Como as Tarifas de Trump Afetam até Mesmo Países Onde Ele Fecha Negócios

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Todo mundo sabe que Donald Trump gosta de fazer negócios, e ele vem firmando acordos ao redor do mundo há anos. A Trump Organization estampou o nome de Trump em hotéis, campos de golfe e edifícios residenciais de luxo em mais de uma dúzia de países. O anúncio mais recente: uma torre comercial em Pune, na Índia, feito cerca de um mês após o primeiro-ministro indiano, Narendra Modi, ser um dos primeiros líderes internacionais a visitar Trump na Casa Branca.

A guerra comercial iniciada por Trump em 2 de abril com uma avalanche de novas tarifas americanas tem potencial para impactar sua constelação internacional de empreendimentos. Esse impacto não vem exatamente das tarifas em si — ele não fabrica produtos no exterior para exportar aos Estados Unidos — mas sim da enorme incerteza econômica e instabilidade que essas medidas provocam ao desorganizar a ordem comercial global. “Saímos do impacto direto das tarifas para uma destruição da demanda, e isso é muito mais relevante”, explicou Michael Bellisario, analista do setor hoteleiro da Baird, no início da semana.

Se essa destruição de demanda persistir, a indústria do turismo — que já vem mostrando sinais de enfraquecimento nos EUA em meio às políticas de Trump sobre imigração e vistos estudantis — também será atingida no mundo todo. “Em relação a muitos outros gastos, viagens são mais discricionárias”, observa Bjorn Hanson, consultor da indústria de hospitalidade. Os empreendimentos de Trump, como seus campos de golfe na Escócia e na Irlanda, podem ser especialmente prejudicados se uma recessão econômica for atribuída às suas políticas.

Sem muita surpresa, todos os 13 países (incluindo dois da União Europeia) onde Trump faz negócios sinalizaram alguma disposição para negociar com os EUA, o que significa que todos se beneficiaram de uma pausa de 90 dias em algumas tarifas. Os EUA, na verdade, têm superávit comercial com seis desses países, o que fez com que fossem atingidos apenas pela tarifa mínima de 10%. Em contraste, Trump não possui empreendimentos de marca na China, que enfrenta os EUA em um impasse tarifário, deixando os mercados globais em alerta.

Trump tem exposição limitada nesses negócios, o que significa que serão seus parceiros internacionais, e não ele diretamente, que sentirão os impactos negativos. Isso porque a maioria dos chamados “empreendimentos Trump” se baseia em contratos de licenciamento e gestão, nos quais o proprietário paga para usar o nome de Trump no prédio e, em alguns casos, para que sua equipe o administre.

Os projetos que ainda estão em fase de planejamento ou construção — como os desenvolvimentos previstos no Vietnã e na Arábia Saudita — podem ser os mais afetados, sofrendo atrasos devido à incerteza macroeconômica. Ainda assim, os acordos de Trump dificilmente vão desmoronar em breve, diz Hanson. “As pessoas que mais odeiam Donald Trump não têm mais acordos de licenciamento com ele”, afirma. “O risco de queda é limitado.”

Abaixo está a lista completa dos países onde Donald Trump possui empreendimentos ou assinou contratos de licenciamento, e como cada um está sendo afetado pelas tarifas anunciadas inicialmente, que estão suspensas por 90 dias. Enquanto isso, a tarifa “básica” de 10% continua em vigor.

Vietnã
Tarifa no “Dia da Libertação”: 46%
A Trump Organization anunciou um acordo com a Kinh Bac City Development, um conglomerado imobiliário vietnamita, em outubro. O projeto, avaliado em US$ 1,5 bilhão (R$ 8,7 bilhões), deve incluir campo de golfe, hotel e imóveis residenciais na província de Hung Yen, ao sudeste de Hanói. Ainda não está claro se as obras já começaram e, após o anúncio de tarifas elevadas por parte de Trump sobre o país, as ações da KBC despencaram 25%, antes de se recuperarem parcialmente com a notícia da suspensão. Em 4 de abril, Trump publicou na Truth Social que o Vietnã teria oferecido eliminar todas as tarifas sobre produtos dos EUA em troca de uma trégua.

