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A empresa de cannabis de James Kim, com sede em Los Angeles, cresceu de uma startup improvisada em 2017 para um unicórnio legal avaliado em US$ 1,5 bilhão. Acusações de atividades no mercado negro e processos judiciais não importam — a Stiiizy quer ser a Nike da cannabis.
Dentro de um galpão no centro de Los Angeles, ao lado de um clube de strip-tease, James Kim, CEO e cofundador da marca de cannabis Stiiizy, com sede na Califórnia, abre a porta de uma de suas salas de cultivo, revelando 972 pés de maconha, belas plantas de cerca de um metro de altura, a duas semanas da colheita. “Essa sala é puro dinheiro”, diz Kim, de 37 anos, com tatuagens pelos braços, incluindo um retrato de Ben Franklin e uma rosa feita com uma nota de US$ 100.
Atualmente, a Stiiizy está gerando muitos “Benjamins”. A empresa — fundada em 2017 e que cultiva cannabis, fabrica vaporizadores, cigarros pré-enrolados, gomas e flores — tem quase 50 dispensários com marca própria na Califórnia e gera mais de US$ 800 milhões por ano em receita. A Stiiizy, que também é a maior varejista de cannabis da Califórnia, é a marca de maconha mais vendida do país, segundo a empresa de dados de vendas Headset. Um gigante verticalmente integrado que agora opera em sete estados, um em cada oito produtos de cannabis vendidos nos Estados Unidos é da marca Stiiizy.
A empresa, que a Forbes estima valer US$ 1,5 bilhão (R$ 8,71 bilhões), é privada, discreta e misteriosa — dos quatro cofundadores originais, apenas Kim aceitou falar, e ele não confirmou os nomes dos sócios. Fundada na época do mercado cinza, antes da legalização da maconha recreativa na Califórnia, a Stiiizy também foi alvo de processos, rumores de atividades ilícitas (que a empresa nega) e escândalos, mas nada disso mudou o fato de que, na indústria regulada da cannabis de US$ 32 bilhões, a Stiiizy é a marca a ser batida. “Somos a marca número um do país”, diz Kim. “Sempre digo que, se somos a número um dos EUA, somos a número um do mundo.”
Um andar abaixo da sala de cultivo, Kim percorre sua instalação de produção onde dezenas de funcionários, usando toucas azuis e máscaras faciais, passam pequenos blunts com um líquido marrom e os enrolam em meio quilo de kief, colocando-os em bandejas. Em outra sala, uma funcionária usa uma máquina para preencher 100 canetas de vape Stiiizy de cada vez — até o fim do dia, os trabalhadores dali terão produzido quase 100 mil unidades.
Todos os meses, a Stiiizy cultiva 15 mil libras de maconha e fatura cerca de US$ 70 milhões (R$ 406 milhões) em vendas no varejo, em produtos de cannabis na Califórnia, sem contar o que produz em Nevada, Arizona, Michigan, Missouri, Illinois e Nova York, onde a marca foi lançada em fevereiro e, em um mês, já estava entre as 10 mais vendidas.
Kim sai do galpão e entra no banco traseiro de sua Cadillac Escalade preta. Seu motorista o leva por alguns minutos até a sede da Stiiizy em Downtown LA. “Sempre sonhamos que a marca se tornaria grande”, diz Kim, enquanto “Juicy”, do Notorious B.I.G., toca no carro. “Mas não sabíamos que seria tão grande assim.”
Kim, que usa um cronógrafo Audemars Piguet Royal Oak no pulso, teve uma infância humilde em Cerritos, Califórnia. Dividia a cama com a irmã mais velha para que seus pais, imigrantes da Coreia do Sul, pudessem alugar o outro quarto e pagar as contas. Eles vendiam roupas femininas na feira Santa Fe Springs Swap Meet, e desde os seis anos James era responsável por montar a barraca, cuidar do caixa e ajudar a mãe a definir os preços (ela o ensinou a cobrar o dobro do custo de cada peça).
