“O Agro Não Deve Entrar em Polarizações. Comércio É Comércio”, Diz o Presidente da Faemg

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À frente da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (FAEMG), Antonio de Salvo comanda uma das mais importantes entidades representativas do agronegócio brasileiro. Engenheiro agrônomo, produtor rural e quarta geração de uma família ligada ao campo, Salvo lidera a federação que concentra mais de 400 sindicatos rurais do país, o maior número entre as entidades ligadas à Confederação Nacional da Agricultura e Pecuária (CNA).

Minas Gerais é o segundo maior PIB agropecuário do Brasil, com estimados R$ 70 bilhõe em 2024, atrás apenas de São Paulo, de acordo com o IBGE. O estado lidera a produção leiteira nacional, cerca de 9,7 bilhões de litros, ou 26% do total do país. Na pecuária de corte é dono do quarto maior rebanho, com 24 milhões de animais. É o maior produtor de café do Brasil e do mundo, com forte predominância do tipo arábica. Na safra de 2024 foram 30,5 milhões de sacas.

A produção de soja e milho tem crescido, principalmente nas regiões do Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba, com área próxima de 2 milhões de hectares e produção estimada em 7,2 milhões de toneladas. No ano passado, Minas exportou US$ 17,2 bilhões em produtos agro, ante US$ 14,4 em 2023. O café foi responsável por cerca de 50% desse total, seguido por carnes, soja, açúcar, milho e frutas.

Com um mandato iniciado em meio a cenários desafiadores – que termina neste ano e com possibilidade de reeleição já aceita –, Salvo tem se dedicado integralmente à representação institucional, política e técnica do setor. Não por acaso, ele deixou toda a gestão das fazendas para o filho. Sua missão, segundo ele, é propor soluções para questões estratégicas como comércio exterior, sanidade animal, tecnologia e sustentabilidade.

Em entrevista à Forbes Agro, Salvo falou sobre a economia mineira e nacional, as novas tarifas dos Estados Unidos sobre produtos agrícolas, o reconhecimento do Brasil como livre de febre aftosa sem vacinação, os gargalos da pecuária leiteira, além das cadeias produtivas com maior potencial de atração de investimentos em seu estado. Confira:

O tema do momento que está na mesa são as tarifas impostas pelos EUA. Como o senhor avalia o impacto sobre o agronegócio mineiro?

Estamos atentos, mas tranquilos. Minas Gerais tem uma gama diversificada de produtos e, no caso das tarifas, o Brasil ficou entre os países menos afetados. O café, por exemplo, pode até ganhar espaço se outras origens forem mais taxadas. Nosso posicionamento é claro: o agro não deve entrar em polarizações políticas. Comércio é comércio.

A Confederação Nacional da Agricultura (CNA) divulgou uma nota técnica defendendo a reciprocidade nas negociações. A FAEMG apoia essa linha?

Totalmente. Temos conversado com a senadora e ex-ministra da agricultura Tereza Cristina e outras lideranças. É fundamental saber negociar, equilibrar as cadeias produtivas e garantir margem para todos. O agronegócio precisa estar cada vez mais alinhado com práticas modernas de negociação internacional.

Recentemente, o Brasil foi reconhecido como livre de febre aftosa sem vacinação. Qual o significado disso para a pecuária mineira?

É espetacular. Foram décadas de trabalho para alcançar esse status, que abre novos mercados e reforça nossa imagem sanitária. Mas também é um alerta: precisamos avançar em melhoramento genético e na produção de carne premium. Por isso, vamos realizar em setembro o Congresso Nacional da Carne, em Belo Horizonte, para discutir qualidade, produtividade e preparar o setor para o futuro.

Como enfrentar esse desafio?

Precisamos de uma pecuária mais precisa. Hoje, mais da metade do nosso rebanho de fêmeas é coberto por boi sem qualquer melhoramento genético. Quando introduzirmos uma dose mínima de tecnologia e genética, o salto será enorme. Mas isso exige conscientização, planejamento e investimento.

