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“Essa transição vai acontecer de um jeito ou de outro”, disse Paul Behrens, professor global da British Academy, na Universidade de Oxford. Behrens estuda sistemas alimentares na Oxford Martin School, onde sua pesquisa se concentra na modelagem das interações entre produtores rurais e consumidores por meio do comércio, e em como reformas estruturais podem aumentar a resiliência das cadeias globais de suprimento de alimentos.
Falando na Conferência Oxford LEAP de 2025, realizada neste mês de abril, Behrens descreveu as crescentes pressões sobre os sistemas alimentares em todo o mundo. A agricultura e a pecuária, quando não bem manejadas, estão entre os principais motores de várias formas de degradação ambiental, incluindo emissões de gases de efeito estufa, perda de biodiversidade e poluição por nitrogênio. Ao mesmo tempo, a produção de alimentos está cada vez mais exposta aos efeitos do clima extremo, choques econômicos e limitações de recursos.
As evidências dessas pressões continuam a se acumular. No início deste ano, enchentes na Austrália submergiram uma área maior que o Reino Unido. Queensland, que produz quase metade do rebanho bovino australiano, registrou grandes perdas de gado. Esses exemplos ilustram um padrão mais amplo.
Avaliações econômicas em escala global, incluindo um artigo de trabalho publicado pelo Fundo Monetário Internacional, alertam sobre os efeitos inflacionários das secas induzidas pelo clima nos preços dos alimentos, e um estudo na revista científica Communications Earth & Environment estima que, sob os aumentos de temperatura global projetados para 2035, devemos esperar uma inflação anual de alimentos entre 0,92% e 3,23%.
Além dos choques episódicos, os riscos estruturais de longo prazo também estão se tornando mais claros. Um estudo de 2019 publicado na revista Agricultural Systems mostrou que a probabilidade de falhas simultâneas de safra em regiões agrícolas-chave aumenta significativamente sob cenários de aquecimento de 1,5 grau Celsius e 2 graus Celsius. Tais interrupções, quando afetam múltiplas regiões celeiros ao mesmo tempo, representam um desafio crescente para a estabilidade do comércio global de alimentos.
Em resposta a essas tendências, Behrens argumentou as dietas mais baseadas em vegetais, que muitas correntes alimentares colocam como aconselhável, provavelmente podem se tornar inevitáveis. Essa visão não está fundamentada na preferência do consumidor, mas em restrições biofísicas e modelagens econômicas.
Em todo o mundo, à medida que aumentam as demandas por terra, água e energia — e conforme se multiplicam os impactos das mudanças climáticas —, sistemas alimentares intensivos em recursos podem simplesmente se tornar inviáveis em larga escala. Análises como o relatório da Comissão EAT-Lancet sugerem que mudanças alimentares podem reduzir significativamente os impactos ambientais.
Trabalhos da equipe de Behrens acrescentam que tais transições também reduzem a intensidade de uso de terra, trabalho e capital na produção de alimentos. Esses fatores têm relevância econômica: muitos produtores operam com altos níveis de endividamento e dependem de infraestrutura cada vez mais exposta ao risco climático — condições que tornam o sistema mais sensível a interrupções.
Ele também destacou a importância da “sequência de políticas” — uma estratégia na qual as reformas são introduzidas de forma incremental, cada uma reduzindo as barreiras para a próxima. Exemplos podem incluir a revisão de subsídios agrícolas, o ajuste de políticas de compras governamentais ou o investimento em infraestrutura alimentar resiliente ao clima.
Segundo Behrens, ainda não está claro se a mudança alimentar ocorrerá por meio de reformas deliberadas ou por perturbações reativas, mas é inevitável. As pressões estruturais estão bem documentadas, e seus efeitos já são visíveis em termos físicos e econômicos. Gerenciar essa transição, sugeriu Behrens, provavelmente exigirá uma abordagem política de longo prazo que enfatize resiliência, equidade e redução de riscos.
Do ponto de vista das políticas públicas, uma implicação é clara: não antecipar esses riscos pode deixar os tomadores de decisão com menos opções — e opções mais caras — no futuro.
* John Drake é colaborador da Forbes EUA, professor e ecologista na Universidade da Geórgia, onde dirige o Centro de Ecologia de Doenças Infecciosas.
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