Conheça a Startup Desconhecida Que Recebeu US$ 3 Bilhões de um Investidor Anônimo

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Forbes, a mais conceituada revista de negócios e economia do mundo.

 

No final de fevereiro, o cofundador e CEO da Infinite Reality, John Acunto, entrou correndo em um palco amplo em um estúdio em Los Angeles para fazer um discurso bombástico, ainda que com um tom defensivo. “O fator baboseira acabou”, declarou o Acunto, de 53 anos, iluminado por um fundo em azul-neon. “Vocês realmente acham que estaríamos falando de um investimento de US$ 3 bilhões (R$ 16,98) e que seríamos uma das maiores empresas do nosso setor se não estivéssemos fazendo o que dizemos estar fazendo?”, continuou ele, segundo um vídeo do evento para investidores analisado pela Forbes.

“Hoje é a celebração de vocês por terem nos dado o capital. Fiquem de pé e aplaudam a si mesmos… Vocês construíram uma empresa de US$ 12 bilhões (R$ 67,92 bilhões)!” O diretor de negócios da Infinite Reality, Amish Shah, foi ainda mais longe, entusiasmando-se diante da plateia de cerca de 100 acionistas: “Nosso objetivo é construir uma empresa de US$ 50 a 100 bilhões (R$ 282,99 a 565,98 bilhões) ainda este ano.”

Ambição ousada? Mais parece desconcertante, e profundamente implausível. Acunto e sua empresa enfrentam uma série de processos movidos por credores que alegam estar tentando receber dívidas não pagas. Há também uma ação federal para forçar o cumprimento de uma intimação da Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC, na sigla em inglês). O investimento de US$ 3 bilhões (R$ 16,98 bilhões) tão alardeado por Acunto – que “poderia facilmente ser uma das maiores rodadas de capital de risco do ano”, segundo Song Ma, professor de finanças na escola de negócios de Yale – teria vindo de um único investidor anônimo.

Apenas cinco empresas, quase todas do setor de inteligência artificial e altamente conhecidas, conseguiram levantar mais dinheiro no último ano: OpenAI, Anthropic, xAI, Databricks e Waymo, de acordo com a PitchBook. Em meados de abril, a Infinite Reality elevou sua avaliação para US$ 15,5 bilhões  (R$ 88,04 bilhões) após adquirir, em uma transação feita integralmente com ações, uma empresa de avatares de IA. Isso parece coisa de outro mundo.

A Infinite Reality, que lançou recentemente seu produto principal, uma ferramenta que transforma sites em “vitrines virtuais” em 3D, afirma ter gerado US$ 75 milhões  (R$ 426 milhões) em receita em 2024, um aumento em relação aos US$ 50 milhões (R$ 284 milhões) de 2023. Isso significaria que a empresa está avaliada em 200 vezes sua receita – um múltiplo muito mais alto do que o das startups de IA mais badaladas: a Anthropic, com valor estimado em 44 vezes a receita, e a OpenAI, estimada em 24 vezes.

Investimento no metaverso

Quando uma startup financiada por venture capital anuncia um grande investimento ou rodada de captação como essa, há poucas exigências quanto à verificação ou documentação. Apenas a empresa e seus investidores precisam conhecer os termos do acordo, embora a SEC tenha ampla autoridade sobre qualquer transação envolvendo valores mobiliários e possa exigir mais informações – o que já fez com a Infinite Reality depois que a empresa declarou, em dezembro de 2022, que poderia valer US$ 1,85 bilhão (R$ 10,51 bilhões).

Nos últimos anos, o capital de risco tem inundado startups de tecnologia em um ritmo extraordinário. Dez anos atrás, o total captado por empresas do setor era de US$ 87 bilhões (R$ 494,16 bilhões); cinco anos atrás, foi de US$ 175 bilhões (R$ 994 bilhões); no ano passado, esse número explodiu para US$ 209 bilhões (R$ 1,18 trilhão). É muito dinheiro circulando – e grande parte dele está sendo investida em startups das quais poucos, fora do setor, ouviram falar.

