Eu decidi abrir minha empresa porque buscava alguma segurança. Achei engraçado quando me dei conta disso, anos depois de fundar o Atelier de Conteúdo, inicialmente sozinha e com um único projeto que me garantiria seis meses de contas pagas (e nenhum dinheiro guardado). Afinal, comumente, se associa empreendedorismo à tomada de alto risco. Adorava meu trabalho como repórter de uma revista de negócios conceituada, que me proporcionava a oportunidade de conhecer pessoas, mercados, assuntos que explicam as regras do mundo em que vivemos. Meus chefes e colegas eram inspiradores e agradáveis, e eu me sentia à vontade para aprender, realizar, conquistar.
Mas o mercado do jornalismo estava passando por uma transformação. Independentemente disso, eu sabia que por mais que estivesse tudo bem naquele momento, a situação poderia mudar de repente – como tudo na vida. A verdade é que nada garantiria o futuro do meu emprego, tão querido e aparentemente tão seguro.
Esse tipo de constatação foi a minha deixa. Uma possibilidade seria seguir uma carreira autônoma, como tantos colegas bem-sucedidos fazem. Mas não saber ao certo quanto iria entrar no fim do mês me afligia mais do que motivava. Foi quando empreender começou a se apresentar em minha mente como uma opção. A mais sólida delas.
Um astrólogo já havia me dito que eu era empreendedora. A definição fazia sentido, mesmo trabalhando para empresas que não eram minhas. Aprendi que há infinitas formas de realizar aquilo que nos expressa. Não estava preocupada se meu empreendimento era minha carreira, a partir de uma relação com meus empregadores que sempre considerei ganha-ganha.
O fato é que empreender foi se tornando o caminho natural. A maneira de construir minha vida profissional com o máximo de autonomia possível. Uma oportunidade de colocar em prática o que vi dar certo, tentar evitar o que vi dar errado e arriscar minhas hipóteses.
Comecei sonhando com moderação. Fiz um plano: deixar a redação e abrir meu negócio apenas quando houvesse um cliente. Essa seria a indicação concreta de que poderia haver um mercado a ser explorado. E também a maneira de pagar minhas contas e investir nos próximos passos do projeto (uma parceria, um site, um escritório). Não havia business plan nem números alvos para crescimento. Havia ideias claras do que eu era capaz de fazer no dia seguinte e que supunha ter valor para pessoas e empresas em busca de posicionamento, construção de reputação, compreensão das próprias narrativas e refinamento na comunicação com seus diferentes públicos.
Yogis, grandes empreendedores e mestres de outras sabedorias ensinam que o caminho certo geralmente é simples. O que não significa que seja fácil. Executar o simples com consistência e disciplina é uma arte admirável. Mais comum é nos perdermos em complicações que parecem inventadas só para nos livrar do trabalho da execução. Da monotonia que na vida real às vezes pode durar dias, semanas, meses, anos. Paixão passa. Euforia depois deprime. Construir é seguir em frente além dos picos de exaltação sem perder o foco e o entusiasmo.
Nunca tive medo de trabalho, então, mesmo com medo de muitas outras coisas, me joguei no simples. Fiz uma lista de atividades possíveis para minha também possível empresa, no aplicativo de anotações do meu smartphone e, assim, comecei a dar vida a um sonho que foi se tornando grande à medida em que experimentava a realidade.
Chegamos ao sexto ano do negócio que me transformou em empresária com pés no chão, cabeça cheia de ideias, um time dedicado, talentoso e leal e, o mais importante, saúde – emocional, intelectual, financeira.
Dentro do pouco que podemos controlar nesta vida, estou 100% comprometida com o projeto que hoje compartilho com muitas outras pessoas. E isso traz tranquilidade para lidar com incertezas, oscilações, mudanças de rota. Não importa se você empreende uma empresa, um emprego, uma carreira solo. Sempre dá para entregar para o mundo o melhor que puder. Por mais inseguro que seja tudo ao redor, é isso que traz alguma segurança em tempos especialmente voláteis.
Ariane Abdallah é jornalista, autora do livro “De um gole só – a história da Ambev e a criação da maior cervejaria do mundo”, co-organizadora do “Fora da Curva 3 – unicórnios e start-ups de sucesso” e fundadora do Atelier de Conteúdo, empresa especializada na produção de livros, artigos e estudos de cultura organizacional. Praticante de ashtanga vinyasa yoga, considera o autoconhecimento a base do empreendedorismo.
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