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Em busca de mais flexibilidade e da liberdade de trabalhar de qualquer lugar do mundo, muitos profissionais estão adotando ou considerando adotar o estilo de vida nômade digital. A tendência é confirmada pelo Google: segundo um novo relatório do Google Trends, as buscas pelo termo atingiram um recorde histórico em 2024, com aumento global de 190% nos últimos cinco anos.
No Brasil, o interesse é ainda mais expressivo — só nos últimos três anos, o crescimento foi de 250%.
O interesse continua em alta neste ano. No primeiro trimestre de 2025, as pesquisas sobre vistos para nômades digitais em países como Portugal e Espanha ganharam força, com aumento de até 450% no Brasil.
Apesar da crescente popularidade, muitos profissionais ainda têm dúvida sobre o que de fato é ser um nômade digital e como dar os primeiros passos nesse estilo de vida. “Como se tornar um nômade digital?” esteve entre as principais perguntas feitas sobre o tema no Google neste ano.
Tudo o que você precisa saber para se tornar um nômade digital
Veja, a seguir, as 10 perguntas mais buscadas sobre nômades digitais no Google neste primeiro trimestre, respondidas pelos especialistas Cristiano Soares, head de expansão Latam na Deel, plataforma de contratação global, e Fernando Kanarski, consultor de marketing e nômade digital há 10 anos, com passagem por 64 países.
1. O que é um nômade digital?
Fernando Kanarski: Para mim, um nômade digital é qualquer pessoa que pode trabalhar remotamente enquanto viaja explorando o mundo, seja mais rapidamente, trocando de lugar a cada duas ou três semanas ou tentando estabelecer o mínimo de rotina, ficando nos destinos de três a seis meses. Nômade digital é algo parecido com um home office, porém o “home” pode ser qualquer lugar do mundo.
2. Como se tornar um nômade digital?
Fernando Kanarski: O primeiro passo para tornar-se nômade digital é ter um trabalho remoto. Seja empreendendo, através de um contrato que permita trabalhar remoto, sendo um influenciador ou até vendedor de cursos ou mentorias. Depois disso, é preciso praticar o minimalismo material e pessoal, já que a pessoa precisará se locomover com menos coisas e aprender a conviver longe da família e dos amigos. É importante ter gosto por viajar e se adaptar, já que o princípio do nomadismo é poder explorar o mundo enquanto viaja, mudando de cidade, país ou continente de tempos em tempos.
Cristiano Soares: É importante desenvolver habilidades valorizadas na economia do conhecimento, como programação, design gráfico ou até mesmo serviços de consultoria online, além de construir uma presença virtual profissional e buscar ativamente oportunidades de trabalho remoto em plataformas especializadas ou diretamente em empresas.
Um planejamento financeiro sólido é essencial, incluindo a criação de uma reserva de emergência e a compreensão das obrigações fiscais em diferentes países. A escolha de destinos deve considerar custos de vida, infraestrutura e segurança, exigindo um planejamento logístico detalhado de hospedagem, transporte e seguro. A conformidade legal com as leis de imigração e impostos é fundamental. Investir em equipamentos e ferramentas de trabalho remoto, construir uma rede de contatos com outros nômades digitais e manter uma mentalidade adaptável e de aprendizado contínuo são passos importantes.
3. O que os nômades digitais fazem?
Fernando Kanarski: Nomadismo digital é um estilo de vida, e não uma profissão. É possível trabalhar fazendo qualquer coisa, desde que seja remota. Nessa jornada de 10 anos como nômade, já vi gente que faz de tudo: programadores, empresários, designers, psicólogos, jornalistas, nutricionistas, advogados e até médicos que trabalham com laudos e diagnósticos remotamente. O importante é poder trabalhar remotamente e ter uma certa flexibilidade de horários para poder conciliar visitas a novos destinos com o trabalho.
Cristiano Soares: Nômades digitais atuam em uma vasta gama de profissões que permitem o trabalho remoto. As áreas mais comuns incluem tecnologia da informação (desenvolvimento de software e análise de dados), marketing digital (gestão de redes sociais, SEO), design gráfico e multimídia, redação e tradução, consultoria, ensino e educação online, serviços administrativos e financeiros, e-commerce e jornalismo/mídia.
4. Como trabalhar como nômade digital?
Fernando Kanarski: O importante é focar em profissões que possam ser feitas remotamente e que ofereçam certa flexibilidade de horário. Os nômades que mais ganham dinheiro e podem explorar destinos caros são profissionais de TI, marketing digital, consultores e empreendedores. Mas várias outras profissões têm se destacado entre brasileiros.
Entre os que conheço, muitos têm formação acadêmica e até pós-graduação. Muitos pensam que nomadismo é algo para jovens que vão fazer algum curso pela internet e viajar. No caso dos nômades que conheço, a maioria tem mais de 25 anos e conseguiu converter seu conhecimento ou profissão em algo remoto para poder trabalhar e viajar.
5. Como solicitar o visto de nômade digital para Portugal?
Cristiano Soares: Para solicitar o visto, você deve atender aos seguintes requisitos:
- Comprovar trabalho remoto: Você deve estar trabalhando remotamente há pelo menos um ano;
- Renda mínima: Seu rendimento mensal precisa ser de pelo menos 3.040 euros ou US$ 3.278;
- Incluir membros da família: Se for do seu interesse, você pode solicitar o visto para seu parceiro legalmente reconhecido, filhos menores de idade, pais e irmãos dependentes;
- Seguro de saúde: É obrigatório ter um seguro de saúde válido em Portugal;
- Comprovação de acomodação: Você deve apresentar um comprovante de residência em Portugal;
- Custos: A taxa do visto é de aproximadamente US$ 250, além de outras despesas e taxas governamentais;
- Validade: O visto tem validade de um ano e pode ser renovado.
