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Dois grandes candidatos ao Oscar, “Emilia Pérez” e “O Brutalista”, estão envolvidos em polêmicas após revelações de que as produções utilizaram inteligência artificial.
O uso da tecnologia em “O Brutalista” foi revelado em uma entrevista do editor do filme, Dávid Jancsó, à publicação de tecnologia Red Shark News em 11 de janeiro. A controvérsia, no entanto, só estourou na segunda-feira (20), quando a informação chegou às publicações comerciais de Hollywood.
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A notícia sobre a produção de “Emilia Pérez” surgiu inicialmente em maio, mas o caso voltou à tona com a polêmica envolvendo “O Brutalista”.
O uso de inteligência artificial é um tema latente em Hollywood, devido ao temor de que a tecnologia substitua empregos de atores e equipes de produção cinematográfica. Assim, a IA foi um dos principais pontos de discórdia nas negociações durante as greves do Sindicato de Atores de Tela (SAG) e do Sindicato dos Roteiristas dos EUA (WGA) em 2023.
Como “Emilia Pérez” utilizou IA
O uso de IA na produção de Emilia Pérez foi abordado pela primeira vez em maio, durante uma entrevista com o mixer de som do filme em uma sessão sobre tecnologia no Festival Internacional de Cinema de Cannes.
Na entrevista em vídeo, Cyril Holtz disse que a produção trabalhou com a empresa ucraniana Respeecher para implementar técnicas de clonagem de voz durante o filme.
O objetivo, segundo Holtz, era aumentar o alcance vocal da personagem-título do filme, interpretada por Karla Sofía Gascón, que canta no musical dirigido por Jacques Audiard.
Para atingir o efeito desejado, Holtz afirmou que a voz de Gascón foi mesclada com a da estrela pop francesa Camille — que coescreveu a música de Emilia Pérez.
O uso de IA em “O Brutalista”
A controvérsia sobre o uso de IA em O Brutalista explodiu na segunda-feira (20), quando a notícia sobre a entrevista de Dávid Jancsó à Red Shark News viralizou nas redes sociais.
Assim como Emilia Pérez, O Brutalista trabalhou com a Respeecher para resolver um problema de voz no filme. Em sua entrevista à Red Shark News, Jancsó disse que a IA foi usada para ajustar certas partes do dialeto húngaro falado pelas estrelas Adrien Brody e Felicity Jones.
O editor disse à publicação que a produção tentou primeiro a prática padrão de substituição automática de diálogo para corrigir o problema, mas sem sucesso.
“Se você vem do mundo anglo-saxão, certos sons podem ser particularmente difíceis de captar. Primeiro, tentamos refazer esses elementos mais difíceis com os atores”, explicou Jancsó. “Depois, tentamos refazer completamente com outros atores, mas isso simplesmente não funcionou. Então buscamos outras opções.”
Além disso, Jancsó afirmou à publicação que a IA foi usada na criação de desenhos arquitetônicos que aparecem no ato final da produção.
Para quem não assistiu ao filme, ele narra a luta de László Tóth (Brody), um arquiteto húngaro fictício que foge da Europa pós-guerra em 1947 para recomeçar nos Estados Unidos. Jones interpreta Erzsébet, a esposa de László.
O diretor de O Brutalista, Brady Corbet — recentemente indicado ao principal prêmio de cinema do Sindicato dos Diretores da América (DGA), junto com Jacques Audiard, cineasta de Emilia Pérez — defendeu o uso de IA no filme em um comunicado.
“As performances de Adrien e Felicity são completamente deles. Eles trabalharam por meses com a treinadora de dialeto Tanera Marshall para aperfeiçoar seus sotaques”, disse Corbet no texto. “A tecnologia inovadora da Respeecher foi usada apenas na edição dos diálogos em húngaro, especificamente para refinar certas vogais e letras para maior precisão. Nenhum diálogo em inglês foi alterado. Isso foi feito manualmente por nossa equipe de som e pela Respeecher na pós-produção.”
Corbet acrescentou que o objetivo do uso da tecnologia “foi preservar a autenticidade das performances de Adrien e Felicity em outro idioma, não substituí-las ou alterá-las, e foi feito com o maior respeito pelo ofício”.
Sobre o uso de IA para recriar os desenhos arquitetônicos, Corbet observou que sua designer de produção, Judy Becker, e sua equipe não usaram IA para renderizar nenhum dos edifícios no filme e que as imagens “foram desenhadas à mão por artistas”.
“Para esclarecer, no vídeo memorial exibido ao fundo de uma cena, nossa equipe editorial criou imagens intencionalmente projetadas para parecerem renderizações digitais ruins de cerca de 1980”, disse Corbet no comunicado.
As controvérsias sobre a IA em Hollywood vão além
Meses antes das controvérsias sobre o uso de IA por Emilia Pérez e O brutalista, os cineastas por trás do sucesso de terror independente “Entrevista com o Demônio” se viram no meio de uma tempestade envolvendo a tecnologia.
Estrelado por David Dastmalchian, o filme “reexibe” o episódio final de um talk show noturno em dificuldades, que dá terrivelmente errado quando uma presença demoníaca invade o set. O problema foi o uso de IA para gerar os letreiros ao estilo dos anos 1970 que acompanham a “transmissão” do programa.
Usuários no X alertaram que o uso da tecnologia para gerar gráficos ameaça as carreiras de artistas gráficos.
Os co-roteiristas e co-diretores de “Entrevista com o Demônio”, Colin Cairnes e Cameron Cairnes, disseram em comunicado à Variety: “Em conjunto com nossa incrível equipe de gráficos e design de produção, todos os quais trabalharam incansavelmente para dar a este filme a estética dos anos 1970 que sempre imaginamos, experimentamos a IA para três imagens estáticas, que editamos posteriormente e que aparecem como interlúdios muito breves no filme.”
O uso de IA também gerou problemas para um consultor de marketing contratado para criar o trailer de Megalópolis, épico de ficção científica do diretor Francis Ford Coppola.
Segundo a Variety, o trailer usou citações de publicações comerciais de destaque que supostamente criticavam o trabalho anterior de Coppola. No entanto, conforme observado pela revista, as citações foram verificadas e não eram reais — aparentemente, a IA foi usada para gerá-las.
Por conta disso, a distribuidora de Megalópolis, Lionsgate, retirou o trailer e dispensou o consultor da campanha do filme.
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O post Uso de IA pode prejudicar indicações de “Emilia Pérez” e “O Brutalista” ao Oscar? Entenda apareceu primeiro em Forbes Brasil.