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Em seu delicioso casarão-bistrô em Higienópolis, a chef Carla Pernambuco completa, este ano, 30 anos de Carlota e 65 anos de vida, com a vontade de não se acomodar. “Perguntam por que eu não desacelerei, e eu digo que estou em velocidade de cruzeiro”, ela brinca durante um almoço com a Forbes.
A gaúcha radicada em São Paulo diz gostar de novos desafios, de dinamismo e de ter sempre boas histórias (e conquistas) para contar. Para a tarefa, além de tocar seu próprio restaurante (que nunca para de se atualizar, com um novo menu a cada dois meses) e administrar um espaço de experiências (do outro lado da rua do Carlota, especial para eventos), ela decidiu oficializar seu talento de conselheira em um novo braço de negócios: uma empresa de consultoria gastronômica, a Kitchen Factory.
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O trabalho de consultora não é novidade para a chef. Já faz anos que ela presta serviços do tipo, acumulando no currículo projetos para empresas do porte de Google e Sodexo/Santander. Este ano, porém, com o aumento da demanda, ela decidiu transformar o que antes era um trabalho paralelo em um novo CNPJ.
“Eu não conseguia cuidar do Carlota e dar atenção para a consultoria”, conta a chef. “A equipe estava bem reduzida, com só duas pessoas, e não dava para absorver mais clientes. Na fase 2.0 da consultoria, já triplicamos o número de profissionais”. A principal nova integrante é a sócia e mão direita de Carla, a chef Cristiane Skrings. Também gaúcha, sua base é no Rio Grande do Sul, onde estão os cases da Kitchen Factory atualmente.
Carla se diz feliz com a nova fase. Tem pavor do “mais do mesmo” e ama a criação, sua parte favorita do processo. “Quando faço algum cardápio ou comida, realmente ponho todo o meu coração e todo o meu conhecimento”, afirma. “É um patchwork de técnica, amor e tendência. Tenho prazer em realizar”.
E como realiza. Não só na parte dos pratos, mas com o KF, Carla e Cris fazem um trabalho verdadeiramente 360º. Há um estudo profundo de mercado e de tendências, que resulta na criação de um conceito culinário único para cada projeto. Depois disso, a consultoria ajuda no cardápio, na decoração, treinamento e até no layout da cozinha. “Também queremos expandir para o lado do serviço, com um especialista para treinar a brigada do salão”, a chef dá o spoiler.
Raízes sulistas de Carla Pernambuco
Este ano, Carla já entregou dois projetos que lhe enchem de orgulho – ambos no Sul. A concentração na parte sulista do país aconteceu de forma não planejada. “Voltei às minhas raízes de forma não proposital”, diz ela, que saiu de Porto Alegre aos 22 anos. “Foi uma casualidade, mas adorei ter colocado os pés de volta nessa Terra, onde meu pai e meus irmãos ainda moram”.
O primeiro dos trabalhos, fruto de uma parceria de anos com o grupo gaúcho Manda Brasa, foi a casa de carnes 1835, dentro do hotel Kempinski Laje de Pedra, em Canela (RS). Para o menu do restaurante (já em funcionamento, antes da inauguração do hotel), a chef quis trazer um toque cosmopolita para a tradição carnista sulista, que ela bem conhece.
O desejo exigiu uma “viagem pelas origens do terroir local”, em que usou ingredientes regionais misturadas a técnicas multiculturais, sem muita firula. O resultado se vê em pratos como o carpaccio de filé braseado e um pot pie de costelão gaúcho assado por 12 horas – com massa folhada, requeijão e um osso de tutano na brasa.
A consultoria seguinte, já com a chegada de Cris na KF, fez um giro pela Itália. A dupla reimaginou do zero o restaurante dentro da Casa da Montanha, clássico hotel em Gramado. Rebatizado de Giostra Cucina – “carrossel” em italiano, em referência ao que fica na frente da propriedade –, o espaço gastronômico foi inaugurado no começo de julho com a proposta de ser intimista, combinando com o caráter mais familiar que o hotel assumiu nos últimos anos. A ideia do cardápio é explorar todas as regiões italianas, com delícias como o pappardelle com queijo azul ao burro e sálvia, a bisteca fiorentina e tiramisu finalizado à mesa, com calda de chocolate e café.
Realizações em dia
Sua atuação não irá parar no Sul do país. Apesar de ter mais um projeto em andamento na região – um wine bar dentro de uma vinícola gaúcha –, Carla e sua equipe da KF também estão trabalhando no Ceará e “querem andar pelo Brasil”, garante. Um conceito que adoraria fazer é de um restaurante árabe, com inspirações do Oriente Médio e Mediterrâneo – resta esperar para ver.
Cada projeto da consultoria é como ter mais um “filho”, ela brinca. “Cada um deles demora muito tempo, pelo menos uns seis meses. Às vezes você idealiza tudo do zero com a equipe, e ainda tem que acompanhar depois de aberto. Viajo a cada 40 dias para ver como estão as coisas”.
Nessa dinâmica, ela admite ter adquirido uma qualidade: não pena mais para “desapegar” do último filho e passar para o próximo trabalho. E caso não atinjam seus padrões de qualidade combinados, também não hesita em pedir para tirar seu nome do projeto.
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O que Carla hesita é em ter mais um restaurante próprio. “Às vezes me dá vontade, já tive convites até de ter um Carlota em Porto Alegre, mas não quis. Fico pensando se não é melhor usar minha expertise para ajudar novos negócios ao invés de ter o meu. É muita responsabilidade, e eu sou muito exigente”.
Não parece fazer falta. Até então, a chef diz ter o suficiente: um restaurante renomado em São Paulo, uma prole de empreendimentos pelo país com o toque de Carla Pernambuco, mais um livro recém-lançado (o “Tá no Forno”) e um leque de projetos e eventos. “Sou do lema de levar a vida me deixar. Estou indo para os 65 anos lindamente, cheia de trabalho, comidas para criar, livros para escrever e restaurantes para inaugurar”, garante.
Escolhas do editor
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