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No início de 2024, no coração de uma pequena aldeia italiana chamada Castel Del Giudice, cercada por pomares de maçãs e bem conhecida por seu circuito Città del Bio (Cidade Orgânica), Harry Wright, fundador e CEO da consultoria ambiental britânica Bright Tide, foi apresentado a um sistema de agricultura que transformou o seu negócio para sempre.
Quem poderia imaginar que uma conversa casual com Carmine Valentino Mosesso, um jovem agricultor e poeta dedicado à agricultura regenerativa, deixaria uma marca permanente em Wright, e moldaria sua ambiciosa visão para o futuro da agricultura?
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Mosesso é um dos últimos agricultores tradicionais nas montanhas de Molise, região do sul da Itália, um guardião das antigas tradições de pastoreio passadas de geração para geração. Ele tem cuidado de sua fazenda com sistema regenerativo com o compromisso de preservar a terra e aprimorar sua biodiversidade. Seus esforços transformaram a paisagem, trazendo vida para ecossistemas negligenciados e criando um refúgio para a vida selvagem.
Um dos resultados mais impressionantes foi o retorno dos lobos à região. Longe de seu habitat por um longo tempo, eles retomaram seu lugar no delicado equilíbrio que Mosesso se dedicou incansavelmente para restaurar e agora são uma presença regular nas proximidades da propriedade.
Foi nesse lugar que Wright aprendeu sobre o poder transformador da agricultura regenerativa — uma alternativa às práticas extrativas da produção convencional de alimentos. Em vez de esgotar recursos, os métodos regenerativos se concentram na restauração e melhoramento dos ecossistemas terrestres e marinhos. Essas práticas formam solos mais saudáveis e que podem sequestrar carbono, construir resiliência, melhorar a biodiversidade e ajudar a mitigar as mudanças climáticas.
Ao adotar a técnica, a agricultura regenerativa não só protege o meio ambiente, mas também melhora as condições de vida dos produtores rurais, criando um modelo para um futuro mais resiliente e sustentável.
Wright resolveu incorporar esses ensinamentos em sua consultoria e começou a imaginar um mundo onde os agricultores não apenas produziriam alimentos, mas também fossem capazes de restaurar paisagens, tornando a a produção rural uma poderosa aliada na luta contra a degradação ambiental.
De volta ao Reino Unido, ele se baseou em sucessos anteriores com os aceleradores Blue Economy e Blue Carbon, da consultoria britânica de sustentabilidade, Bright Tide, que possui programas de aceleração de startups de impacto oceânico e de carbono azul, ou seja, carbono capturado da atmosfera e oceanos, e armazenado nas plantas e no solo de ecossistemas marinhos e costeiro.
Wright transformou o que viu em ação e criou um Programa de Agricultura Regenerativa, que busca capacitar produtores ao redor do mundo, com ferramentas para expandir seus esforços, se tornarem rentáveis e criarem um impacto significativo e de longo prazo.
Um dos elementos da iniciativa da Bright Tide é sua abordagem “wholescape”, que na tradução significa “paisagem completa” ou “cenário total”. Ao contrário dos programas tradicionais que separam terra e mar, ela reconhece a interdependência dos ecossistemas marinhos e terrestres.
Sangeeta Laudus, conselheira sênior da Bright Tide, explica: “Desde o escoamento de nutrientes na agricultura intensiva até o uso de bioestimulantes de algas marinhas para melhorar a saúde do solo, o programa ajuda os produtores rurais a enxergar seu impacto como parte de uma teia ecológica maior”. O programa foi lançado em fevereiro de 2024 e convidou 20 organizações para a primeira turma.
Participaram iniciativas baseadas em terra, como a Chirrup AI, uma plataforma de gerenciamento de biodiversidade para fazendas, e a New Foundation Farms, empresa de alimentos e agricultura vertical integrada, ambas no Reino Unido. De sistemas oceânicos participaram a Ficosterra, empresa espanhola de biotecnologia marinha especializada em produtos agrícolas, e a The Oyster Restoration Company, que ajuda a regenerar recifes de ostras nativas do Reino Unido.
O programa leva a uma experiência imersiva e prática. “Em vez de serem aprendizes passivos, eles estavam ativamente imersos em workshops conduzidos por especialistas e mentorias individuais, com orientação exclusiva de parceiros de peso, como Hogan Lovells, Kennedys e Ecosulis”, afirma Wright. “Além do conhecimento, o programa ofereceu oportunidades para construir parcerias estratégicas, conectar-se com investidores e fazer networking com jogadores chave do mundo corporativo. Foi tanto sobre colaboração e aplicação prática quanto sobre educação”, explica.
Além de salas de aula e laboratórios, o programa se estende para experiências em locais únicos com pessoas influentes, incluindo um evento de lançamento na sede do escritório de advocacia Hogan Lovells, com a ministra do clima do Reino Unido, Kerry McCarthy como palestrante principal, e sessões interativas com a Conservative Environment Network (CEN), fórum independente no país que apoia a neutralidade carbônica.