Indonésia
Tarifa no “Dia da Libertação”: 32%
“O maior e o melhor” foi como o bilionário Hary Tanoesoedibjo descreveu à Forbes seu resort planejado em Bali, em 2017, dois anos após seu grupo MNC e a Trump Organization anunciarem uma parceria para abrir resorts em Bali e Lido. Hary e Trump têm muito em comum, desde as áreas em que enriqueceram (imobiliário e mídia) até suas ambições políticas, embora Tanoesoedibjo ainda não tenha se tornado líder do país. Uma década depois, o campo de golfe com a marca Trump em Lido está funcionando, mas a área ao redor segue em construção. O projeto em Bali parece ter fracassado, deixando trabalhadores locais sem pagamento. Trump não declarou renda de nenhum dos dois em sua última prestação de contas financeiras. Quanto à guerra comercial, a Reuters informou que a Indonésia ofereceu aumentar suas compras de energia e produtos agrícolas dos EUA em troca de uma redução tarifária.

Índia
Tarifa no “Dia da Libertação”: 26%
O país mais populoso do mundo também concentra o maior número de projetos da marca Trump fora dos EUA. A Forbes estimou que o ex-presidente recebeu quase US$ 1 milhão (R$ 5,8 milhões) em 2023 com contratos de licenciamento em torres de Mumbai e Gurgaon, embora as torres em Calcutá e Pune não pareçam gerar receita para ele. O site da Trump Organization ainda lista diversos projetos como “em breve”, incluindo um novo empreendimento comercial em Pune, anunciado no mês passado. O governo indiano — liderado por Modi, aliado de Trump — tem evitado retaliar os EUA pelas tarifas e estaria buscando um acordo para reduzi-las.

Coreia do Sul
Tarifa no “Dia da Libertação”: 25%
A Coreia do Sul está optando pela via diplomática. “O MELHOR TIME deles já está a caminho dos EUA, e as coisas estão indo bem”, publicou Trump na Truth Social no mesmo dia em que suas tarifas sobre produtos sul-coreanos entraram em vigor (e logo foram suspensas). Apesar de ter criticado a presença de tropas americanas no país, Trump tem uma longa relação com a Coreia do Sul. Nos anos 1990, licenciou seu nome para seis torres construídas pela Daewoo, que depois faliu na crise financeira asiática. Trump não declarou receita desses empreendimentos em seu último relatório financeiro, mas imagens do Google Street View mostram seu nome ainda estampado nos prédios até 2018. A ligação com a Daewoo gerou polêmica entre seus mandatos, quando documentos revelaram que ele devia US$ 19,8 milhões (R$ 115 milhões) à empresa ao ser eleito presidente, dívida que não foi divulgada oficialmente.

União Europeia (França, Irlanda)
Tarifa no “Dia da Libertação”: 20%
Trump é proprietário de dois imóveis em territórios da União Europeia. Seu campo de golfe em Doonbeg, na Irlanda, teve lucro de US$ 500 mil (R$ 2,9 milhões) em 2023, com receita de cerca de US$ 16 milhões (R$ 92,8 milhões). Ele também aluga sua mansão em Saint Martin, ilha caribenha sob jurisdição francesa, por US$ 60 mil (R$ 348 mil) por semana na alta temporada. O bloco europeu planejava retaliar, mas suspendeu as medidas depois que Trump adiou o aumento das tarifas.

Filipinas
Tarifa no “Dia da Libertação”: 17%
O nome de Trump está em um dos prédios mais altos de Manila, capital das Filipinas. A torre de apartamentos de luxo foi inaugurada durante o primeiro mandato dele, e por vários anos ele declarou ganhos entre US$ 1 milhão e US$ 5 milhões (R$ 5,8 milhões a R$ 29 milhões) com royalties — valor que caiu para zero em sua divulgação mais recente. As Filipinas, ex-colônia dos EUA cujo povo tradicionalmente mantém alta aprovação ao país, estariam tentando negociar tarifas em conjunto com outras nações do sudeste asiático.