Curiosamente, uma das áreas que mais perdeu o interesse dos investidores nos últimos anos é justamente a das startups focadas em metaverso, como a Infinite Reality. Culpe o fracasso épico de Mark Zuckerberg. Desde 2020, a Meta já gastou mais de US$ 50 bilhões (R$ 283,94 bilhões) tentando construir um mundo virtual persistente, que ele chamou de “metaverso”, chegando até a mudar o nome do Facebook para Meta em 2021. Mas o esforço, em grande parte, foi um fiasco, marcado por falhas técnicas, como avatares sem pernas, e pouco interesse por parte dos usuários.

O principal produto de metaverso da Meta, o Horizon Worlds, tinha menos de 200 mil usuários mensais em 2022, segundo o Wall Street Journal, a última vez em que esse número foi reportado. No geral, o financiamento por meio de capital de risco e equity para empresas do setor de metaverso caiu de US$ 5,6 bilhões (R$ 31,8 bilhões) para apenas US$ 1,4 bilhão (R$ 7,95 bilhões) entre 2022 e 2024, de acordo com dados da PitchBook. O que torna ainda mais incomum o valor levantado pela Infinite Reality.

Infinite Reality: aquisições

Quase toda a receita da Infinite Reality pode ser atribuída às dezenas de startups que ela adquiriu desde 2022. Essas aquisições renderam à empresa algumas manchetes – como quando anunciou a compra do Napster, apesar do nome conhecido, o clone do Spotify é hoje uma empresa bem diferente do que já foi, e atualmente ocupa apenas a 27ª posição entre os aplicativos de música na App Store, segundo a Data.AI.

No entanto, a Infinite Reality não é muito conhecida dentro do setor, e o anúncio da rodada de financiamento causou surpresa. “Ninguém tinha ouvido falar dela. Eu também conversei com outras pessoas do setor e todas ficaram tipo: o quê? Quem são eles?”, diz Sara Gherghelas, analista da empresa lituana de pesquisa em metaverso e Web3 DappRadar.

O anúncio da rodada de financiamento também foi a primeira vez que Herman Narula, fundador da desenvolvedora de metaverso Improbable – que chegou a ser avaliada em mais de US$ 3 bilhões (R$ 17,03 bilhões) após receber investimentos da SoftBank e Andreessen Horowitz – ouviu falar da startup. “Realizamos centenas de eventos no metaverso com algumas das maiores marcas do mundo, com dezenas de milhares de pessoas no último ano. Até agora, nunca encontrei essa empresa e nenhum parceiro jamais a mencionou”, disse Narula à Forbes. De forma semelhante, Yat Siu, fundador da Animoca Brands – um dos investidores mais ativos em empresas de Web3, metaverso e jogos, além de proprietário da plataforma Sandbox, avaliada em US$ 5,9 bilhões (R$ 33,49 bilhões) em 2022 – afirmou que o investimento “não causou nenhum impacto no nosso setor… Ninguém nos procurou para falar sobre isso.”

A Infinite Reality enviou o primeiro e-mail à Forbes anunciando sua rodada de financiamento de US$ 3 bilhões (R$ 17,03 bilhões) em 8 de janeiro. Voltou a entrar em contato em 11 de fevereiro, desta vez promovendo Acunto, que na época detinha 12% da empresa sediada em Boca Raton, na Flórida, como um candidato ideal para a lista de bilionários da Forbes.

Foi então que a Forbes começou a investigar Acunto e a Infinite Reality, entrando em contato com mais de 60 investidores, especialistas do setor, parceiros, clientes, fundos de capital de risco, ex-funcionários e advogados, mais de 20 responderam. A Forbes também realizou diversas chamadas com a Infinite Reality e com Acunto. O que surgiu foi uma história confusa sobre uma empresa em que tudo – desde o financiamento e a avaliação até os investidores, clientes e até o passado do CEO – só levanta mais dúvidas. “Há muitas coisas que são incomuns”, diz Karina Kogan, diretora de marketing da Infinite Reality, ao ser questionada sobre a rodada de financiamento atípica, “mas nós não somos uma empresa comum.”

Investigação

A carreira de Acunto tem sido marcada por credenciais duvidosas e uma pilha de contas não pagas – agora resolvidas – que remontam a mais de duas décadas. Uma biografia fornecida por um representante da Infinite Reality e um documento de 2022 arquivado na SEC afirmam que ele possui doutorado em matemática pela Universidade da Flórida e mestrado em ciência de dados por Harvard; nenhuma das duas universidades tem registros dele.