Para iniciar o processo, você deve entrar em contato com o consulado português ou um serviço especializado em imigração para garantir que sua aplicação seja feita corretamente.
6. Como os nômades digitais pagam impostos?
Cristiano Soares: Os nômades digitais pagam impostos no país onde possuem os laços residenciais mais significativos. Isso significa que, mesmo viajando constantemente, eles geralmente precisam declarar sua renda no país onde mantêm vínculos como casa própria ou alugada, cônjuge, filhos ou contas bancárias.
Se um nômade digital passar menos de 182 dias em um país estrangeiro, ele continuará pagando impostos apenas no seu país de residência fiscal. No entanto, se ele permanecer por mais de 182 dias em outro país, pode ser considerado residente fiscal nesse local e ser obrigado a pagar impostos lá.
Caso dois países o considerem residente fiscal ao mesmo tempo, pode ser necessário apresentar declarações de imposto em ambos. Para evitar a bitributação, é importante verificar os tratados fiscais entre os países envolvidos. Esses tratados podem permitir isenções ou créditos para impostos pagos no exterior. Se não houver um tratado fiscal entre os países, o nômade digital pode correr o risco de pagar impostos duas vezes sobre a mesma renda.
7. Quantos nômades digitais existem?
Um relatório de outubro de 2024 da plataforma de passagens aéreas Skyscanner estima que haja 40 milhões de nômades digitais em todo o mundo.
Fernando Kanarski: Esse número é incerto e até polêmico. Há uns dois anos, circulou o resultado de um estudo que dizia estimar um bilhão de nômade digitais em 10 anos. Quando o estudo foi divulgado, a estimativa considerava profissionais remotos, e não necessariamente nômades digitais.
Os nômades digitais são muito menos numerosos, tanto no Brasil quanto no mundo. Na minha experiência, vi que as comunidades de nômades digitais pelo mundo ainda são pequenas. Participo de diversas comunidades com outros nômades brasileiros e esses grupos não têm mais de 3 mil pessoas, sendo que a maioria é entusiasta, e não nômade ativo.
8. Quanto ganham os nômades digitais?
Fernando Kanarski: Segundo um estudo do Nomadic Club, clube de nômades digitais brasileiros, com o SinapSense, laboratório de neurociência da UFPR (Universidade Federal do Paraná), os nômades brasileiros ganham, em média, entre 4 e 10 salários mínimos. Cerca de 11% ganha mais de 20 salários mínimos por mês e, dentre eles, a maioria trabalha com TI ou marketing digital.
O ganho vai depender muito da formação, área e experiência, além dos destinos desejados, já que nômades que ficam no Brasil tendem a precisar de menos dinheiro do que nômades que querem explorar a Europa, o Oriente Médio ou a Oceania, por exemplo.
Cristiano Soares: O salário dos nômades digitais varia bastante dependendo da profissão e do nível de experiência. Um ponto em comum é que muitos brasileiros que adotam esse estilo de vida recebem seus salários em moedas fortes, como o dólar ou o euro, protegendo-se da volatilidade econômica do Brasil. Por exemplo, na plataforma da Deel, a estimativa salarial para um Engenheiro de Software Jr. é de mais de US$ 2.800, enquanto um Cientista de Dados pode ganhar mais de US$ 3.000.
9. Como se tornar um nômade digital sem experiência?
Cristiano Soares: O primeiro passo é identificar seus interesses e habilidades, pesquisar o mercado de trabalho remoto e adquirir as competências mais demandadas por meio de cursos online e projetos pessoais, construindo um portfólio que demonstre suas capacidades. Paralelamente, é crucial preparar suas finanças, economizando dinheiro e criando um orçamento detalhado, além de buscar múltiplas fontes de renda para garantir segurança financeira. Escolha um destino acessível com baixo custo de vida, boa infraestrutura e uma comunidade ativa de nômades digitais para facilitar a adaptação. Construa sua presença online através de um site e redes sociais, fazendo networking com outros profissionais da área.
10. Um nômade digital realmente pode trabalhar na praia?
Fernando Kanarski: Esse é um mito que se criou devido a vários nômades compartilharem fotos nas redes sociais. É muito desconfortável trabalhar na praia, principalmente pelo aquecimento de aparelhos eletrônicos sob o sol e o risco de estragar o equipamento pela areia e maresia. A maioria vai de laptop para a praia mais para fazer um ensaio fotográfico do que realmente trabalhar. No máximo, alguns acabam resolvendo coisas simples, como responder alguns e-mails.
Por incrível que pareça, tanto eu quanto a maioria dos nômades que conheço acabam trabalhando mais de seus quartos de hotel ou apartamentos de Airbnb do que da praia, cafés ou coworkings. Na minha rotina de trabalho, fico “em casa” de terça a quinta para focar no trabalho, enquanto nas segundas e sextas, quando tenho tarefas mais simples, vou para cafés, praças, praias ou coworkings. Nesses casos, vou fazer coisas mais simples, como revisar tarefas, ler e responder e-mails ou planejar coisas para a semana.
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