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A pandemia do coronavírus até pode ter acabado, mas os efeitos da crise ainda persistem em diversos setores. Um deles é o aéreo — em que a conta chegou com alguns anos de atraso.
No Brasil e no resto do mundo, dezenas de empresas do setor enfrentam problemas financeiros, com muitas delas entrando em recuperação judicial — um fantasma que assombrou a Azul durante o ano inteiro. Só no pós-pandemia, empresas como Aeromexico, LATAM e Gol passam ou passaram por processos de recuperação judicial.
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Não por acaso, a companhia teve o pior desempenho do Ibovespa em 2024, com uma queda de 77%.
Problemas com endividamento acumulado nos últimos anos — mesmo antes da pandemia —, briga com credores e um dólar mais alto pressionando os custos operacionais fizeram com que a empresa flertasse com a recuperação judicial — preocupando os investidores.
Mas parece que os ventos estão virando. Pelo menos é isso o que indica os primeiros pregões de 2025. Até o momento, a companhia aérea acumula alta de 25%, repercutindo os diversos acordos recentes para melhor o perfil de sua dívida e a possibilidade de uma eventual fusão com a Gol (ainda que a companhia esteja em recuperação judicial nos Estados Unidos e tenha os seus próprios demônios).
Azul: a pior ação do Ibovespa
Os problemas da Azul começaram muito antes do primeiro pregão de 2024.
Durante a crise do coronavírus, a maior parte dos aeroportos se mantiveram fechados, com os aviões sem sair do chão. As empresas deixaram de gerar receita, mas os custos altos continuaram existindo. As dívidas, em sua maioria feitas em dólar, se acumularam. Compromissos financeiros com credores antigos não foram cumpridos.
Em geral, mesmo em tempos de economia pujante, gerar caixa para uma empresa de transporte aéreo não é tão fácil assim. O problema é simples de entender: enquanto a receita entra no caixa em Reais, ela sai para pagamentos de dívidas em dólar. Em tempos de câmbio pressionado, o balanço das companhias sofrem e nem mesmo o aumento de preço das passagens é capaz de compensar.
No fim de 2023, a Azul tinha uma dívida bruta de R$ 23,1 bilhões — com apenas 4% desse total contratado na moeda local. Até o terceiro trimestre de 2024 (o último balanço corporativo apresentado), a empresa acumulava débitos de R$ 28 bilhões. Parte do vilão pelo crescimento da dívida é o dólar, que foi de R$ 4,90 para R$ 5,45 em menos de um ano.
O volume de alavancagem da companhia não seria um problema tão grande se o perfil do endividamento fosse de longo prazo.Em 2024, a Azul se viu confrontada com um grande volume de dívida que venceria no curto prazo e pouco mais de R$ 1 bilhão no caixa.
O acúmulo de problemas chegou ao seu ápice quando a Azul se viu pressionada pelos arrendadores de aeronaves e equipamentos. Sem eles, manter a companhia aérea operando sem uma recuperação judicial seria uma missão impossível.
Depois de meses de longas negociações, a companhia chegou a um acordo com essa classe de credores, renegociando cerca de 98% de suas dívidas, com isso, reduziu o seu passivo em mais de R$ 4,4 bilhões pagando cerca de R$ 3 bilhões em emissão de novas ações da companhia.
“Para se desvencilhar da recuperação judicial, ela precisou trabalhar em três frentes: renegociação com credores, captação de novos recursos utilizando a Azul Cargo como garantia e acesso ao crédito do Fundo Nacional de Aviação Civil (Fnac) que o governo implementou”, explica Hayson Silva, analista da Nova Futura Investimentos. “Ela tirou um peso das costas e conseguiu se organizar para agora atravessar esse momento conturbado que está no setor”.
Fazendo a lição de casa
Além do acordo com os arrendadores, a Azul conseguiu um financiamento adicional de US$ 500 milhões (R$ 3 bilhões) com os seus credores — US$ 150 milhões pagos imediatamente e o restante a ser pago até o fim do ano. O acordo também prevê a possibilidade de converter US$ 800 milhões em dívidas em ações da companhia.
Com o alívio no fluxo de caixa, os papéis AZUL3 chegaram a ensaiar uma recuperação na bolsa de valores, mas não foi o suficiente para apagar as perdas acumuladas ao longo do ano.
Para Haylson, o tripé de reestruturação da companhia foi bem-sucedido. Agora, o que pesa sobre o fluxo de caixa é o cenário macroeconômico de dólar a R$ 6,05 e a taxa Selic prevista para encostar nos 15% ao ano. No geral, a lição de casa foi bem feita.
Reviravolta no ar?
A alta de 25% em 2025 é uma continuidade da arrumação de casa — e uma pitada de expectativa.
Desde o ano passado, rumores sobre uma eventual fusão da Azul com a Gol anima o mercado. Apesar da situação delicada do caixa das duas companhias, os bancos de investimento veem espaço para uma consolidação maior do mercado e melhor resolução dos problemas financeiros.
Nos últimos dias, o Valor Econômico noticiou que as duas empresas estão próximas de assinar um memorando de entendimento para efetivar a operação.
Na semana passada, o impulso dos papéis veio de Brasília. A Procuradoria-Geral da Fazenda Nacional (PGFN) facilitou a vida das duas empresas ao fazer um acordo para regularizar cerca de R$ 2,5 bilhões em dívidas tributárias. Como garantias, a Azul ofereceu slots aeroportuários, espaços de mídia nos aviões e contratos vigentes com órgãos públicos.
Sem a sombra de dívidas que vencerão no curto prazo, a Azul agora se prepara para levantar voo. A questão que fica é o quão sustentável são as soluções encontradas até agora.
Escolhas do editor
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