Acunto disse à Forbes que a biografia foi produzida por engano, porque a Infinite Reality estava com falta de pessoal. “É absolutamente ridículo que eles tenham pegado aquele rascunho e colocado ali.” Talvez. Mas a exata mesma frase aparece em um documento de 2024 referente à escola frequentada por seus filhos. Acunto afirma que “frequentou várias escolas diferentes”, mas se recusa a dizer onde – ou se – cursou o ensino superior.

Acunto, que se mostrou relutante em falar à Forbes sobre seu passado, comandou uma série de negócios de publicidade digital e entretenimento, nenhum dos quais teve grande relevância. Esses empreendimentos, no entanto, resultaram em processos judiciais em pelo menos seis estados, tanto contra suas ex-empresas quanto contra o próprio Acunto, vários deles alegando falta de pagamento de diversas contas.

Apesar de terem sido emitidas decisões judiciais, os casos se arrastaram por anos; dois deles, na verdade, foram resolvidos no ano passado, com Acunto pagando US$ 400 mil (R$ 2,27 milhões) para encerrar um processo de 2006 envolvendo a extinta empresa de publicidade Adsouth, e US$ 780 mil (R$ 4,43 milhões) relacionados a um processo de 2010 envolvendo uma empresa de software de transcrição. Acunto, que se mudou diversas vezes ao longo dos anos, diz que não sabia das sentenças até recentemente. “Qualquer pessoa que tenha me processado provavelmente tinha, em sua mente, um bom motivo”, diz Acunto. “Não tenho nada de negativo a dizer sobre ninguém.”

Como tudo começou…

A história da Infinite Reality começa em 2019, quando Acunto e alguns investidores compraram uma empresa de mídia social de Nova York chamada Tsu, que estava falida, e a renomearam como Display Social. Nos seus três primeiros anos somados, o negócio gerou apenas US$ 150 mil (R$ 852 mil) em receita. Segundo registros da SEC, a Display Social conseguiu, de alguma forma, levantar US$ 44 milhões (R$ 250 milhões) até 2021. A Forbes entrou em contato com quatro fundos de venture capital listados na PitchBook como investidores iniciais da empresa que mais tarde se tornaria a Infinite Reality. Nenhum respondeu à Forbes; um deles parece estar fora de operação.

Munido de ações supostamente lastreadas por milhões em financiamento, Acunto foi às compras. Ele adquiriu a Thunder Studios, uma produtora sediada em Long Beach, Califórnia, e a Infinite Reality, com sede em Norwalk, Connecticut, em uma operação integralmente em ações no valor de US$ 235 milhões (R$ 1,33 bilhão) em janeiro de 2022, que avaliava sua empresa em US$ 1 bilhão (R$ 5,68 bilhões), de acordo com um documento da SEC. Ele renomeou a empresa combinada como Infinite Reality e, em julho daquele mesmo ano, adquiriu uma pequena empresa de eSports chamada ReKT, em uma transação integralmente em ações no valor de US$ 470 milhões (R$ 2,67 bilhões), que dobrou a avaliação da Infinite Reality, pelo menos segundo os registros entregues pela empresa à SEC.

No outono, a Infinite Reality entrou com pedido para abrir capital por meio de uma fusão reversa, mas acabou desistindo em dezembro de 2022 devido à instabilidade do mercado, segundo Acunto. No final do mesmo mês, entrou com o processo para abrir capital via SPAC, mas esse acordo também não se concretizou.

Em 2024, ela adquiriu mais empresas em transações inteiramente em ações: a Drone Racing League (US$ 250 milhões / R$ 1,42 bilhão), uma startup de Nova York que uma vez teve um breve acordo com a ESPN, mas não realiza eventos há mais de dois anos; a Landvault, um grupo de publicidade com sede em Londres responsável por ações de marketing como um “bar” virtual da Heineken, que não servia bebidas, em um ambiente 3D (US$ 450 milhões / R$ 2,56 bilhões); a Action Face, uma startup falida da Califórnia que transforma selfies em avatares 3D ou pequenas miniaturas de plástico (US$ 10 milhões / R$ 56,8 milhões); e a Ethereal Engine, de Los Angeles, Califórnia (US$ 75 milhões / R$ 426 milhões), que permite aos usuários criar espaços no estilo metaverso com menos código. Cada aquisição aumentava a avaliação declarada pela própria Infinite Reality.