Omã
Tarifa no “Dia da Libertação”: 10%
Na véspera do debate decisivo com Joe Biden, em junho de 2024, a Trump Organization anunciou um contrato de licenciamento com a DAR Global, empresa de luxo sediada em Dubai, para construir um resort de golfe em Mascate, capital de Omã. O projeto à beira-mar terá 140 quartos e está previsto para 2028, mas já rendeu US$ 2,5 milhões (R$ 14,5 milhões) a Trump, provavelmente em taxas de licenciamento. Omã, que tem um acordo de livre comércio com os EUA desde 2009, será pouco afetado pelas novas tarifas, segundo autoridades locais, já que produtos de petróleo e gás estão isentos.

Arábia Saudita
Tarifa no “Dia da Libertação”: 10%
Em dezembro, a parceria de Trump com a DAR Global se expandiu para Jeddah, principal porto da Arábia Saudita, que em breve terá uma torre residencial de 47 andares com a marca Trump. A capital, Riad, também deve receber um projeto da marca, embora os detalhes ainda sejam escassos. “O que posso dizer é que uma delas com certeza será uma torre”, disse Eric Trump à Reuters. O mercado acionário saudita caiu cerca de 7% com o anúncio das tarifas, antes de se recuperar com a suspensão, e a queda nos preços do petróleo pode representar ameaça à economia regional.

Turquia
Tarifa no “Dia da Libertação”: 10%
A Trump Tower Istambul foi inaugurada em 2014; menos de dois anos depois, após Trump propor proibir a entrada de muçulmanos nos EUA, seus parceiros turcos, a família Dogan, tentaram cancelar o contrato de licenciamento. Não conseguiram, e a Forbes estima que Trump faturou cerca de US$ 300 mil (R$ 1,74 milhão) em 2023 com o negócio. No dia seguinte ao anúncio das tarifas, o ministro das Finanças do país afirmou que a taxa mais baixa imposta à Turquia poderia dar ao país uma vantagem competitiva em relação a nações mais afetadas.

Emirados Árabes Unidos
Tarifa no “Dia da Libertação”: 10%
O primeiro clube de golfe com a marca Trump em Dubai foi inaugurado em 2017, menos de um mês após sua posse, e rendeu a ele cerca de US$ 3,5 milhões (R$ 20,3 milhões) em 2023 em taxas de licenciamento e gestão. Um segundo clube, com campo projetado por Tiger Woods, deveria ter sido inaugurado logo depois, mas vem sofrendo atrasos. Sem se abalar, a Trump Organization anunciou, em julho, um terceiro projeto nos Emirados, desta vez um hotel com apartamentos, novamente com a DAR Global. A bolsa de Abu Dhabi caiu após o anúncio das tarifas, mas já recuperou parte das perdas.

Reino Unido
Tarifa no “Dia da Libertação”: 10%
Trump é dono de dois campos de golfe na Escócia: Aberdeen e Turnberry. O primeiro teve prejuízo de US$ 1,7 milhão (R$ 9,86 milhões) em 2023, último ano com dados disponíveis, mas Turnberry lucrou US$ 4,7 milhões (R$ 27,3 milhões), compensando a perda. O superávit comercial dos EUA com seu ex-colonizador garantiu ao Reino Unido a tarifa mais baixa, mas o índice FTSE 100 segue em queda de 8% até quinta-feira. O primeiro-ministro Keir Starmer sinalizou uma abordagem mais cautelosa que a de outros líderes europeus: “Minha intuição é que não devemos nos apressar para retaliar”, disse a membros do Partido Trabalhista nesta semana.

Uruguai
Tarifa no “Dia da Libertação”: 10%
O único empreendimento da marca Trump na América Latina foi anunciado em 2012, mas as obras teriam parado durante o primeiro mandato de Trump. A imprensa local informou que o prédio foi inaugurado em 2022, em uma cerimônia com a presença do presidente do Uruguai, mas segue inacabado. Mesmo assim, gerou cerca de US$ 600 mil (R$ 3,48 milhões) para os negócios de licenciamento de Trump no ano passado. Assim como muitos países menores, o Uruguai está buscando negociar para reverter as novas tarifas.

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