A economia brasileira passa por um momento complicado, com disparada da inflação seguida pela alta do desemprego. Geralmente, é em períodos difíceis que aparecem dados sobre endividamento das famílias e inadimplência de cartão de crédito e de financiamentos.
Mas a verdade é que nós, médicos que cuidamos da saúde mental, vemos com muita frequência pessoas que não conseguem utilizar seus recursos de forma saudável, mesmo em períodos de bonança econômica.
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Saúde financeira e saúde mental estão interligadas. Mostro um dado que pode ajudar a provar o que digo. Uma pesquisa realizada em 2019 pelo Instituto Americano do Estresse apontava que 62% – a maior parte do povo americano – se dizia estressado o tempo todo com relação ao dinheiro. Estresse, como já apontei algumas vezes, é um dos indicativos de baixa saúde mental.
É por isso que muito tem se falado sobre bem-estar financeiro. O que é isso? É você ter controle sobre os seus recursos e não ser controlado por eles. É ter a capacidade de dar conta de possíveis choques financeiros que venha a passar – uma doença que o afaste do trabalho, por exemplo, ou até a perda de um emprego. E é também ter a liberdade financeira de aproveitar a vida.
Isso não tem nada a ver com ter dinheiro para fazer o que se bem entender, mas com ter recursos para se presentear com uma viagem ou dar um curso que seu filho ou filha quer tanto fazer.
Como conquistar bem-estar financeiro? A seguir, dou algumas dicas.
1. Faça as contas: pode parecer óbvio, mas muitas pessoas não colocam as entradas e as saídas de recursos num papel. Hoje, inclusive, existem aplicativos que podem ajudá-lo nisso. Vale repetir: veja quanto, de fato, você recebe a cada mês. Autônomos podem ter renda variável; assim, vale refazer essa conta mensalmente.
Escreva quais são as suas contas fixas e quais são as variáveis. Por exemplo, prestações que terminará de pagar dali a um tempo. Escreva a data de fatura de cada uma dessas despesas nesse documento. Não esqueça de colocar em despesas uma pequena reserva para um investimento. Não importa quanto, mas reserve um pouquinho a cada mês.
Somar tudo no papel ajuda a ter ideia de quanto cada item está consumindo do seu salário e, com isso, fazer uma avaliação do que pode ser cortado ou reduzido. Isso também nos ajuda a nos organizarmos para viver de acordo com o nosso salário e não dar um passo maior do que as pernas.
2. Reserve algum recurso para um momento difícil: novamente, não precisa ser muito, sempre de acordo com as suas possibilidades. Quando alguém demonstra a elas, muitas pessoas ficam surpresas com quanto é possível guardar num ano.
3. Planeje-se para reduzir suas dívidas: é preciso colocar no papel o quanto se deve. Muita gente também se surpreende quando soma todas as prestações que fez ao longo do ano. Discrimine quantas prestações ainda tem pela frente e organize-se para saldá-las, nem que seja dali a um ano.
Se precisar comprar algo e não tem o recurso de imediato, faça primeiro a conta de qual será o juro cobrado sobre esse financiamento. Muitas lojas oferecem desconto à vista, o que significa que talvez seja melhor adiar a compra e economizar para adquirir o que você precisa.
A relação com o dinheiro pode ser tóxica e afetar profundamente a saúde mental, especialmente quando somos dominados por ele.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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