Por Que o Maior Banqueiro do Bitcoin Está Fazendo Uma Mudança Arriscada?

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Brian Armstrong tem 41 anos de idade

“Estamos em um momento realmente empolgante para o cripto”, entusiasma-se Brian Armstrong, CEO e cofundador da Coinbase, a maior exchange de criptomoedas de capital aberto do mundo. “Está ocorrendo uma mudança, de a cripto ser primariamente uma classe de ativos que as pessoas querem negociar, para se tornar algo cada vez mais usado para utilidade diária”, ele insiste.

Quando se trata de criptomoedas, a maioria se preocupa com os preços, e estes têm disparado ultimamente. O Bitcoin mais que dobrou no último ano, atingindo cerca de US$ 58 mil (R$ 317,12 milhões). Mais de 20 ETFs de cripto, que detêm US$ 54 bilhões (R$ 295,25 bilhões) em ativos digitais, estão sendo negociados nos EUA. Com o CEO da Binance, Changpeng Zhao, e Sam Bankman-Fried, da FTX, na prisão, Armstrong emergiu como o porta-voz mais proeminente do movimento.

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Dado que as ações da Coinbase refletem o desempenho do Bitcoin, Brian Armstrong tem uma fortuna estimada de US$ 7 bilhões (R$ 37,8 bilhões). A exchange de criptomoedas que ele cofundou há 12 anos para se tornar o “Gmail do Bitcoin” tem uma capitalização de mercado de US$ 40 bilhões (R$ 218,70 bilhões) e ativos cripto sob sua custódia de US$ 270 bilhões (R$ 1,4 bilhões).

Em 2023, a empresa, que gera cerca de metade de sua receita com taxas de negociação, lucrou US$ 95 milhões (R$ 519 milhões) com uma receita de US$ 3,1 bilhões (R$ 16,95 bilhões). Este ano está se mostrando ainda melhor: nos primeiros seis meses de 2024, a receita da Coinbase chegou a US$ 3,1 bilhões, (R$ 16,95), mas o lucro líquido disparou para US$ 1,2 bilhão (R$ 6,56 bilhões).

Se houvesse algo como uma instituição “Grande Demais Para Falir” no mundo dos ativos digitais, seria a Coinbase. Apenas em termos de Bitcoin, a companhia tem a custódia de 11% de todos os tokens existentes. Já para a segunda moeda digital mais importante, o Ether, sua participação é ainda maior, estimada em 14% de todos os tokens. Desse modo, se a Coinbase entrasse em colapso, as consequências poderiam ser catastróficas.

Nem todos são fãs

Em junho de 2023, a Comissão de Valores Mobiliários dos EUA (SEC) processou a Coinbase por atuar como uma bolsa, corretora e firma de compensação não registradas — atividades que a empresa realiza para mais de 14.500 instituições, além de 8 milhões de clientes de varejo ativos. O caso provavelmente irá a julgamento em 2025.

Os evangelistas das criptomoedas odeiam a ideia de poder centralizado, mas, operacionalmente, a Coinbase se assemelha mais a outras instituições financeiras de comando e controle, como o JPMorgan, do que a algo como uma cooperativa de crédito de propriedade dos funcionários. Seus principais negócios são negociação, custódia e co-gestão (com a Circle) de uma enorme operação de stablecoin de US$ 35 bilhões (R$ 191,72 bilhões), que atrela o valor do token USDC ao dólar americano. A posição dominante da Coinbase permite que ela cobre taxas elevadas. Comprar US$ 5.000 (R$ 27.389) em Bitcoin na bolsa custa US$ 90 (R$ 493); na Kraken, custa US$ 20 (R$ 109); e no Robinhood, é gratuito.

Mas Armstrong é um idealista das criptomoedas e não está completamente satisfeito com essa situação. Ele quer transformar sua máquina de dinheiro, criando toda uma nova infraestrutura para transações rápidas, o que não apenas reduziria as taxas, mas também enfraqueceria o controle das grandes empresas de tecnologia e financeiras.

“A razão pela qual entrei nisso e a missão da Coinbase é aumentar a liberdade econômica no mundo”, ele diz. “A visão aqui é que as criptomoedas vão impulsionar cada vez mais o PIB global. [Elas irão] criar dinheiro sólido, uma infraestrutura financeira sólida para pessoas ao redor do mundo, com taxas mais baixas e menos fricção.”

Plano ousado

O elemento-chave na nova iniciativa corporativa de Armstrong é a Base, que foi lançada em agosto de 2023. A Base é uma chamada plataforma de “Camada 2”. Em vez de ser uma blockchain autossuficiente como o Bitcoin, Ethereum ou Solana, ela foi projetada para melhorar o Ethereum, potencialmente processando milhares de transações por segundo. Isso tudo com um custo inferior a um centavo de dólar por transação. O Ethereum pode lidar com apenas cerca de uma dúzia de transações por segundo, cada uma custando em média US$ 1 (R$ 5,48). É uma grande melhoria, mas ainda bem abaixo das redes financeiras existentes. A rede de processamento global da Visa, a VisaNet, pode lidar com 65 mil transações por segundo.

Armstrong gostaria que sua Base de baixo custo fosse interoperável com outras blockchains baseadas em Ethereum e suportasse versões descentralizadas do Facebook, YouTube, Google, Uber e X. Ele também está trazendo comerciantes como Anheuser-Busch e a Wharton Business School para usar seu serviço Coinbase Commerce, visando plataformas como PayPal, Mastercard e Visa, que cobram taxas de até 3% por transação. O Coinbase Commerce cobra apenas 1%. No entanto, a adoção pelos consumidores tem sido lenta. A rede processa menos de 2 mil transações diárias. A Visa faz essa quantidade a cada segundo.

“Alguns desses negócios podem ter apenas 5% de margem, e 2% disso vai para a rede de cartões”, diz Armstrong. “Não há razão para que isso precise ser assim. É um imposto desnecessário na economia.”

Segundo o analista da Oppenheimer, Owen Lau, espera-se que os 1 milhão de usuários da Base contribuam com US$ 100 milhões (R4 540 milhões) para a receita da Coinbase em 2024. A maior parte disso vem das taxas de negociação (afinal, estamos falando de cripto).

Ironicamente, se a Coinbase tiver ainda mais sucesso com a Base, terá que abrir mão do controle — e compartilhar as taxas. Atualmente, a Coinbase é o único “sequenciador” da Base, um jargão cripto para operador ou supervisor. Para se tornar descentralizada, a Base precisará de mais sequenciadores. Se a Base tivesse quatro sequenciadores, a Coinbase poderia ganhar apenas 25% das taxas totais.

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A conversa sobre taxas mais baixas e diluição de receitas pode não conquistar muitos fãs de longo prazo em Wall Street. No curto prazo, os acionistas parecem não se importar. As ações da Coinbase quase dobraram nos últimos 12 meses. Enquanto o preço das criptomoedas continuar subindo — e os geeks continuarem negociando — Armstrong pode continuar falando tanto quanto quiser sobre seus ideais.

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