Vem aí o Parfait de Codorna Cultivada em Laboratório e que Quer Ser Global

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Parfait de Codorna Cultivada e já vendida em Cingapura

O cientista e bioquímico George Peppou, um grego-australiano de Sydney, já desempenhou várias funções, incluindo a de chefe de cozinha. Não à toa, atualmente ele usa uma rede de cabelo, daqueles vistas em cozinhas de restaurantes, mas o que ele frequenta de fato é o laboratório de uma startup de carne cultivada, a Vow, de Sydney, na Australia, sua terra natal. Com um aporte de capital de US$ 49 milhões (R$ 266,6 milhões na cotação atual) já realizado e outro em andamento, a Vow, que foi recentemente lançada em Cingapura, está se preparando para uma expansão global.

Fundada em 2019, a startup de tecnologia alimentar se autodenomina a “nave espacial” da indústria de carne cultivada. Ela diz que é dona de um produto que é mais ciência do que comida.

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A ideia de criação da startup foi de Peppou e Tim Noakesmith (que deixou o negócio no final de 2022). Ela é a terceira de sua categoria a ser aprovada globalmente para colocar no mercado um produto de carne baseada em células, no caso, um parfait de codorna cultivada que leva a marca Forged.

Mas, embora com aprovação, as duas outras empresas ainda não estão vendendo seus produtos a outros países. Ao contrário da Vow.
A indústria de carne cultivada ainda está em sua infância, mas o entusiasmo por ela só cresce. Para comparação, as startups do setor atraíram cerca de US$ 400 milhões (R$ 2,18 bilhões) em investimentos, em 2020, e US$ 1,4 bilhão (R$ 7,6 bilhões) em 2021, recorde para a época. Agora, segundo a McKinsey, consultoria de gestão, o mercado previsto para 2030 pode chegar US$ 25 bilhões (R$ 135 bilhões). Pesquisadores sugerem que essa indústria da carne cultivada pode chegar a valer entre US$ 200 bilhões (R$ 1 trilhão) e US$ 800 bilhões (R$ 4,3 trilhões) até lá.

Onde tudo começou

Peppou viu a oportunidade neste setor desde cedo. Ele sempre teve interesse por comida e ciência já no colégio. Na universidade, ele buscou ambos. Após a graduação, Peppou trabalhou como chefe em alguns cafés e restaurantes perto de Hornsby, um lugar que atrai muitos turistas, e fez estágio em restaurantes de alta gastronomia, incluindo o Tetsuyas, um famoso restaurante japonês que fechou as portas em maio deste ano, depois de 37 anos.

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George Peppou, o australiano que quer ganhar o mundo com carne cultivada

Depois disso, ele foi trabalhar como criador de conteúdo para a empresa de private equity norte-americana Intellectual Ventures. Peppou trabalhava com clientes da agroindústria australiana, como a Horticulture Innovation Australia, empresa de pesquisa e desenvolvimento em propriedades rurais, visando melhorar os produtos destinados à indústria, principalmente aqueles vindos da horticultura, mas havia também o comércio de carnes.

“Analisava como tornar a comida mais sustentável e, em última análise, socialmente equitativa. E é um problema realmente difícil. Pode ser difícil mudar o sistema alimentar tentando moldar o que os produtores já fazem – é muito mais eficiente simplesmente construir novas iniciativas que consagrem esses valores desde o início”.

Como Peppou tirou uma ideia do papel

Seu histórico em ciência, comida e tecnologia levou Peppou a lançar uma aceleradora de startups chamada GrowLab, dedicada a negócios de agricultura e tecnologia alimentar. Ao longo do caminho, Peppou acumulou conhecimentos específicos sobre carne. Isso, somado à sua herança grega – que torna o consumo de carne praticamente algo não negociável – levou Peppou ao projeto de lançar sua própria startup alimentar.

“Queríamos produtos semelhantes aos de origem animal, que pudessem ser produzidos em uma pegada física e ambiental muito pequena”, diz ele. “Em última análise, isso nos levou à carne cultivada”. Mas Peppou não pretendia criar uma carne que fosse igual àquela que os consumidores já consumiam. Em vez disso, ele acreditava que clientes como ele seriam forçados a comprar carne cultivada se isso ajudasse a atingir seus objetivos.

“Cada empresa pensa: ‘Como você faz frango, carne bovina ou porco usando essa tecnologia de cultura celular?’ Como alguém que come carne, não consigo imaginar fazer essa escolha em um supermercado. ‘Quero frango, mas vou optar por essa versão diferente de frango’. É um comportamento de compra estranho”, diz ele.

A abordagem da startup de tecnologia alimentar para o desenvolvimento de produtos imita a da indústria de veículos elétricos: começar pelo segmento de alto padrão e, à medida que a estrutura de custos permitir, mover-se em direção ao mercado de massa. “Nos propomos a criar produtos em diferentes faixas de preço, começando pelo alto padrão, que é o Forged, em Cingapura”, afirma Peppou.

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A empresa está agora trabalhando em outros produtos, como sua marca focada em nutrição, batizada de Amino, que visa superar a carne animal em nutrição para aqueles com necessidades específicas em relação à ferro, ômega-3 e proteína. A comercialização em massa será o último passo. No entanto, até mesmo a marca de alto padrão é relativamente econômica para o mercado gastronômico de luxo.

