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Espécies protegidas desfrutam de vidas privilegiadas, livres de predadores e doenças, até que eventos fora de controle ameacem essa estabilidade. No mundo atual, é exatamente isso que enfrentamos: mudanças climáticas, pandemias repentinas, riscos geopolíticos críticos e a ainda desconhecida e inquietante inteligência artificial compõem o que especialistas chamam de uma “tempestade perfeita”. Enquanto uns enxergam essas questões como ciclos históricos, outros acreditam que estamos à beira de uma transformação profunda na civilização.
Há quem já esteja se preparando para esse cenário. Os paranoicos, por exemplo, têm desde abrigos antinucleares a acampamentos fortificados – como um em Nevada, nos EUA, que vende cotas por US$ 20 mil (R$ 112 mil), com treinamento opcional de sobrevivência na selva.
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Como ficam os super-ricos nessa história? Os indivíduos de ultra-alta renda líquida (UHNW, na sigla em inglês) estão agora olhando das janelas à prova de choque de suas coberturas em Central Park, suas villas no Lago de Como ou seus helipontos privados em Hong Kong, com um horizonte em meio a uma névoa de incertezas. Muitos estão avaliando suas próximas opções de destino.
É aqui que entra o mercado imobiliário superluxuoso. Houve um tempo em que luxo significava um diamante ou um jantar no The Ritz. Hoje, o conceito de luxo está sendo redefinido. Já não se trata de um relógio de grife, mas sim segurança, privacidade, isolamento e fuga.
Protegido por camadas múltiplas de senhas criptografadas e acordos de confidencialidade, o novo projeto de Mark Zuckerberg na ilha de Kauai, no Havaí, a 3,8 mil quilômetros do continente americano, está levando o conceito de privacidade a novos limites. Por exemplo, o perímetro de 567 hectares da área em construção é defendido por torres de vigilância. Os trabalhadores são transportados sob instruções estritas de não fotografar o projeto, sob pena de demissão imediata. De acordo com um relatório da Wired de 2023, documentos públicos de planejamento indicam uma compra de terreno por US$ 170 milhões (R$ 952 milhões) e um custo de construção de US$ 100 milhões (R$ 560 milhões) para concluir 12 edifícios separados, com 30 quartos e 30 banheiros, centrados em duas mansões, em uma área de 5.295 metros quadrados – tamanho comparável ao de um campo de futebol americano médio.
O projeto do bilionário inclui ainda um bunker subterrâneo de 465 metros quadrados, com suprimentos próprios de energia e alimentos. A Wired o descreve como “um opulento Xanadu tecnológico”. Ainda não se sabe como Zuckerberg chamará o projeto, mas há especulações sobre “Strangelove”.
Ken Jacobs, diretor da Private Property Global, sediada em Sydney, acredita que a pandemia foi um marco que provocou uma mudança sísmica nas prioridades das pessoas, especialmente os super-ricos. “Para muitos, a Covid-19 resultou em um foco maior na mortalidade e na reavaliação da vida”, afirma. “Equilíbrio tornou-se a palavra de ordem. Paralelamente ao instinto humano básico de buscar segurança, está o fato de que maior riqueza traz maiores opções.”
Embora grande parte do discurso sobre incertezas venha dos Estados Unidos, Jacobs é enfático ao dizer que essa mudança de prioridades dos clientes está acontecendo globalmente. “Aqui na Austrália, estou presenciando um aumento no interesse de compradores internacionais em busca de refúgios seguros. Um pequeno, mas crescente, número de indivíduos UHNW deseja locais totalmente autossustentáveis, antecipando o que veem como um caos iminente.”
Esse pensamento começou a ganhar força quando a pandemia avançava em 2021. Na época, o South China Morning Post relatou que as consultas globais de ultra-ricos interessados em ilhas privadas haviam dobrado nos últimos 12 meses, enquanto agentes na Polinésia Francesa registraram um aumento de cinco vezes no interesse. Eles não foram os únicos. Desde então, os requisitos – assim como os eventos globais que os impulsionam – tornaram-se mais complexos.
Embora uma ilha privada ofereça isolamento, não é a única solução para quem busca refúgio contra possíveis tempestades. Profissionais do topo do mercado imobiliário superluxuoso sabem que os UHNW valorizam a conexão com outros indivíduos semelhantes.
Propriedades expansivas na Nova Zelândia, Austrália, Havaí e Costa Rica – locais onde habitats naturais oferecem tranquilidade, e a estabilidade política proporciona uma espécie de alívio – devem continuar atraindo a atenção daqueles com meios e mente aberta para explorar novos horizontes.
O que é certo? Fazer previsões de tendências é, em si, um jogo de incertezas. Mas os refúgios convencionais onde a riqueza se protegia no passado parecem estar em migração. À medida que o futuro desafiador se desenrola e o eixo de poder global inclina-se para o leste, o olhar dos visionários acompanha esse movimento.
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