Dólar Volta Aos R$ 6: Como a Guerra Comercial Está Impactando o Câmbio

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No início de dezembro, o dólar à vista alcançou uma marca amarga pela primeira vez na história: a casa dos R$ 6. Naquela ocasião, o ajuste fiscal abaixo do esperado e os planos do governo de isentar o imposto de renda daqueles que ganham até R$ 5 mil. Durante a crise de credibilidade do governo, o dólar nominal bateu seguidos recordes e se aproximou da casa dos R$ 6,30, mas, desde janeiro, o ambiente interno mais favorável levou a moeda a se estabilizar mais uma vez na casa dos R$ 5. 

Ontem (09), no entanto, o dólar à vista voltou a ultrapassar o patamar psicológico dos R$ 6 pela primeira vez desde meados de janeiro. Agora, p vilão da pressão agora é outro. 

Uma guerra comercial que antes era apenas uma promessa de campanha do presidente americano Donald Trump, agora se tornou realidade — e em proporções muito maiores do que as imaginadas até mesmo pelos mais pessimistas. 

No dia 2 de abril, batizado de Dia da Libertação por Trump, o governo americano anunciou uma tarifa mínima de 10% para todos os países que negociam com os Estados Unidos e uma taxa ainda maior para nações com um superávit comercial significativo com relação aos EUA — a China, por exemplo, foi atingida por uma sobretaxa de 54% ao somar as tarifas recíprocas e os 20% anteriormente estabelecidos. 

Nos últimos dois dias, um capítulo ainda mais dramático da Guerra Comercial começou a se desenrolar. Descontente, a China cumpriu a sua promessa de retaliar as tarifas aplicadas. Trump, por sua vez, elevou a sobretaxa chinesa para 104%. Nesta manhã, o país asiático também aumentou os impostos de importação para os Estados Unidos: 84%. Está no ar um cabo de guerra que não tem previsão de acabar. 

Desde o anúncio inicial, os mercados globais estão enfrentando uma sangria digna do auge da crise do subprime, em 2008. As projeções de uma potencial recessão enfraquecem o dólar. Mas então, porque a moeda americana volta para o patamar dos R$ 6 por aqui? 

Brasil no meio de campo

No mercado brasileiro, a primeira reação imediata aos anúncios de Trump foi uma “celebração” do mercado acionário. Por aqui, o Ibovespa se manteve praticamente estável enquanto Wall Street, a Europa e as bolsas asiáticas afundavam. O motivo? A tarifa de 10% aplicada ao país estava muito abaixo do que os cerca de 20%. Mas, como pontuou Celson Placido, estrategista da Warren Investimentos, “não conseguimos viver em uma ilha, isolado por conta da globalização e investimento”. 

A questão é que a Guerra Comercial atual não se restringe apenas ao impacto dos 10%. China e Estados Unidos são os dois principais parceiros comerciais do Brasil e, um enfraquecimento conjunto das duas economias, é sinal de más notícias para a balança comercial local. Ou seja: menos dólares entrando no país. 

Placido explica que com a aversão ao risco tomando conta do cenário, a tendência é uma menor exposição de capital a países emergentes ou que possam ser fortemente impactados — como o Brasil. A forte dependência da bolsa brasileira, por exemplo, é um fator que acelera a fuga de capital, já que  é amplamente dependente de commodities como minério de ferro e petróleo. No momento, o barril do Brent se encontra nas mínimas dos últimos quatro anos. 

Diego Costa, head de câmbio para o Norte e Nordeste da B&T XP, aponta que a pressão no câmbio ocorre mesmo com um cenário doméstico relativamente melhor ao observado nos últimos meses. “O resultado primário do setor público em fevereiro surpreendeu positivamente, e a primeira prévia do IGP-M de abril mostrou desaceleração da inflação medida pela FGV. Ainda assim, o ambiente internacional fala mais alto no câmbio, e os investidores passam a reprecificar o risco, especialmente diante da valorização dos juros dos Treasuries e da queda das commodities”. 

Para Costa, a escalada das tensões dificulta qualquer tentativa de traçar cenários com maior precisão. “Em situações assim, o câmbio passa a ser guiado menos por fundamentos e mais por percepção de risco e fluxos globais”, conclui. Placido, da Warren, acredita que o dólar poderia rondar a faixa dos R$ 5,50 se a Guerra Comercial não fosse um problema a ser enfrentado neste momento. 

Fed na corda bamba

Em poucas palavras, o movimento do câmbio no Brasil está calcado na aversão ao risco global — e a consequente busca por mais dólar para se proteger de um cenário adverso — e o impacto na balança comercial com os seus dois principais parceiros em “guerra”. Mas, lá fora, é o Fed que traz uma incerteza maior sobre os rumos do dólar. 

Com a aposta crescente em uma recessão, a tendência é que a moeda americana se desvalorize. No entanto, há quem acredite que isso fará com que o Federal Reserve corte juros para estimular a economia. Caso esse cenário se concretize, a tendência é que o dólar volte a se fortalecer.
No entanto, as coisas não são tão simples. O principal objetivo do Banco Central é o controle da inflação e, nos Estados Unidos, ela segue acima da meta estabelecida pelo Fed. Ou seja, o BC americano está encurralado. 

No Bradesco BBI 11th Brazil Investment Forum, realizado nesta manhã (09), o CEO do Bradesco Banco de Atacado, Bruno Boetger, comentou a situação. 

“A gente acredita que o que vai prevalecer é o crescimento mais baixo [dos EUA]. O Federal Reserve vai ter que optar por uma lógica de menor crescimento, por isso vai baixar juros. São dois efeitos conflitantes”, aponta. 

Se boa parte do mercado seguir acreditando que esse é o caminho a ser seguido, a tendência é que a busca por refúgio no dólar siga crescendo — para muito além dos R$ 6. 

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