemos que é preciso reconquistar a confiança do setor”, diz Piccinini.

Momento econômico

Com a taxa Selic a 13,75% ao ano e inflação atingindo mais de 8% em 12 meses, o mercado imobiliário está batalhando para crescer, já que o custo do crédito é determinante para o avanço dos empreendimentos em geral.

Entretanto, no caso da Viver, a situação é um pouco diferente. “Nós somos afetados pelo mercado imobiliário, mas o setor de empreendimentos alternativos tem um estoque muito grande, então a situação é muito pior para quem está do lado da venda do que para nós, que compramos”, explica o CEO.

Ele diz acreditar que para o setor imobiliário em geral, a alta no desemprego é muito mais impactante do que o avanço da Selic, já que com a possibilidade de ficar sem emprego, ninguém toma o risco de comprar um imóvel com financiamento a longo prazo.

“No nosso caso, o risco de inflação é menor que o das outras incorporadoras, já que nós pegamos uma obra que já pagou quase metade do seu custo. Esse é até um fator de oportunidade para nós, já que a nossa receita é reajustada com a inflação”, avalia Piccinini.

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