“Eles me colocaram para trabalhar”, diz. “Aquela feira era a minha vida.” Mas isso não o manteve longe de encrencas.
Aos 14 anos, Kim já matava aula com frequência para andar de skate e fumar maconha — e acabou vendendo também. Logo foi pego com um baseado e entrou em liberdade condicional. Aos 17, foi preso por roubo à mão armada (a acusação foi retirada por falta de provas, e o amigo que cometeu o crime assumiu a culpa, mas Kim passou uma semana na detenção juvenil).
Abandonou a escola no terceiro ano para trabalhar na construção civil e depois em um armazém. Um dia, sua mãe encontrou meio quilo de maconha no quarto e exigiu que ele voltasse para casa. Ela ameaçou jogar tudo no vaso sanitário, mas Kim a convenceu a devolver, dizendo que devia US$ 2.000 pela mercadoria e ainda poderia lucrar alguns milhares. “Era assim que eu conseguia dinheiro para lanche, cinema ou tênis”, diz Kim. “Não era um plano para ser o chefão do colégio.”
Com o objetivo de se formar e virar mecânico, Kim entrou numa escola de recuperação para alunos problemáticos. Em 2006, após uma festa de formatura, chegou tarde em casa e ligou a TV. Passava um comercial do Exército. Na manhã seguinte, estava num centro de recrutamento e, oito semanas depois, em Fort Campbell, Kentucky, como integrante da 101ª Divisão Aerotransportada.
Em seis meses, estava com um fuzil M-4 em Bagdá, lutando contra tropas de Saddam Hussein. Antes do fim da missão, viu seu melhor amigo morrer em combate. “Era como estar em um pesadelo do qual você não quer participar”, diz Kim, agora em sua cobertura alugada com vista para o centro de LA. “E durou 13 meses.”
Em 2014, quatro anos após voltar da guerra, Kim abriu uma loja de vapes de nicotina para aproveitar a onda que varria os EUA. Um ano depois, fechou o negócio para fundar a Kilo, marca de líquidos para vape de nicotina, com seu amigo de escola Jonathan Lee. Deu certo — a Kilo faturou US$ 6 milhões no primeiro ano, US$ 12 milhões no segundo e US$ 20 milhões no terceiro. Com tino para marketing, Kim expandiu a clientela global, vendendo nos EUA, Grécia e Rússia.
Em 2016, outro amigo do colégio, Sam Cho, que trabalhava com maconha medicinal, sugeriu criar uma marca de cannabis, antecipando o mercado recreativo da Califórnia, que começaria em 2018. Kim criou a marca e o nome Stiiizy, juntando “steeze” (gíria do skate) com “easy”. Investiu todas as economias, alguns milhões de dólares, e fundou a empresa com Lee, Cho e Tony Huang. A Stiiizy nasceu como uma marca de vape.
Depois de comprar 500 vaporizadores da China e óleo de THC de um fornecedor da Califórnia, começou a vender antes da legalização. Em um ano, a Stiiizy já cultivava, produzia flores, comestíveis e cigarros enrolados. Em agosto de 2019, abriu sua primeira loja.
“O diferencial da Stiiizy foi ter uma marca forte antes mesmo da legalização”, diz Daniel Yi, ex-diretor de comunicação da empresa. “Eles tinham um impulso enorme e, aparentemente, reservas de caixa inesgotáveis.”
No início de 2019, a Stiiizy se fundiu com a North Star, operadora do norte da Califórnia com cultivos, fábricas e lojas, gerida pelo empresário imobiliário Brian Mitchell. A nova empresa, chamada Shryne Group, ganhou escala rapidamente. As vendas dispararam com a abertura de lojas pelo estado. Este ano, a meta é abrir uma nova loja por mês.
“Estamos a caminho de 100 lojas”, afirma Kim.
