Um estudo publicado pela organização social voltada ao estímulo do setor, Softex, estima que o Brasil terá um déficit de cerca de 408 mil profissionais de tecnologia em 2022. A carência de mão de obra especializada é um problema para as empresas, que estão em busca constante por novos profissionais – e abrem oportunidades para quem quer fazer uma transição de carreira para a área de Tecnologia da Informação. “As empresas já perceberam que, se elas não contratarem pessoas em transição de carreira, elas simplesmente não têm quem contratar”, diz Paulo Silveira, CEO da plataforma de educação digital Alura.
As oportunidades não são restritas à profissionais que já atuam na área de exatas. E, apesar de ser importante para determinadas funções, a habilidade de fazer contas também não é um impeditivo. Quando falamos de soft skills, um dos pontos mais importantes para ingressar no setor é a capacidade de ter raciocínio lógico e analítico. “Pessoas interessadas por ciências, jogos de RPG ou quebra-cabeças podem se dar muito bem em TI”, diz Silveira.
A necessidade de conhecimento prévio em programação tampouco é um problema. Empresas como o Itaú, com o Bootcamp Itaú Devs, oferecem programas de capacitação em TI para pessoas que não são do setor. “Pouco importa onde uma pessoa se formou, ou quais são as credenciais dela. Nossas grandes prioridades no momento de avaliar um profissional são o perfil e os conhecimento em tecnologia”, diz Michel Lopes, CEO da consultoria de tecnologia Labsit.
Outra empresa que está adotando estratégia similar é a Fhinck. A startup de tecnologia realiza processos seletivos às cegas e sem pré-requisitos, avaliando apenas o perfil do candidato. Uma vez que contratadas, as profissionais são encaminhadas para um departamento específico, passando por um um treinamento que pode levar até dois anos, voltado para análise de dados e que gera conhecimentos que podem ser aplicados em departamentos diversos da empresa
Como realizar uma transição de carreira para TI?
Em um primeiro momento, o candidato à transição de carreira deve procurar a área que faça mais sentido de acordo com seu histórico profissional. Apesar das inúmeras oportunidades, algumas se destacam para o perfil de transição de carreira.
Confira quais são elas e suas respectivas expectativas salariais, de acordo com o Glassdoor:
Front-end: é a pessoa responsável por desenvolver sites. A área oferece facilidades que a tornam uma boa porta de entrada para TI, como não precisar de um computador muito bom ou saber como usar aplicações complexas. Profissionais de front-end costumam trabalhar em seu próprio navegador de internet. A remuneração inicial gira em torno de R$ 2,9 mil.
Análise de dados: é a pessoa responsável por extrair informações relevantes a partir de dados. Essa função envolve muitas ferramentas que já fazem parte do cotidiano de diversos setores, como as planilhas do Excel. A necessidade do analista de dados ser capaz de “contar uma história”, transformando os dados em informações de negócios, faz com que essa área absorva bem profissionais de humanas – especialmente da área de comunicação. Um analista de dados júnior ganha em média R$ 3 mil.
UX: é a pessoa responsável por desenvolver nossas ferramentas para o usuário. É esse o profissional que analisa a experiência dos clientes em um site e avalia a necessidade de alterações no layout da página ou da inclusão de novas funcionalidades, por exemplo. Para essa função, o grande atrativo é a baixa dependência da programação, permitindo a maior aderência principalmente de designers. A remuneração inicial do profissional de UX é de R$ 4 mil.
Gestão: é a pessoa responsável por gerir processos de metodologia ágil e produtos digitais. Essa é uma transição de carreira sênior, especialmente atraente para profissionais experientes nas áreas de negócios. A média salarial desse profissional é de R$ 6 mil.
Em até três anos, o profissional pleno pode ter salários de R$ 5 mil e R$ 14 mil.
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Capacitação e portfólio: mais importantes que um diploma
Definir a área de atuação é fundamental para o próximo passo da transição para TI: a capacitação, que deve ser direcionada para a função que você almeja ocupar. Apesar de existirem alguns fundamentos básicos, como o de lógica da programação para profissionais que querem atuar em desenvolvimento, a carreira de tecnologia geralmente exige conhecimentos bem específicos para cada uma de suas funções.
O especialista em UX na Accenture, Leon Sampaio, é um dos que realizaram esse movimento de transição e que precisou adaptar seus conhecimentos. Com formação em design, Sampaio começou sua carreira em agências de publicidade e estúdios especializados, até que as altas remunerações o fizeram se sentir atraído pelo mercado de TI. Apesar dos conhecimentos anteriores terem ajudado na nova posição em tecnologia, ele reforça a necessidade de se atualizar sempre que possível. “No meu caso, precisei desenvolver um bom tato com o público e entender como priorizar os usuários. Designers têm o costume de focar muito na parte de execução e acabam a colocando à frente do projeto. Mas, na área de UX, saber trabalhar bem com estudos e pesquisas te colocam numa boa posição. Logo, essa é outra habilidade que a gente precisa trabalhar.”
Para pleitear uma dessas posições, também é aconselhável que os profissionais busquem montar um portfólio com os projetos que já participaram. “Mostrar um portfólio vai ser muito mais levado em conta do que um diploma”, diz Michel Lopez.
Aquilo que vai ser incluído no portfólio não precisa ser necessariamente uma atividade realizada comercialmente, seja para uma empresa que você trabalhou ou em um freela. Aqueles que não possuem experiência na área podem colocar projetos autorais em seu portfólio. Plataforma especializadas, como o GitHub, oferecem soluções para profissionais que precisam de um lugar para colocar suas experiências.
Cursos técnicos podem complementar a formação
A forma que Leon Sampaio encontrou para se capacitar foi buscando por cursos e livros online. Plataformas como a própria Alura, de Paulo Silveira, oferecem programas de formação para pessoas que desejam ingressar na área. Também é possível achar cursos oferecidos para determinada área em específico, como um curso de front-end ou análise de dados.
No caso de Jefferson Alves, desenvolvedor na Qodeless, a alternativa encontrada para ingressar no mercado foi a realização de um curso técnico. Formado em logística, ele buscou oportunidades em TI após não conseguir um trabalho na sua área. “Nos quatro anos de faculdade, eu não consegui sequer um estágio. Agora, na tecnologia, consegui um emprego no terceiro semestre da formação”, diz.
Entre as vantagens de um curso técnico está a densidade do conteúdo, geralmente mais voltado à prática do que a teoria, e a duração da formação. Com tempo médio de conclusão de dois anos, os cursos técnicos são uma boa alternativa para aqueles que não conseguem se dedicar a uma graduação tradicional, de quatro ou mais anos.
Apesar da Qodeless ter oferecido um treinamento em C#, linguagem de programação que Jefferson usa no seu cotidiano, ele dá uma dica fundamental: procure saber de antemão os fundamentos do que você vai trabalhar. “Mesmo com os treinamentos, saber com o que você está lidando vai te dar muito mais segurança no momento de colocar as mãos na massa.” Portanto, “capacitação” é a palavra-chave para quem quer realizar uma transição de carreira para TI bem-sucedida.
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