A B3 iniciou hoje (17) a oferta de boleta para formalização de operações de compra e venda no mercado livre de energia elétrica, em mais um movimento para atingir seu objetivo de se tornar uma clearing para transações do setor, disse à Reuters uma representante da Bolsa.
O novo produto vem para atender principalmente agentes que ainda negociam contratos de energia pelo telefone. Com a boleta, as partes assinam digitalmente um contrato padrão, o que ajuda a reduzir prazos e custos, segundo a B3.
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Não há uma estimativa exata do tamanho do mercado para esse produto, mas entende-se que existe um potencial “considerável”.
“Em torno de 80% dos contratos (de energia) são de alguma forma padronizáveis e poderiam estar dentro de uma plataforma com esse fim (…) o que vemos hoje é que muitos contratos ainda não entraram para nenhuma das plataformas disponíveis no mercado hoje”, afirmou Ana Beatriz Mattos, superintendente de Novos Negócios da B3.
De acordo com a executiva, os contratos de energia de curto prazo são mais facilmente adequáveis à nova plataforma, mas a Bolsa já está trabalhando para ampliar o leque, oferecendo também contratos padrões para o chamado “mercado de varejo” do setor elétrico, que atende consumidores com carga abaixo de 0,5 megawatt (MW).
O movimento da B3 oficializa o início de uma concorrência com o BBCE (Balcão Brasileiro de Comercialização de Energia), plataforma de negociação eletrônica de contratos que tem grandes elétricas no quadro societário, como Engie e EDP. O BBCE é hoje a principal plataforma para negociação de energia “em tela”, e concentra parte relevante das transações do mercado livre.
“Gostamos muito da concorrência, entendemos que ela traz muitos benefícios para o cliente. Recebemos essa concorrência em vários mercados, e isso fez com que melhorássemos bastante nossos produtos. No mercado de energia, temos essa mesma posição”, afirmou Mattos.
A B3 começou a se aproximar mais do setor elétrico nos últimos anos. No fim de 2020, lançou o Selo de Confiança, ferramenta que permite que comercializadoras, consumidores e geradores habilitados tenham acesso a informações para aprimorar sua gestão de risco de inadimplência no mercado livre.
Hoje, são 13 agentes credenciados com o selo da B3 — entre eles a comercializadora da Eneva, a 2W Energia e a Eletrobras CGT Eletrosul –, e mais sete agentes estão em processo de cadastro.
Desde 2015, a B3 também atua com derivativos de balcão, disponibilizando o registro de termo, swap e opção para proteção contra a flutuação do preço da energia, além de produtos customizados, para hedge de preço horário a geradores e consumidores.
“Nosso objetivo é ter uma clearing com ativos relacionados à energia elétrica. Temos um caminho a ser percorrido, a oferta de boleta é mais um passo que estamos dando (…) Por trás do pedido do mercado por uma clearing, está a questão da segurança em termos de um risco sistêmico. Estamos tentamos cobrir esses riscos com nossos produtos”, disse Mattos.
Segundo a executiva, o mercado está passando por um processo de amadurecimento, e a clearing se apresenta como uma possibilidade de curto e médio prazo. “Gostaríamos de já estar discutindo modelos e possibilidades de clearing entre este ano e o próximo”.
O ambiente de contratação livre de energia vem ganhando corpo nos últimos anos e deve mostrar mais um impulso com a abertura do mercado a agentes com carga inferior a 0,5 MW nos próximos anos. Uma das principais preocupações dos agentes tem sido com as regras de segurança, depois de o mercado ter assistido à quebra de comercializadoras em 2019 e 2021.
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