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Formado em direito pela Universidade de Dublin, Damien Kieran, atualmente morador da baía de São Francisco, nos Estados Unidos, já ocupou cargos estratégicos em importantes empresas de tecnologia americanas. Foi vice-presidente de dados e privacidade do Twitter, atuou como executivo da rede social BeReal e, em junho deste ano, assumiu como Chief Privacy Officer (CPO) da Tools For Humanity, startup fundada por Sam Altman, cofundador da OpenAI, dona do ChatGPT.
A empresa foi criada em 2019 por Sam e o empreendedor alemão Alex Blania, atual CEO. Seu principal negócio: “criar uma identidade digital que garanta que o cidadão em questão é um ser humano”. No Brasil, a TFH voltou a operar no início de novembro dentro do chamado projeto World. Atualmente, conforme explica Damien Kieran, a empresa já possui 10 pontos de coleta de informação em São Paulo.
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A TFH chegou ao Brasil com um plano piloto, no ano passado, e agora retornou de forma estruturada. Em entrevista à Forbes Brasil durante o Web Summit, evento de tecnologia e inovação que ocorreu em Lisboa na segunda semana de novembro, onde ele foi um dos palestrantes, Damien destaca o potencial do mercado brasileiro, explica o funcionamento da tecnologia e esclarece que o “objetivo não é verificar a identidade das pessoas, mas sim a humanidade delas”. E isso ocorre pela troca por uma criptomoeda chamada de Worldcoin.
Forbes Brasil – Qual a complexidade do negócio da TFH em um país com mais de 200 milhões de habitantes como o Brasil?
Damien Kieran – Entendemos a complexidade do Brasil, mas também enxergamos o seu potencial. O objetivo do protocolo é ajudar a verificar o maior número possível de pessoas no mundo e proporcionar a elas acesso à economia global e, para atingir este objetivo, o Brasil precisa ser contemplado. O projeto visa atender às necessidades de uma ampla gama de pessoas e as localizações operacionais podem mudar ao longo do tempo para atender melhor à demanda dos usuários.
“Nossa proposta é verificar a humanidade, não a identidade. A World quer saber que uma pessoa é humana e única, não quem ela é”
FB – Inicialmente, como será a operação no Brasil?
Damien – A World trabalha com operadores em todos os países onde atua. Esses operadores fornecem serviços de prova de humanidade e são empresas ou empreendedores locais que ajudam as pessoas a acessar a rede World. Os operadores não são funcionários da World Foundation ou da TFH e conduzem suas operações de forma independente, mas se espera que sigam um código de conduta rigoroso, bem como as leis locais. Neste primeiro momento, teremos aproximadamente 10 locais de verificação de humanidade em vários pontos da cidade de São Paulo.
FB – Qual o grande desafio hoje da verificação humana e quais as oportunidades dessa tecnologia?
Damien – Acredito que o maior desafio não é a tecnologia em si, mas sim os mal-entendidos em torno do protocolo e de como ele funciona, o que pode gerar alguma confusão e hesitação. Por isso, uma das coisas mais importantes que podemos fazer é ajudar as pessoas a entenderem como ele funciona e as oportunidades que ele traz. Há muitas possibilidades, mas, no fundo, poder saber com confiança que você está interagindo com uma pessoa real online é algo transformador — não apenas hoje (como evitar bots ou interações indesejadas em plataformas como o Tinder), mas também ao olharmos para o futuro com a IA.
FB – Em um mundo cada vez mais regido pela IA, comprovar a humanidade será um grande diferencial?
Damien – Acreditamos que sim. O avanço da IA tornará a internet mais útil do que nunca, mas também trará crescentes desafios, como scambots, deepfakes e outras fraudes de identidade e desinformação. Por conta desse rápido avanço, a humanidade enfrenta uma questão fundamental da coexistência entre humanos e IA de forma produtiva. Por isso, em nosso entendimento, sistemas de prova de humanidade serão essenciais para capacitar humanos e gerar confiança nas transações digitais.
FB – Pode explicar em detalhes as tecnologias envolvidas em uma verificação de identidade?
Damien – Nossa proposta é verificar a humanidade, não a identidade. A World quer saber que uma pessoa é humana e única, não quem ela é. O protocolo usa tecnologias que são conhecidas como Privacy Enhancing Technologies (PETs). As duas principais PETs utilizadas no protocolo são: Provas de Conhecimento Zero (ZKP, Zero Knowledge Proof) e AMPC, ou Anonymized Multi-party Computation (computação multipartidária anônima), que é a próxima geração de computação quântica da tecnologia de Computação Multipartidária Segura (SMPC), que possibilita anonimizar e proteger de forma segura os códigos de íris dos titulares do World ID verificados pelas Orbs.
“Acredito que o maior desafio não é a tecnologia em si, mas sim os mal-entendidos em torno do protocolo e de como ele funciona, o que pode gerar alguma confusão e hesitação”
FB – Como ela funciona operacionalmente?
Damien – Ela consiste em tirar fotos de alta resolução da íris, feita em um dos pontos de verificação da World por meio de um dispositivo que se assemelha a uma câmera fotográfica, chamado Orb. Por meio de tecnologias criptográficas como provas de conhecimento zero (ZKP) e AMPC, ou Anonymized Multi-party Computation (computação multipartidária anônima), a Orb permite que os indivíduos demonstrem que são humanos sem precisar vincular essa demonstração a dados pessoais ou de identidade, mantendo-se anônimos. O processo dura apenas alguns segundos. Uma vez tirada a fotografia, a Orb converte a imagem em um código, anonimiza o código, encripta os dados pessoais de ponta-a-ponta, envia o pacote de dados pessoais (conhecido como Pacote de Custódia Pessoal de Dados) ao celular do usuário, exclui a informação pessoal e apenas o código anonimizado é retido. Em outras palavras, o usuário tem o controle dos seus dados pessoais.
“O avanço da IA tornará a internet mais útil do que nunca, mas também trará crescentes desafios, como scambots, deepfakes e outras fraudes de identidade e desinformação. Por conta desse rápido avanço, a humanidade enfrenta uma questão fundamental da coexistência entre humanos e IA”
FB – Quais os desafios éticos e morais desse processo de verificação humana?
Damien – Acho que o principal desafio é educar as pessoas sobre a questão da privacidade de dados e como o protocolo funciona para garantir isso por padrão. A World tem a privacidade como pilar fundamental. O protocolo não visa coletar dados biométricos de indivíduos e tem como propósito fornecer às pessoas uma credencial anônima de humanidade, baseada em um código único extraído da sua íris, que está anonimamente protegida, para que as pessoas possam ter uma prova de humanidade e se capacitar na era da IA. Além disso, a imagem da íris, que não é retida ou guardada, não revela informações pessoais, como nome, endereço ou RG das pessoas; ela é usada apenas para confirmar que um ser humano é único e anônimo interagindo online ou em qualquer ambiente digital.
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