Até o verão passado, a empresa já reportava uma avaliação de US$ 5,1 bilhões (R$ 28,97 bilhões). “Esse é o número imaginário falso que vocês acham que valem”, disse um ex-executivo de uma das empresas adquiridas que foi demitido da Infinite Reality em 2024. “Eu e muitos colegas da organização olhávamos em volta e pensávamos: ‘cara, isso tudo parece muito uma fraude.’”

A Infinite Reality afirma que os valores das fusões e as avaliações das empresas são justos. Matthew Schwartz, sócio da Gibson Dunn que representou a Infinite Reality nessas transações, recusou-se a comentar.

A conta não fecha

Durante todo esse período, a Infinite Reality teve dificuldades para pagar contas em dia, segundo algumas ações judiciais por inadimplência. O banco de investimentos TD Cowen entrou com um processo no início de 2024 por taxas não pagas relacionadas à aquisição da ReKT. O caso resultou em uma decisão judicial de US$ 3,25 milhões (R$ 18,46 milhões) contra a Infinite Reality em dezembro de 2024.

Em outro caso, um grupo de acionistas, o Summit Investors, acusou a Infinite Reality de não permitir a recompra de ações por mais de US$ 27 milhões (R$ 153,36 milhões). Segundo uma queixa apresentada em dezembro de 2022 e modificada em janeiro de 2025, a Infinite Reality afirmou que “não tinha fundos, nem financiamento, para pagar total ou parcialmente” esse valor. O caso foi encerrado em meados de fevereiro; “os pagamentos estão sendo feitos”, disse Karina Kogan, diretora de marketing da Infinite Reality. Outros quatro prestadores de serviço ou fornecedores processaram a empresa por falta de pagamento no final de 2023 e em 2024.

“Ficou muito claro a partir das minhas interações limitadas que eles tinham sérios problemas de fluxo de caixa, e que haviam estruturado seus contratos para lidar com isso”, disse um ex-prestador de serviços que trabalhou com a Infinite Reality. Essa pessoa pediu para não ser identificada por medo de retaliação.

Kogan reconheceu os “problemas de fluxo de caixa” em 2023 e 2024, enfatizando que isso não é incomum para uma startup. Ela acrescentou que, considerando o número de aquisições feitas pela empresa, não é surpreendente que ações judiciais por inadimplência e problemas semelhantes “saiam do armário”, e que a empresa está resolvendo essas questões – o que leva tempo, não por falta de dinheiro, mas porque é “muita papelada”. A maioria dos casos já foi retirada. Por sua vez, Acunto minimizou os processos judiciais como o custo de se fazer negócios. “Você vai esperar que a gente tenha ações de fornecedores. Isso é muito normal… sabe, tanto faz. Esse tipo de coisa acontece o tempo todo.”

O novo financiamento vindo do mais recente e abastado investidor da Infinite Reality deveria significar que todos esses problemas ficaram no passado. Segundo o diretor de negócios Shah, a rodada de US$ 3 bilhões (R$ 17,04 bilhões) em janeiro, proveniente de um único investidor, foi na verdade parte de um acordo de US$ 3,36 bilhões (R$ 19,09 bilhões) dividido em várias etapas. Tudo começou com uma captação de US$ 350 milhões (R$ 1,99 bilhão) anunciada em julho de 2024, supostamente vinda de um escritório multifamiliar. Depois disso, veio um aporte de US$ 500 milhões (R$ 2,84 bilhões) em outubro – que não havia sido divulgado anteriormente – e o restante em janeiro, aparentemente tudo envolvendo o mesmo investidor anônimo.

Até pouco tempo atrás, o site da Infinite Reality promovia que a empresa tinha “investidores de primeira linha nos setores de esportes, mídia e entretenimento”, citando nomes como Lerer Hippeau, Lux Capital, a agência de talentos CAA, o investidor e jurado convidado do Shark Tank Matt Higgins, o bilionário do setor imobiliário Stephen Ross (ambos da RSE Ventures), e a Exor, fundo de investimentos da bilionária família italiana Agnelli. Esses grandes nomes só se tornaram acionistas da Infinite Reality após a empresa adquirir a Drone Racing League, na qual todos já haviam investido. Nenhum deles parece ter investido diretamente na Infinite Reality.

