Arte e Reforma Tributária: o Que nos Espera?

  • Autor do post:
  • Tempo de leitura:8 minutos de leitura

Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.

Entre os muitos trabalhos de arte que analisam e criticam a sociedade brasileira criados pelo pernambucano multimídia Paulo Bruscky está “O que nos espera” (2020). Sobre uma bandeira nacional de papel recortada, o prolífico e politizado Bruscky colou sobre ela a pergunta contundente. A indagação vem a calhar neste momento em que o setor de artes visuais se encontra na iminência de ser impactado pela reforma tributária em curso, com uma expectativa de aumento de cerca de 83% na atual carga tributária, ameaçando não apenas um setor vital para a economia, mas também os próprios artistas, que desempenham um papel indispensável na conexão e transformação da sociedade.

A arte transcende o mundo das galerias, feiras e museus. É uma força essencial na construção da identidade cultural, na geração de empregos e na promoção do soft power brasileiro no cenário global.

Leia também

Forbes Collab

Arte Explodida de André Griffo

Forbes Collab

A arte de Carlito Carvalhosa: paradoxo poético

Forbes Collab

Galeria Nara Roesler celebra 10 anos no Rio

Os artistas não são apenas criadores de beleza ou objetos de contemplação, são narradores do nosso tempo, críticos sociais e agentes de mudança. Por meio de suas obras, traduzem os anseios e desafios da sociedade, promovem debates necessários e inspiram novas perspectivas. Apesar disso, o setor artístico, em especial as artes visuais, enfrenta o risco de ser excluído do regime especial previsto na reforma para o setor da cultura. Na Emenda Constitucional nº 132 da reforma tributária estão incluídas as produções artísticas e culturais nacionais entre as atividades que mereceram o tratamento diferenciado das alíquotas de CBS e de IBS, reconhecendo a importância de setores como a cultura, saúde e educação para o país.

No entanto, no seu texto atual o Projeto de Lei Complementar 68, que vem regulamentar a reforma, contempla somente parte do setor cultural brasileiro, focando em elementos ligados apenas em serviços, como os setores de eventos e audiovisual, mas exclui o setor de artes visuais do regime diferenciado, pois não inclui operações com bens, ou seja, a compra e venda de obras de arte. É preciso deixar claro que os artistas visuais não prestam serviços e, sim, produzem obras de arte. Nesse sentido, é fundamental que todo o setor cultural tenha isonomia de tratamento na reforma e as operações com bens sejam igualmente contempladas.

Erika Mayumi/Cortesia Galeria Nara Roesler

Amelia Toledo, Periscópio 1976, detalhe, moldagem de concha em resina poliéster exposta à ação do mar para formação de cracas e briozoários

A exclusão ocorre em um cenário onde países como Alemanha, França e Reino Unido já reconhecem a importância estratégica da arte, adotando políticas fiscais que fortalecem seus mercados culturais e geram benefícios econômicos. A Alemanha que em 2014, elevou o IVA para 19%, voltou atrás e a taxa foi reduzida para 7%. A França adotou a taxação de 5,5% e constatou o aumento de 2% a 7% da participação de obras francesas no mercado global de artes plásticas. O Reino Unido também apostou na tendência de diminuição do imposto, reduzindo a taxa de 20% para 5%, uma das menores do mundo. Outro país europeu que seguiu a tendência é a Bélgica que antes cobrava uma taxa de 21% e baixou-a para 6%. Os EUA, que detém o invejável quinhão de 42% do mercado mundial das artes visuais, aplicam um imposto de 7%. E em Hong Kong a taxa é zero. Sim, zero.

O Brasil, por outro lado, propõe uma alíquota de cerca de 26% para as artes visuais, o que significa um aumento de cerca de 83% na carga tributária atual, decisão que ameaça inviabilizar a sobrevivência de muitos artistas e galerias, além de comprometer todo o ecossistema cultural. Sem a inclusão no regime diferenciado, o setor pode retroceder décadas, restringindo o acesso à cultura e minando a competitividade internacional do mercado de arte brasileiro.

Flavio Freire/Cortesia Galeria Nara Roesler

José Cláudio da Silva, Sem título, 2006, tinta óleo sobre tela, 120X300cm

A economia da cultura e indústria criativa brasileira gera 7 milhões de empregos e movimenta R$ 230 bilhões por ano, que representa 3% do PIB nacional e depende de condições tributárias justas para prosperar e ampliar sua presença global, que hoje representa uma fatia de menos de 1% do mercado internacional de artes visuais.

A arte não é um luxo reservado a poucos, tampouco um mero objeto de especulação financeira. É um elemento transformador, capaz de aproximar pessoas, construir identidades e moldar sociedades mais humanas e conectadas. Preservar e incentivar a produção artística não é apenas uma questão de justiça tributária, mas um investimento estratégico no futuro do Brasil – na sua economia, na sua cultura e no seu lugar no mundo.

Flavio Freire/Cortesia Galeria Nara Roesler

Manoela Medeiros, Ruína, 2021, pintura e escavação sobre tela, 2 peças de 201X132X4,5cm

Alexandre Roesler

Sócio-diretor da Galeria Nara Roesler e tesoureiro da ABACT (Associação Brasileira de Arte Contemporânea)

Com colaboração de Cynthia Garcia, historiadora de arte, premiada pela Associação Paulista de Críticos de Arte (APCA) cynthiagarciabr@gmail.com

Nara Roesler fundou a Galeria Nara Roesler em 1989. Com a sociedade de seus filhos Alexandre e Daniel, a galeria em São Paulo, uma das mais expressivas do mercado, ampliou a atuação inaugurando no Rio de Janeiro, em 2014, e no ano seguinte em Nova York.

info@nararoesler.art
Instagram: @galerianararoesler
http://www.nararoesler.com.br/

Os artigos assinados são de responsabilidade exclusiva dos autores e não refletem, necessariamente, a opinião de Forbes Brasil e de seus editores.

Escolhas do editor

Escolhas do editor

Como o Pacote Fiscal Afeta Quem Ganha R$ 50 Mil por Mês?

Escolhas do editor

Brain Rot: Palavra do Ano é Alerta para Perda Cognitiva

Escolhas do editor

IBM Oferece Cursos Gratuitos de Computação em Nuvem

O post Arte e Reforma Tributária: o Que nos Espera? apareceu primeiro em Forbes Brasil.

Deixe um comentário