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O clima seco e os incêndios que atingiram boa parte dos canaviais, principalmente em São Paulo, em meados de agosto, não impactaram a produção de açúcar em 2024. No entanto, para este ano, Plínio Nastari, presidente da Datagro, empresa que faz monitoramento de safras e análises de mercado, acredita que as condições climáticas serão melhores e já enxerga bom começo da safra 2025/26. Nastari, de 67 anos, é um dos maiores especialistas nessa cadeia produtiva e faz parte da lista 50 Over 50, da Forbes Brasil.
O Brasil já começa a caminhar para esse feito, já que no ano passado o país embarcou 33,5 milhões de toneladas de açúcar de cana bruto por US$ 15,9 bilhões (R$ 97,4 bilhões na cotação atual), aumentos de 23,8 % e 19,4%, respectivamente, em comparação ao ano anterior. O resultado se deve ao aumento da produção, que na safra 2023/24 chegou a 45,7 milhões de toneladas.
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O etanol derivado da cana-de-açúcar também não ficou de fora das exportações, embora tenha tido uma queda nas vendas. Em 2024, o Brasil embarcou 1,8 milhão de metros cúbicos de etanol por US$ 1 milhão (R$ 6 milhões). Em 2023, o país exportou 2,5 milhões de metros cúbicos por US$ 1,6 milhão (R$ 9,8 milhões).
Em entrevista à Forbes, Nastari espera um aumento da produção de açúcar e etanol, no caso do último, puxado a partir do milho. Ele ainda destaca que em 2025 a cadeia sucroenergética deve atingir a neutralidade carbono. Confira a entrevista completa:
Quais são as perspectivas para a produção brasileira de açúcar e etanol em 2025?
Na nossa avaliação, a safra 2025/26 está sendo construída com uma condição climática mais favorável do que a do ano passado. Temos chuvas dentro da média normal histórica ou até acima em algumas microrregiões. A depender da continuidade desse quadro até os meses de março e abril, devemos ter, principalmente no segundo semestre de 2025, uma condição de canavial mais favorável do que tivemos em 2024.
Para o primeiro terço da safra 2025/26, a cana ainda está com desenvolvimento fisiológico atrasado, com uma infestação de mato maior do que a do ano passado e sofrendo, em alguns casos, o efeito das falhas de brotação que foram causadas por conta dos incêndios e do clima seco observado em 2024.
No ano passado, os produtores tiveram dificuldade para executar o mix desejado e planejado por conta da qualidade de matéria-prima baixa, o que dificultou a cristalização dos açúcares contidos na cana. Para 2025, a expectativa é de que esse problema não se repita e as usinas consigam executar um mix de produção alinhado com a precificação de mercado futuro que realizaram aproveitando os preços mais elevados de açúcar no mercado internacional.
Então, a nossa previsão é de que o mix para açúcar se recupere em 2025 e a produção em volume de açúcar na região centro-sul volte a se aproximar dos níveis observados na safra 2023/24.
A produção de etanol deve continuar crescendo devido a continuidade da expansão da produção a partir do milho, que atingiu 8,1 bilhões de litros em 2024/25, e a nossa expectativa é de que chegue a 10 bilhões em 2025/26.
Quais devem ser as tendências com relação à sustentabilidade e inovação tecnológica na cadeia?
Quanto à sustentabilidade e inovação tecnológica, o setor continua fazendo investimentos vultosos nessa direção e a expectativa é de que já a partir de 2025, tecnologias disruptivas, como é o caso da semente de cana, sejam lançadas comercialmente, o que deve resultar em redução do investimento em plantio, a possibilidade de redução do prazo, do número de anos do ciclo de desenvolvimento da cana-de-açúcar e um aumento de produtividade.
Isso deve ter implicações em diferentes escalas, como aumento de competitividade, redução do etanol, adicional da pegada de carbono da produção de etanol de cana, e continuidade nos processos de diversificação, visando substituição do uso de diesel e uso mais racional de químicos e de produtos de proteção de cultivo.
Isso tudo fará com que a nota de eficiência energética ambiental avaliada no âmbito do Renovabio continue evoluindo, o que deve continuar direcionando o setor na direção da neutralidade de carbono.
Quais são os desafios que o açúcar e o etanol brasileiro devem enfrentar em 2025?
O principal desafio que o setor, que é de capital intensivo, deve enfrentar é a taxa de juros elevada. Obviamente, a continuidade de medidas protecionistas em mercados-chave como União Europeia e Estados Unidos também pode ser um obstáculo.
Quais são as expectativas para as exportações? Haverão novos mercados?
Novos mercados têm sido desenvolvidos para etanol de baixo carbono do Brasil. Em 2025, vejo o país se consolidando cada vez mais como o maior exportador e garantindo o abastecimento dessa commoditie a nível global, representando mais de 75% das exportações mundiais de açúcar cru e cerca de 60% dos embarques totais de açúcar cru e branco.
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