Minas também é um estado forte no leite, mas de pequenos produtores. Quais são os principais desafios locais?

Temos cerca de 220 mil produtores de leite, a maioria pequenos, com baixa produtividade. Nosso desafio é levar tecnologia a esse público. Com assistência técnica, já conseguimos aumentar a produção de muitos deles sem necessidade de expansão física. Além disso, estamos desenvolvendo o projeto “Leite com Café”, que integra a produção de café conilon nas propriedades leiteiras, oferecendo uma nova fonte de renda.

Em outros países houve uma concentração gigante de produtores, como na Argentina e EUA, por exemplo, tirando os pequenos da cadeia. O senhor acredita que, no Brasil, é possível evitar isso?

É possível, mas depende de assistência técnica e vontade do produtor. Já mostramos que, com orientação, um pequeno produtor pode multiplicar sua produção sem grandes investimentos. Mas sabemos que nem todos vão permanecer. É um processo natural, mas nosso papel é oferecer caminhos.

O projeto “Leite com Café” é uma alternativa viável para manter os pequenos produtores no campo?

Sem dúvida. Esse arranjo produtivo é uma forma inteligente de garantir renda adicional para os pequenos produtores. Não podemos simplesmente deixar 200 mil famílias sem alternativa. Quem quiser ser salvo — como eu brinco com meu sobrenome — precisa estar disposto a adotar tecnologia e diversificar.

Quais cadeias produtivas estão atraindo mais investimentos no estado?

Soja e cana seguem fortes no Triângulo Mineiro e Alto Paranaíba. A laranja cresce pela ausência de greening. Também temos expansão em florestas plantadas, cafés especiais, queijos artesanais e até azeite de oliva, com produções premiadas na Serra da Canastra. Pela primeira vez, o agro superou a mineração nas exportações de Minas, e acredito que esse movimento veio para ficar.

Esse crescimento do agro frente à mineração é pontual ou estrutural?

É estrutural. A diversidade produtiva de Minas é enorme. O café puxou a fila, o café foi decisivo, mas outras cadeias estão ganhando força. O estado tem um potencial gigantesco em nichos de alto valor agregado, com frutas, mel, azeite, cacau e muito mais. Além disso, o apoio do governo estadual, especialmente no que diz respeito à segurança jurídica, tem sido fundamental.

Nas cadeias produtivas consolidadas, o que o senhor destacaria como promissoras?

Além da soja, cana, laranja e florestas plantadas, temos o avanço dos cafés especiais, a valorização dos queijos artesanais e o surpreendente crescimento da produção de azeite na Serra da Canastra.

Para as exportações, quais mercados a FAEMG está de olho?

A Ásia é o grande foco, especialmente China e, no futuro, Índia. Também trabalhamos nichos específicos, como mel e cafés especiais para a Europa e Portugal. Agora, com o status sanitário, vamos buscar novos mercados de carne, como Coreia do Sul e Japão.

E como o senhor vê a questão ambiental, especialmente frente às críticas internacionais sobre desmatamento?

O Brasil preserva 66% do seu território. Usamos pouco mais de 9% para agricultura e cerca de 20% para pecuária. Temos o código florestal mais rígido do mundo. O problema é que comunicamos mal essas informações. Mas, aos poucos, o mundo começa a entender que essas narrativas negativas não correspondem à realidade.

Se o senhor pudesse resumir o futuro do Brasil em uma frase, qual seria?

Precisamos continuar mostrando à sociedade a importância do agro com pautas positivas e otimismo. O setor merece ser valorizado, e é nosso papel reforçar essa imagem. Não existe país com mais oportunidades que o Brasil.Precisamos apenas de equilíbrio político e visão estratégica para aproveitar nosso potencial, corrigir desigualdades e entender que agricultura e pecuária são motores fundamentais desse processo.

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