Em abril, o parfait da Forged foi oferecido no restaurante Mori do Mandala Club, em Cingapura, como parte de um menu omakase de sete pratos a US$ 289 (R$ 1.571), com harmonizações de bebidas alcoólicas. Para comparação, o primeiro hambúrguer de carne bovina cultivada foi criado na Universidade de Maastricht, na Holanda, em 2013, custando US$ 350 mil (R$ 1,9 milhão) e levou dois anos para ser produzido.

Em sua unidade de produção em Alexandria, no estado de Nova Gales do Sul, a Vow reduziu o tempo de produção para cerca de quatro semanas (e daí para a venda, mais dois dias). Isso é muito menos do que leva para criar um bovino, mas, na visão de Peppou, esse não é o ponto.

“É, ‘Como podemos atender pelo menos parte da demanda por proteína animal por meio de sistemas de produção que têm uma pequena pegada física e ambiental, em vez de intensificar a criação animal?’ Porque tem consumidores interessados neste sistema de carne cultivada”.

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O posicionamento de Peppou levou investidores como a Blackbird e o fundo de capital de risco saudita Prosperity 7 a investir, por meio da Série A, US$ 49 milhões (R$ 266,5 milhões) em 2022. Na época, isso foi um recorde na indústria de carne cultivada. Mas Peppou brinca que foi como tentar pegar uma faca que está caindo.

“Foi na segunda metade de 2022, um período não muito divertido nos mercados de capital”, diz ele. “Mas os investidores em nossa série tinham uma tese ampla de que a tecnologia alimentar era uma categoria de alto potencial de crescimento”.

Mas a carne cultivada não é para os fracos de coração. É um negócio de capital intensivo, embora não necessariamente da maneira que Peppou esperava. Uma grande parte do custo vem do fato de ter que fazer a maior parte do trabalho pesado internamente, o que significa contratar muitos talentos de alto nível.

A Vow projeta seu próprio equipamento de produção, tem suas próprias equipes de fabricação, de cadeia de suprimentos, de processamento de alimentos, de logística e marketing, ou seja, é uma fabricante verticalizada. Comparativamente, a Vow afirma que entrou no mercado em cerca de metade do tempo que seus concorrentes levaram, com cerca de 10% do capital.

Nessas equipes, há alguns pesos pesados. A diretora de operações é Ellen Dinsmoor, que vem da empresa de seguros Lemonade, em Nova York; o chefe de finanças, Nick Barnes, é ex-Blackstone; o chefe de regulamentação e conselheiro geral, Andrew Janis, gerenciava a parte legal e de regulamentação da Uber na região da Ásia e do Pacífico. A responsável pela gerência da fábrica é a ex-SpaceX, Ines Lizaur.

“Ela já viu muita coisa”, diz Peppou. “Ela sabe como operar em um ambiente de crescimento muito caótico. Tenho muita experiência em liderança na minha equipe, o que ajuda muito”. Peppou também conta com Robyn Denholm, executiva e ex presidente da Tesla, como conselheira.

Hoje, a empresa continua a levantar capital e afirma estar vendo um impulso após seu lançamento em Cingapura. Peppou diz que o objetivo é agir enquanto o ferro está quente e se preparar para lançar seus produtos em outros mercados, embora haja muitos desafios.

“Não queremos convencer ninguém a nada para vender nossos produtos – se é que queremos convencer alguém, esses são os veganos e vegetarianos”, diz Peppou.

Órgãos reguladores e mercado

Na Austrália, o Food Standards Australia New Zealand (FSANZ), o órgão regulador responsável por desenvolver os padrões alimentares desses dois países, ainda não aprovou a aplicação da Vow para vender sua codorna cultivada localmente (lembrando que até agora, as vendas foram para Cingapura). Essa é a primeira aplicação de carne cultivada a ser aceita pelo FSANZ.

O processo envolve duas chamadas para submissões, que focam na eficácia das alegações de segurança alimentar e na ciência por trás do produto. Em seguida, o projeto de Peppou é levar sua carne para os EUA, que traz seus riscos, especialmente políticos.

“Se houver uma vitória de Trump, o que isso poderia significar? Tem havido resistência política em lugares como a Flórida, um estado liderado por republicanos, em relação à carne cultivada. É um verdadeiro saco de pancadas. Estamos fazendo muito trabalho com a Agência Federal do Departamento de Saúde e Serviços Humanos dos Estados Unidos (FDA), mas não estamos contando com facilidades para entrar nesse mercado”.

A Vow também está mirando o Reino Unido, o Canadá e outros mercados asiáticos, como a Coreia e o Japão. O Oriente Médio também é uma possibilidade. Atualmente, Peppou está trabalhando para entrar no mercado Halal, uma certificação que atesta a qualidade para consumidores muçulmanos. Peppou também mira listar a Vow listada na bolsa de valores NASDAQ, ou NYSE, a bolsa de valores de Nova York. “Ainda temos um longo caminho pela frente, mas também já percorremos uma longa jornada”.

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