Mulheres com carreiras executivas, construídas em corporações do agro, ainda são raras
A administradora Ana Claudia Cerasoli assumiu ontem (1), o cargo de presidente no Brasil de uma das principais empresas multinacionais do agro que atuam no país, a norte-americana Corteva, de produtos químicos, sementes e biológicos, presente em 60 países e com receita de US$ 400 milhões estimada para 2022, ano ainda sem contas fechadas. Cerasoli é uma das pouquíssimas mulheres que chegaram aos cargos de CEOs, presidentes e diretoras de empresas do agro, em carreiras executivas construídas exclusivamente no mundo corporativo.
O setor não é uma ilha e reflete o que ocorre na sociedade, mas deveria apertar o passo. Não há uma pesquisa específica para as carreiras de alto comando no agro, mas um estudo geral da Deloitte, apresentado no final do ano passado, denominado Women in the boardroom, dá uma mostra de cenário a partir de dados de cerca de 10 mil empresas de 51 países, incluindo o Brasil. Nela, está um fato fácil de ser verificado no dia a dia das corporações: quantas mulheres executivas de alto comando você conhece, ou de quem ouviu falar, que exerce esse tipo de cargo? São raras, de modo geral. No mundo, elas ocupam 5% das posições, despencando para 1,2% no Brasil, entre todos os setores da economia. O país está na 39ª posição no ranking, com 51 empresas analisadas.
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No agro, o cenário parece um funil ainda mais apertado. Há um movimento crescente de lideranças, mas ele é capitaneado pelas sucessoras dos negócios familiares, em sua maioria. Fora desses negócios há outras duas áreas: a política, com poucas mulheres em cargos de comando em entidades do setor, como associações, federações e sindicatos rurais, e nas empresas, embora para cargos em departamentos e gerências a presença feminina nas corporações venha aumentando gradativamente na última décadas. Entre elas, poucos avançam.
Livia Mandelli, professora da Fundação Dom Cabral, uma expert em comportamento e liderança, autora de dois livros, consultora e fundadora da Alma, uma aceleradora de liderança feminina, diz que, de fato, nas “questões de liderança feminina, o agro é um recorte minúsculo porque ele é um mundo à parte ainda.” Segundo Mandelli, há duas vertentes nas carreiras executivas no setor. A primeira é o ambiente. “A mulher tem vontade de ascender na carreira, mas isso não significa que ela vai crescer”, afirma. E aí entra a segunda parte, que Mandelli chama de coragem e organizacional, um pacote que inclui “a capacidade dessa mulher lidar com todas as vertentes de vieses inconscientes de comportamentos, que no caso do agro, podem ser determinados até por regiões”, pela extensão do setor.
Na construção de uma carreira executiva, ela atenta também para a desistência da jornada. Uma pesquisa da McKinsey, de 2022, mostra que 29% das mulheres e 22% dos homens em cargos de comando largam seus postos. “O número de desistentes mulheres já é alto em empresas que não são do agro. Tenho a sensação de que no agro, um ambiente predominantemente masculino, essa pressão poderia estar mais presente.”
Mandelli diz que cabe às empresas preparar o ambiente e promover educação de modo geral para os talentos. “A gente não precisa mais trabalhar com empoderamento feminino, o que a gente precisa trabalhar é a conscientização da sociedade sobre quem são essas mulheres dentro das organizações”, afirma. Ela diz que não gosta de generalização, mas as mulheres que chegam ao topo possuem três características em comum: autoconhecimento, resiliência emocional e coragem. “Elas se conhecem, sabem os limites, suas potencialidades e trabalham fortemente seus próprios comportamentos”, afirma. “Na resiliência trabalham o tipo, a pressão e o que desejam para a vida. E coragem, porque os enfrentamentos são na vida profissional, física e espiritual.”
Quem são elas? A Forbes separou e destaca, além de Ana Claudia Cerolosi, outras quatro mulheres que chegaram ao principal cargo das empresas em que atuam. Confira:
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