Mas com o sucesso vieram os problemas legais e os rumores sobre o mercado negro. Produtos Stiiizy começaram a aparecer em pontos não licenciados de Nova York — bodegas e tabacarias — e até na Cidade do México. Investidores e executivos do setor dizem que os rumores de desvio para o mercado ilegal são tão frequentes que viraram um “segredo aberto”. “Eles não são os melhores seguidores de regras do mundo”, diz um executivo da indústria da Califórnia, sob anonimato.
Tak Sato, presidente da Stiiizy, nega veementemente as acusações e afirma que a empresa “com certeza” não opera ilegalmente. Quando produtos da marca são encontrados em lojas não licenciadas ou no mercado negro, segundo ele, são falsificações ou itens contrabandeados por pessoas que compram legalmente e revendem. “O risco simplesmente não faz sentido”, diz Sato. “Se provassem que fizemos algo assim, acabou.”
Mas até pessoas de dentro fizeram acusações. Jon Avidor, CEO da marca em 2021, processou a empresa em setembro de 2023, alegando demissão indevida do conselho e retirada de ações a que teria direito, além de denunciar atividades ilegais. A Stiiizy negou, e Avidor retirou o processo antes de um acordo.
Em dezembro de 2023, o Los Angeles Times publicou uma investigação ligando Tony Huang, cofundador, a imóveis que abrigavam dispensários não licenciados. Huang negou, mas foi multado em US$ 450 mil junto com outros proprietários.
Em abril, reguladores de Nova York fizeram uma inspeção surpresa em uma fabricante de cannabis de Long Island, após denúncia de que a Stiiizy e outras marcas estariam usando produto ilegal ou vindo de fora do estado. Sato disse que a empresa se preparava para o lançamento em NY desde outubro de 2024 e que o parceiro local produziu mais do que o necessário — sem violar leis. Um porta-voz do Escritório de Gestão da Cannabis de NY afirmou que as informações “estão sob análise” e que divulgarão os resultados ao final do processo regulatório.
(Kim participará de um debate ao vivo com perguntas do público sobre o futuro da indústria da cannabis na segunda-feira, 21 de abril, ao meio-dia, horário de NY. Inscreva-se.)
Kim descarta as acusações como parte do mundo competitivo da cannabis legal, com margens pequenas, regras duras, impostos altos e concorrentes espalhando boatos. “É como o filme Meninas Malvadas”, diz Kim. “Estão dizendo que sou a maior vadia da escola. Mas não sou. E estou cansado disso.”
Toda essa fama não afetou as vendas — pelo contrário. Sua reputação “fora da lei” fortaleceu ainda mais a imagem da empresa. Para seus fãs, a Stiiizy é autêntica. Enquanto outras marcas foram criadas em salas de reunião ou por ex-consultores corporativos e parecem produtos da Whole Foods, a Stiiizy nasceu no submundo da cannabis em Downtown LA — e isso lhe deu atitude.
“Acho que muita gente se sente ameaçada porque não entende como conseguimos”, diz Kim. “Nem eu sei como conseguimos, mas acho que conheço o consumidor. É isso que falta para os executivos — eles não conhecem o consumidor.”
Com quase US$ 400 milhões em vendas só na Califórnia no ano passado, a Stiiizy controla cerca de 7% do mercado legal de cannabis de US$ 5 bilhões no estado.
“Eles são uma marca insana, a paixão do consumidor é inacreditável”, diz Kyle Sherman, CEO e fundador da Flowhub, empresa de software para dispensários. “Executaram melhor que qualquer outra marca.”
Na cobertura, Kim senta à mesa de jantar. Ele diz que, quando fundaram a Stiiizy, o objetivo era criar uma empresa que durasse ao menos uma década — com esperança de ir além. Agora, quer que a Stiiizy seja a “Nike da maconha”: a referência em tudo relacionado à cannabis.
“Meu objetivo agora é que a Stiiizy vire uma marca para a vida toda”, diz Kim. “Esse é o meu legado.”
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