Vem aí o vinho de umbu, uma das frutas mais exóticas da Caatinga brasileira

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Vinho de Umbu, criado pelos pesquisadores da Embrapa

O umbu, fruto emblemático do bioma Caatinga, pode em breve conquistar um lugar de destaque no mercado de bebidas. Um estudo realizado pela Embrapa (Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária), em parceria com a Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), mostra que o fruto é uma matéria-prima promissora para a produção de uma bebida alcoólica fermentada e naturalmente gaseificada, semelhante a um vinho espumante.

De acordo com os pesquisadores, o novo produto já apresentou excelente aceitação em testes com consumidores. “O fermentado de umbu gaseificado foi bem avaliado pelos brasileiros, com boas perspectivas de mercado”, afirma Aline Biasoto, pesquisadora da Embrapa Meio Ambiente, unidade localizada em Jaguariúna (SP). Aline ressalta ainda que o teste de intenção de compra reforçou o potencial da bebida, embora ajustes no teor de açúcar sejam necessários para intensificar o aroma e o dulçor característicos do umbu. Esses atributos são considerados fundamentais para atrair um público cada vez mais interessado em bebidas diferenciadas.

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O mercado de bebidas fermentadas está em plena expansão, com consumidores buscando alternativas inovadoras e sabores únicos. Segundo Aline, o fermentado de umbu gaseificado tem potencial para conquistar nichos internacionais, especialmente em regiões que valorizam produtos autênticos e sustentáveis. “Bebidas fermentadas de frutas estão ganhando espaço, e o umbu pode ser um diferencial competitivo, unindo qualidade, sustentabilidade e um toque de brasilidade”, diz ela.

O mercado global de bebidas fermentadas de todos os tipos tem apresentado crescimento significativo nos últimos anos. De acordo com a Mordor Intelligence, seu tamanho foi estimado em US$ 2,27 trilhões em 2024 (R$ 13,2 trilhões na cotação atual), com projeção de atingir US$ 3,06 trilhões até 2029 (R$ 17,8 trilhões), registrando uma taxa de crescimento anual composta (CAGR) de 6,20% durante o período de 2024 a 2029. Outro relatório, o da Data Bridge Market Research, indica que o mercado de bebidas fermentadas foi de US$ 3,59 bilhões (R$ 20,8 bilhões) em 2022 e projeta-se que alcance US$ 5,68 bilhões até 2029 (R$ 33 bilhões), com um CAGR de 5,90% entre no período.

Inovação para Reduzir Perdas e Agregar Valor

Por ser um fruto perecível, o umbu enfrenta desafios de conservação, o que resulta em altas taxas de desperdício após a colheita. A transformação do umbu em um fermentado gaseificado representa não apenas uma oportunidade de diversificação econômica, mas também uma estratégia para minimizar perdas. Além disso, o produto atende à demanda por inovação no mercado de bebidas, que tem explorado cada vez mais ingredientes exóticos e processos sustentáveis.

Árvore de umbru, fruta do bioma Caatinga

“O umbu é um recurso valioso para as famílias agricultoras do Semiárido”, explica Saulo de Tarso Aidar, pesquisador da Embrapa Semiárido,  em Petrolina (PE), e coordenador do projeto. Segundo ele, a coleta de frutos, tradicionalmente feita de forma extrativista, tem ganhado um impulso adicional com o incentivo ao cultivo planejado. “Com as novas cultivares desenvolvidas pela Embrapa, os agricultores podem melhorar a produtividade e a qualidade dos frutos, criando uma base mais sólida para a produção de bebidas e outros produtos alimentícios.”

O Processo de Produção: Método Tradicional com Sabor Regional

O fermentado de umbu gaseificado é elaborado pelo método tradicional, o mesmo utilizado na produção de espumantes de alta qualidade, como o Champagne. O processo envolve duas etapas de fermentação. Na primeira, a polpa do umbu é diluída em água, fermentada com levedura Saccharomyces cerevisiae e açúcar (chaptalização), resultando no “vinho base”. Na segunda etapa, a bebida passa por uma nova fermentação dentro da garrafa, após a adição do licor de tiragem — uma mistura de açúcar e leveduras. O dióxido de carbono produzido durante essa fase é aprisionado no líquido, formando as bolhas características do espumante.

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Esse método confere ao produto final um perfil sofisticado, ampliando seu apelo junto a consumidores que valorizam bebidas artesanais e de alto padrão. Além disso, os compostos aromáticos naturais do umbu, como ésteres e terpenos, são preservados, conferindo à bebida notas frutadas e florais. Juliane Elisa Welke, professora da UFRGS, destaca que os ésteres etílicos e os terpenos, identificados em análises químicas, são responsáveis pelos aromas mais marcantes do fermentado de umbu, tornando-o único no mercado.

Impactos Econômicos e Ambientais

A produção de fermentados de frutas como o umbu não é apenas uma inovação para o mercado, mas também uma oportunidade para fortalecer a economia de regiões vulneráveis. No Semiárido brasileiro, onde a escassez de água e as condições climáticas adversas limitam a agricultura, o umbuzeiro se destaca como uma espécie resiliente. A árvore, que frutifica nos primeiros meses do ano, é capaz de produzir quantidades expressivas mesmo em solos áridos.

Para Aidar, a industrialização do umbu pode ser um divisor de águas para a economia local. “Além de gerar renda, o processamento do fruto contribui para a economia circular e a sustentabilidade no Semiárido”, avalia. O pesquisador acredita que o desenvolvimento de uma cadeia produtiva estruturada, com foco em produtos de alto valor agregado, pode transformar o umbu em um símbolo de inovação regional.

Pesquisas e Parcerias

O estudo sobre o fermentado de umbu gaseificado é parte de um esforço maior, financiado pela Finep, para promover o uso sustentável da biodiversidade da Caatinga. Intitulado “Uso e Conservação da Biodiversidade Nativa da Caatinga com Potencial Frutífero e Ornamental”, o projeto é coordenado pela Embrapa Semiárido, em colaboração com universidades e centros de pesquisa de várias regiões do Brasil.

Além de Aline Biasoto e Saulo de Tarso Aidar, o time de pesquisadores inclui Bárbara França Dantas, da Embrapa Semiárido, Juliane Elisa Welke e Cláudia Alcaraz Zini, da UFRGS, e outros especialistas da Universidade do Estado da Bahia (Uneb) e da Universidade Federal da Paraíba (UFPB). O trabalho representa um marco na valorização do umbu como uma solução econômica e sustentável para o Semiárido. (Redação, com Embrapa)

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