A Lux Capital confirmou que investiu apenas por meio da Drone Racing League, em 2016. A CAA e a Exor, cujo logotipo estava incorreto no site da Infinite Reality, se recusaram a comentar. Um investidor, que preferiu não ser citado, afirmou que sua empresa só soube da aquisição depois que ela foi concluída e que a Infinite Reality não tem respondido a e-mails nem a questionamentos de auditoria. Os demais investidores principais também se recusaram a falar com a Forbes ou não responderam aos pedidos de comentário. A página de investidores do site da Infinite Reality desapareceu depois que a Forbes começou a entrar em contato com os fundos e VCs mencionados.

Parcerias X contradições

Há muita fumaça e espelhos. A Infinite Reality alardeou as realizações feitas com o time de futebol britânico Manchester City durante sua reunião de acionistas. No entanto, um porta-voz do City enviou um e-mail à Forbes afirmando que a Infinite Reality não é “parceira oficial nem fornecedora” e “não possui nenhuma afiliação adicional com o clube.” Na verdade, um contratante terceirizado contratou a subsidiária Thunder Studios da Infinite Reality para uma pequena parte de um projeto com múltiplos parceiros.

Ao ser questionado sobre os dados financeiros por trás da avaliação da empresa, Acunto respondeu: “Deixe-me te mostrar o dois mais dois, e aí você descobre o quatro.” Ele então destacou uma “parceria estratégica de cinco anos” com o Google, que teria “tido grande peso na avaliação” da empresa. Ele fez essa mesma alegação em uma conferência para investidores em fevereiro, dizendo ao público: “estamos turbinando o Gemini”, em referência à oferta de inteligência artificial do Google. A visão do Google é diferente: a empresa descreveu a Infinite Reality à Forbes apenas como um cliente comum do Google Cloud.

Até mesmo pessoas de dentro da Infinite Reality têm dúvidas: o cofundador (a Infinite Reality tem quatro), acionista e ex-membro do conselho Rodric David entrou com um processo em dezembro solicitando documentos financeiros para “entender a avaliação” da empresa e “avaliar o cumprimento, por parte da Companhia, de padrões adequados de governança corporativa.” Entre os documentos solicitados estavam dois títulos apresentados aos acionistas em 1º de outubro, avaliados em US$ 1 bilhão (R$ 5,68 bilhões) e US$ 2,5 bilhões (R$ 14,2 bilhões), respectivamente, além de detalhes sobre o investimento de US$ 350 milhões (R$ 1,99 bilhão) feito em julho por um escritório multifamiliar. O caso foi encerrado em março. David disse à Forbes que Acunto está enviando os documentos, que ele queria porque está tentando vender parte de suas ações.

Depois que a Infinite Reality inicialmente se recusou a apresentar seu novo investidor ou revelar sua identidade, a Forbes entrou em contato com Michael Sullivan, sócio do escritório de advocacia Ashcroft, com sede em Boston, fundado pelo ex-Procurador-Geral dos Estados Unidos John Ashcroft. Sullivan havia sido citado no comunicado de imprensa da Infinite Reality sobre o acordo. No comunicado, Sullivan supostamente afirmou que o investidor anônimo (cliente da Ashcroft) “ficou particularmente impressionado com o que acredita ser o produto revolucionário da Infinite Reality”, que ajuda a “empoderar os usuários e redefinir a noção de propriedade na era digital.”

Sullivan negou ter feito essa declaração ou ter tido qualquer envolvimento na captação de US$ 3 bilhões (R$ 17,04 bilhões). “Eu não sabia de nada sobre essa rodada de financiamento nem sobre o anúncio relacionado a ela”, escreveu Sullivan à Forbes em um e-mail de março. “A citação no comunicado de imprensa não foi feita por mim. Na verdade, eu não a revisei nem aprovei quando foi publicada pela primeira vez, e deixei isso claro para várias pessoas.”

Em um e-mail posterior enviado à Forbes, a sócia-gerente da Ashcroft, Lori Day, confirmou que o “cliente transferiu um total de US$ 3,36 bilhões (R$ 19,09 bilhões) para a Infinite Reality”, citando comprovantes de transferências bancárias, os quais se recusaram a mostrar à Forbes, mas esclareceu que o escritório “não assessorou nosso cliente nesses acordos, nem na transação em si.”

