Qual será o seu modelo de trabalho em 2022?

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Por Carolina Cavenaghi*

Você também gosta da sensação de recomeço e renovação que só o início de janeiro pode nos oferecer?

Não sei se está acontecendo somente comigo, mas desta vez estou sentindo algo diferente. Estamos entrando no terceiro ano desta pandemia que trouxe mudanças sem precedentes para as nossas vidas. Vivi tantas mudanças recentemente que tenho aprendido a lidar melhor com imprevisibilidades e a melhor gerenciar expectativas.

Por isso, nesta minha primeira coluna do ano, eu quero falar da expectativa sobre o futuro do mercado de trabalho. Tenho lido muitos artigos e estudos que falam sobre previsões, pesquisas e como as empresas devem se preparar globalmente para uma volta aos escritórios, que custa a chegar.

Mesmo com a esperança em relação ao avanço da vacinação e à flexibilização nos protocolos de distanciamento, os números de infectados pela nova variante Ômicron assustam e tendem a atrasar os planos de retorno ao escritório para toda população. Sinto cada vez mais que as estruturas de trabalho pré-pandemia ficarão para a história.

Lembro que, no ano passado, nesta mesma época, eu estava cheia de expectativas sobre uma maior estabilidade e uma possível volta ao “normal”. Obviamente, 2021 não foi como planejado.

O que fazer então em 2022? Como podemos nos estruturar para criar e pavimentar um novo caminho que funcione?

Muitas empresas querem os seus funcionários de volta às mesas, mas os trabalhadores querem mais flexibilidade do que nunca. A Covid-19 tornou o trabalho remoto mais regra do que exceção, e agora muitas empresas estão tentando traçar novos caminhos e planos para 2022 – e que funcionem no longo prazo. Confesso que está difícil de prever o que vai ocorrer até mesmo no médio prazo. O desafio é gigante.

Com políticas de retorno ao trabalho presencial em andamento, vivemos um momento frágil no mercado de trabalho. Segundo a professora Tsedal Neeley, da Harvard Business School, os líderes empresariais estão mais tentados a voltar ao antigo status quo da vida do escritório, mas se questionando sobre impor uma mentalidade pré-pandêmica frente a uma realidade pós-pandêmica.

“Estamos em um momento na história do trabalho em que a natureza do trabalho como o conhecíamos foi interrompida, quer o adotemos ou não”, diz Neeley, que é autora do livro Remote Work Revolution: Succeeding from Anywhere. “Tudo ou nada é fácil, quando todos estão no escritório ou remotos. Mas com o trabalho híbrido, é uma mistura de interno e remoto, e nós entramos em uma zona cinzenta na qual as pessoas estão perguntando: ‘Como será o definitivo?”

Ela conclui dizendo que é confortável pensar em nosso ambiente de trabalho remoto como temporário, porém é muito mais difícil pensar sobre como deve ser o modelo a longo prazo e como fazer isso da melhor forma.

 

Quando os escritórios reabriram no meio do ano passado, eu ouvi muitas opiniões distintas. Muitas pessoas queriam voltar desesperadamente, mas havia outras ainda muito inseguras com as incertezas da pandemia e em como ajustar e se readaptar à nova rotina.

Um dos maiores desafios em 2022 será navegar entre o abismo que existe entre aqueles que podem ter flexibilidade na forma de trabalhar e os que não podem. Eu acredito que todos nós buscamos uma mudança permanente no quesito flexibilidade dos horários, por exemplo, e as empresas estão avaliando como se adaptar a isso. A confiança entre as pessoas e suas entregas nunca foi tão importante e relevante.

Nós da Fin4she fizemos recentemente uma pesquisa sobre a volta ao trabalho presencial e 73,7% das pessoas entrevistadas disseram que o trabalho híbrido é o modelo ideal. Além disso, 71,1% disseram se sentir desconfortáveis com a ideia de voltar integralmente ao escritório.

Um ponto relevante a se observar é a forma como a volta ao trabalho presencial impacta de forma diferente homens e mulheres. É fato que muitas mulheres tiveram uma tripla jornada na primeira onda da pandemia, com os fechamentos de escritórios e escolas, além de enfrentarem maiores dificuldade com acesso a trabalho remoto e maiores taxas de desemprego. A pandemia não atingiu da mesma forma mulheres e homens.

Porém como estão as mulheres após quase dois anos de pandemia?

Eu acredito que nós mulheres estamos aprendendo a estabelecer nossos novos limites físicos e mentais, a encontrar um melhor equilíbrio entre o trabalho e vida. Na pesquisa da Fin4she, 63,8% acreditam que a volta ao escritório será mais difícil para as mulheres.

Diante desse cenário, é preciso questionar: quão flexíveis as empresas precisam ser? Seja para reter talentos como para se enquadrar nessa nova realidade pós-pandêmica?

Acredito que dois pontos são importantes para analisarmos e estabelecermos as novas metas:

1. Relações de confiança

Enquanto trabalham em casa, os funcionários desfrutam de um senso de autogestão e autonomia sem precedentes, elaborando programações que muitas vezes divergem do padrão “horário comercial”. Contrariando algumas expectativas — mas consistentes com a pesquisa acima –, essa flexibilidade realmente estimulou a produtividade.

Em nossa pesquisa, 64% das pessoas afirmam ter mais foco e energia trabalhando remotamente. É preciso investir nas pessoas e nas relações e deixar de lado aquela falsa sensação de que confiamos naquilo que podemos ver e controlar. Fomos desafiados a desenvolver essa habilidade nova.

2. O mundo mudou

Um dos resultados inesperados da pandemia foi um novo apreço pela humanidade das pessoas e pela saúde mental. Perguntas como “você está bem”, “como você está se sentindo” e “eu posso te ajudar de alguma forma” se tornaram frequentes na rotina de trabalho.

Precisamos entender que cada funcionário tem uma necessidade diferente e precisamos compreender o que cada um precisa. Em 2022, veremos os empregadores atendendo mais às necessidades e aos desejos dos funcionários, a fim de envolver seus trabalhadores atuais e atrair os melhores desempenhos. A gestão personalizada dos funcionários e dos times pode ser a chave do sucesso para as empresas.

Na minha opinião, acima de tudo, o segredo está em confiar em nós mesmos, confiar em quem está ao nosso lado e investir em nossas conexões emocionais.

Afinal, apesar de todas as nossas melhores previsões, pouco sabemos sobre o que será de 2022.

Porém uma coisa é certa, as reuniões virtuais continuarão sendo parte do nosso dia-a-dia. Seguimos conectados e aprendendo a viver cada vez mais o presente.

*Carolina Cavenaghi é cofundadora e CEO da Fin4she, uma plataforma que conecta e impulsiona negócios e pessoas através da diversidade. É responsável por liderar e implementar projetos que promovem o protagonismo e a independência financeira feminina, buscando ampliar e fortalecer a presença de mulheres no mercado de trabalho. É a idealizadora do Women in Finance Summit Brazil e do Young Women Summit, eventos que já reuniram milhares de pessoas. Foi executiva da Franklin Templeton por mais de dez anos e trabalha no mercado financeiro desde 2006. Atualmente mora em Teresina, no Piauí, é mãe do Tom e do Martin e, através da Fin4she, tem a missão de transformar a forma como o mercado e as pessoas se conectam com a equidade de gênero.

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