Uma recepção no Parlamento, na Câmara dos Comuns do Reino Unido, em colaboração com o Bankers for Net Zero – entidade que reúne bancos, empresas, formuladores de políticas e reguladores para acelerar a transição da economia local para a neutralidade de emissões – contou com palestrantes como Vincent Doumeizel, autor do livro “A revolução das algas” e ex-ministro das pescas, Mark Spencer, que falou sobre a necessidade de colaboração entre os setores público e privado para impulsionar o movimento regenerativo.
Para participantes como Megan Sorby, fundadora de empreendimentos da Flórida, nos Estados Unidos, que se dedica à agricultura circular, o programa abriu novas possibilidades. “A capacidade de Harry e sua equipe de unir governo, ONGs, a indústria privada e investidores para iniciar discussões cruciais não pode ser subestimada”, disse ela.
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A empresa de Sorby, a Pine Island Redfish, recupera nutrientes residuais e os reutiliza para cultivar plantas tolerantes ao sal, como manguezais e beldroegas, que desempenham um papel crucial na estabilização das costas marítimas e fornecem habitats naturais para peixes e outras espécies. Thomas Gent, fundador da Gentle Farming, uma fazenda regenerativa do Reino Unido, também destacou o impacto do programa: “Fiz conexões que realmente impulsionaram meu negócio”.
O programa acelerador de oito semanas culminou com uma apresentação de empreendimentos na sede do banco britânico Barclays, em Canary Wharf, onde a turma apresentou suas ideias para investidores de alto perfil e entusiastas da sustentabilidade. Para muitos, o ponto alto do dia foi a palestra de Andy Cato, fundador da Wildfarmed, negócio que busca mudar paisagens produzindo farinha e pães, e ex-ícone da música com o Groove Armada.
A transição de Cato do mundo da música para a regenerativa reflete o crescente reconhecimento de que ela não é apenas um movimento rural, mas que atravessa indústrias e fronteiras. Sua empresa fornece pão rico em nutrientes para escolas e lojas locais, e sua história ressoou com o público como um lembrete de que qualquer pessoa, independentemente de seu histórico, pode contribuir para essa mudança.
Em um mundo de crises ambientais em escalada, a Bright Tide está evoluindo para enfrentar desafios urgentes, como as mudanças climáticas, a perda de biodiversidade e a degradação do solo. Por meio de suas colaborações, a entidade está promovendo soluções regenerativas que se alinham com a natureza. Com a mudança nas regulamentações da União Europeia (UE), como a Lei de Restauração da UE e o crescente escrutínio das cadeias de suprimento globais, a mudança é inevitável. A agricultura regenerativa não é mais apenas uma inovação promissora. “A agricultura regenerativa não é uma tendência — é uma necessidade”, diz Laudus, defensora de longa data da interconexão dos ecossistemas, que vê a agricultura regenerativa como parte de um quebra-cabeça maior.
A Bright Tide, recentemente, lançou um Relatório de Impacto onde mostra como usar inteligência artificial (IA) para promover soluções para os agricultores globalmente. O Programa de Aceleradora de Agricultura Regenerativa com IA, em parceria com a EY, consultora de tecnologia, e a Microsoft, começou em agosto e terminou neste mês de novembro. A ferramenta serve para conectar os produtores a ferramentas impulsionadas por IA, e podem analisar a saúde do solo, otimizar o uso da água e monitorar a biodiversidade em tempo real.
Em outubro deste ano, a Bright Tide também lançou a Sustain.AI Accelerator na Gitex, em Dubai, um dos maiores eventos de tecnologia do mundo. O Sustain.AI oferece uma plataforma para startups que atuam em áreas como biodiversidade, energia e clima, para desenvolver soluções que possam causar um impacto mensurável nos desafios ambientais.
Esse movimento mostra que Wright permanece firme em sua crença de que a agricultura pode ser um meio para a saúde planetária. O trabalho de sua equipe está longe de terminar, com planos já em andamento para a próxima edição do Programa de Agricultura Regenerativa, em 2025. “O estado do nosso mundo natural é assustador, mas estamos empolgados com as oportunidades de transformação”, diz ele. “Continuar como está não é uma opção, mas para aqueles que estão à frente da curva, há um mundo de possibilidades”.
Em um mundo que busca respostas para as crises ambientais, os esforços da Bright Tide lembram de que, às vezes, as ideias mais revolucionárias são as mais simples: deixar a natureza liderar o caminho.
*Daphne Ewing-Chow é colaboradora da Forbes EUA. Jornalista especializada em sistemas alimentares e meio ambiente, já passou pelo The New York Times, The Sunday Times (Londres) e Entrepreneur Magazine, além do Programa Mundial de Alimentos, das Nações Unidas.
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