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Pesquisadores da Faculdade de Medicina da Universidade de São Paulo (FMUSP) publicaram em um dos mais importantes periódicos científicos do campo da nutrição, o Journal of Academy of Nutrition and Dietetics, suas descobertas sobre a relação do consumo de ultraprocessados com transtornos psicológicos.
De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), mais de 300 milhões de pessoas são afetadas pela depressão ao longo da vida, sendo a maior causa de incapacidade no mundo. Dra. Naomi Vidal Ferreira, pós-doutoranda da FMUSP e principal autora da pesquisa, explica que os ultraprocessados carecem de nutrientes essenciais para o funcionamento do cérebro, como “fibras, antioxidantes e vitaminas”, o que aumenta o risco da doença.
A cientista comenta que os alimentos podem ser divididos em quatro grupos principais: os não processados, como frutas, vegetais frescos e grãos, os ingredientes culinários, do sal ao açúcar, passando pelos óleos, os processados ou manipulados de forma industrial, “o figo em calda é um exemplo, assim como a carne seca e o queijo” e, por fim, os ultraprocessados, “nessa categoria estão os refrigerantes, salgadinhos, balas, embutidos e ‘instantâneos’”, finaliza.
“Quanto mais alimento ultraprocessado o indivíduo come, mais ele deixa de comer nutrientes essenciais. Só que, além disso, pela forma como eles são preparados, o consumo em si traz prejuízos para o corpo, como o aumento de processos inflamatórios e alterações na microbiota intestinal”, diz a pós-doutoranda.
O desequilíbrio do intestino pode impactar negativamente alguns mecanismos de outras partes do corpo, inclusive, do cérebro. A acadêmica discorre sobre a conexão existente entre estas duas regiões e alerta: “Isso pode levar a neuroinflamação e alterações na produção de neurotransmissores, além de reações como o estresse e, justamente, a depressão.”
A publicação liderada por Naomi, feita a partir da base de dados do Estudo Longitudinal de Saúde do Adulto (ELSA-Brasil), que acompanha desde 2008 a saúde de servidores públicos de Belo Horizonte, Porto Alegre, Rio de Janeiro, Salvador, São Paulo e Vitória, revelou que “aqueles que consumiam mais ultraprocessados no início do estudo apresentaram um risco 30% maior de desenvolver o primeiro episódio de depressão ao longo dos oito anos seguintes”.
Em uma comparação entre pessoas com um consumo baixo e alto de produtos alimentícios hiper industrializados, o estudo identificou que a ingestão recorrente oferece 58% mais chances de depressão persistente.
As consequências para a saúde pública no Brasil
Segundo pesquisas feitas pela Fiocruz, em parceria com a ACT Promoção da Saúde e a Vital Strategies, os ultraprocessados geram R$ 933,5 milhões em gastos anuais para o Sistema Único de Saúde (SUS). O valor chega a R$ 10,4 bilhões com custos indiretos e mortes prematuras, que são estimadas em 57 mil.
No Brasil, o consumo deste tipo de produto cresceu 5,5% entre 2013 e 2023, aponta um estudo do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde, divulgado pela Revista de Saúde Pública da Universidade de São Paulo.
“O ultraprocessado recebe aditivos com o objetivo de tornar o alimento mais palatável e saboroso. Por isso, tendemos a ingeri-los em excesso. Eu brinco que é muito mais fácil exagerar no hambúrguer do que na salada”, pontua a Dra. Naomi Vidal Ferreira.
Para além da composição química, alguns fatores socioeconômicos também impulsionaram os industrializados. A urbanização e o distanciamento da produção caseira de alimentos, comum em zonas rurais, a rotina agitada dos centros urbanos e a falta de tempo para o preparo de refeições e, preocupantemente, os preços cada vez mais acessíveis de “salgadinhos” e refrigerantes em detrimento de frutas e verduras.
“O alimento não deveria servir só para agradar. A gente deveria comer pensando no meio-ambiente, na saúde e no longo prazo”, adverte Ferreira.
Benefícios da diminuição de ultraprocessados
Em uma simulação computacional de cenários hipotéticos, a pesquisa apresentou evidências de que a substituição do consumo diário de ultraprocessados por alimentos minimamente processados pode reduzir o risco de depressão. “Observamos que com uma redução de 5% no consumo, o risco da doença cairia em 6%. Se essa substituição fosse de 10%, a diminuição seria de 11%”, conta a líder do estudo.
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