Afinal, Dá para Ter Uma Relação Saudável com as Redes Sociais?

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Não, porque as redes sociais foram idealizadas sobre mecanismos feitos para capturar a nossa atenção e porque elas têm uma natureza baseada no reforço. Os feedbacks positivos (uma curtida, um compartilhamento ou um comentário) naquilo que você postou mantêm você sempre engajado e querendo sempre repetir a boa experiência que você teve ali.

Também retornamos a elas porque ficamos presos à ideia de uma potencial recompensa futura. Se, por exemplo, tivéssemos certeza de que a foto ou o vídeo que acabamos de postar não teriam a menor chance de receber uma curtida ou de serem compartilhados, provavelmente nem teríamos ânimo para voltar ao nosso feed.

Mas como não sabemos ao certo quantas “curtidas” teremos, tendemos a nos manter presos a elas para buscar aquele possível resultado que desejamos. Além disso, todo mundo deseja receber um feedback positivo, algum tipo de validação e fazer parte de um grupo, não é mesmo?

Ou seja, esses mecanismos por trás das redes fazem com que quanto mais você ficar nelas, mais terá vontade de permanecer ali. Ao ponto de muita gente gastar uma parte significativa do seu dia nesses aplicativos.

Ademais, toda vez que perdemos um tempo rolando o nosso feed, somos bombardeados por todas as formas de conteúdo (de memes a vídeos e músicas), fazendo com que o nosso centro de recompensa do cérebro seja ativado pela liberação de uma substância ligada à sensação de bem-estar: a dopamina. Quase da mesma forma que uma nova paixão.

Acontece que toda vez que temos uma descarga de dopamina cerebral, tendemos a querer repetir essa experiência prazerosa. Esse é inclusive um dos motivos pelos quais algumas pessoas acabam se tornando dependentes de drogas e uma das razões pelas quais muitos voltam às mídias sociais o tempo todo: para realimentar esse sistema de recompensa baseado na dopamina.

Tudo isso o que acabo de trazer é prato cheio para problemas de saúde mental. Se você não recebe aprovação ou é excluído por alguém, pode ver-se ansioso e até deprimido. No bastasse isso, o uso exagerado das redes corrói o nosso foco e o nosso sono.

Dado todo esse cenário negativo, é possível relacionar-se de forma positiva com as mídias sociais?

Sim, com certeza. Não é preciso bani-las para sempre do seu celular, mas aprender a ser comedido, usá-las menos. A primeira dica então é: limite o seu tempo nas redes.

Ao restringir os momentos em que fica navegando por ali, você provavelmente terá a sensação de que se criou um vácuo. Mais ou menos a mesma coisa acontece quando tiramos o álcool de um dependente. Como reocupar esse “buraco”? Com vida real. Socializar online não é e nunca será a mesma coisa que socializar no mundo offline.

Se você só interage com seus amigos ou colegas de trabalho por meio das mídias sociais, que tal partir para a vida real e ampliar os momentos em que você está junto deles? Pode ser um cinema, uma sorveteria, um show, um happy hour, uma viagem no fim de semana. O importante é que a interação seja ao vivo e em cores.

Limite o uso delas de noite. Entrar nas redes sociais perto da hora de dormir pode afetar o seu sono. E sono ruim é sinal de saúde mental prejudicada. A luz azul emitida pelos dispositivos eletrônicos impacta negativamente o relógio biológico que regula os nossos períodos de sono e de vigília. Se nos expusermos à luz azul uma hora ou menos antes de nos deitarmos, a qualidade do nosso sono pode cair bastante.

Uma dica para manter uma relação saudável com as redes é, então, buscar configurar o modo “não perturbe” pelo menos uma hora antes de ir para a cama, para que você não seja perturbado por mensagens de texto ou notificações das redes sociais.

Que tal também fazer um teste e excluir os aplicativos de redes sociais por um dia ou por uma semana? Pode parecer impossível, mas eu garanto: desconectar-se completamente por um breve período pode ser libertador. É bem provável que, ao fim desse tempo, sua ansiedade tenha arrefecido e você se sinta melhor.

Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.

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