A Ashcroft, evidentemente, não tem nenhuma obrigação legal de investigar a legitimidade desses comprovantes, nem mesmo de verificar se a transação realmente ocorreu, já que não participou do acordo nem está buscando novos investimentos. O escritório também não tem responsabilidade de verificar se o cliente tem os ativos necessários para fazer tal transferência. Seu único dever é representar os interesses de seu cliente, que aparentemente solicitou ao escritório que “verificasse publicamente” o investimento.

A única declaração fornecida pelo investidor parece ter sido lida pelo cofundador e diretor de negócios da Infinite Reality, Shah, durante a reunião de acionistas em fevereiro. O anonimato impediria que a Infinite Reality tivesse que lidar com “distrações desnecessárias”, leu Shah. “Saibam que minha confiança no conselho e na equipe executiva é inabalável, e estou sempre disponível, pelos canais apropriados, para contribuir com discussões estratégicas ou oferecer apoio financeiro adicional, se necessário”, dizia a declaração lida por Shah.

Mais problemas

Não está claro quanto dos US$ 3,36 bilhões (R$ 19,09 bilhões) levantados no último ano está, de fato, disponível para uso imediato da empresa. “Está em uma conta offshore, e estamos esperando para transferir esse dinheiro para os Estados Unidos… Esse valor estará disponível ainda este mês”, disse um executivo da Infinite Reality em março, ressaltando que não podia comentar sobre dados financeiros confidenciais. Quando questionado novamente alguns minutos depois, ele respondeu: “Devemos ter algo em torno de US$ 800 milhões (R$ 4,54 bilhões) disponíveis nos Estados Unidos, em nossa conta bancária.” Ao ser perguntada se a companhia já havia usado parte desses recursos, Gillian Sheldon, diretora de comunicação da empresa, escreveu que “já começou a aproveitá-los.”

Isso será útil, pois a Infinite Reality continua sendo alvo de processos por inadimplência, o mais recente dos quais foi movido por outro prestador de serviços em março de 2025, alegando falta de pagamento de cerca de US$ 200 mil (R$ 1,14 milhão).

A empresa também continua fechando novos acordos e usando essas operações para aumentar sua avaliação de mercado: em meados de abril, a Infinite Reality anunciou mais uma aquisição, um negócio de US$ 500 milhões (R$ 2,84 bilhões) para comprar a startup nova-iorquina Touchcast, que desenvolveu widgets com IA e avatares para clientes como a Accenture. Segundo a empresa, essa compra elevou sua avaliação para US$ 15,5 bilhões (R$ 88,04 bilhões).

A empresa ainda enfrenta um processo da SEC, aberto em fevereiro, que alega que a Infinite Reality não respondeu a uma intimação solicitando documentos financeiros que sustentassem uma avaliação anterior de US$ 1,85 bilhão (R$ 10,51 bilhões), feita como parte de uma fusão via SPAC que acabou sendo cancelada. “A Comissão obteve informações que indicam que certos indivíduos e/ou entidades podem ter feito, entre outras coisas, declarações falsas sobre fatos relevantes e deixado de divulgar informações importantes aos investidores”, afirmou um advogado do escritório da SEC em Boston no processo.

A porta-voz da Infinite Reality, Sheldon, escreveu à Forbes: “Não há nenhuma acusação de que alguém tenha violado qualquer lei, inclusive na Infinite Reality. Estamos cooperando com a investigação da SEC. Assim que cumprirmos a intimação, esperamos que a solicitação seja arquivada.”

A avaliação pode passar por um teste decisivo nos próximos meses, graças a um acordo que permitirá a investidores comprar e vender ações por meio da Nasdaq Private Markets, uma plataforma de negociação de ações de empresas não listadas em bolsa. Na reunião de fevereiro, Shah afirmou que a empresa já havia recebido “um pouco mais de um bilhão de dólares em interesse” e que as negociações começariam em março. Um acionista afirmou que ainda não havia conseguido vender nenhuma ação até meados de abril.

“Isso é bizarro”, diz Ed Zimmerman, advogado especializado em investimentos em startups no escritório Lowenstein Sandler, sobre a avaliação da Infinite Reality. “Mas talvez seja a melhor empresa do mundo.”

 

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