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O Brasil ainda não tem pilotos confirmados para o grid da F1 em 2025, mas os jovens talentos da base mostram que esta espera está perto de acabar. Além dos dois pilotos de testes na categoria (Felipe Drugovich na Aston Martin e Pietro Fittipaldi na Haas) e os dois na divisão de acesso, a F2 (Gabriel Bortoleto e Enzo Fittipaldi), o Brasil tem o piloto de melhor desempenho no ano na poderosa Ferrari Driver Academy: o piloto Rafael Câmara.
Aos 19 anos, ele é o líder da Fórmula Regional Europeia (FRECA), categoria que consagrou como campeão no ano passado Andrea Kimi Antonelli, que está sendo cotado para uma vaga na Mercedes já no ano que vem. Ambos tem em comum a ligação com uma academia de pilotos e correrem no mesmo time italiano (a Prema).
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O desempenho de Câmara tem sido impressionante em 2024, o que o coloca no topo do ranking da Ferrari Driver Academy mesmo considerando pilotos mais experientes. Ele conquistou cinco vitórias e 8 pódios em 12 provas disputadas até aqui, o que o deixou na liderança da FRECA com 210 pontos, 50 de vantagem sobre o segundo colocado, o finlandês Tuukka Taponen.
“Foi um começo muito bom. É um campeonato longo, mas a maneira como começamos foi muito boa. E então, sim, com certeza o objetivo é conquistar o título. Precisamos continuar trabalhando duro e fazendo o que fizemos desde a pré-temporada: vamos continuar lutando por mais pódios e vitórias durante o campeonato. Precisamos ser muito consistentes durante todo o ano, focar em nós mesmos e fazer o melhor que pudermos como equipe, trabalhando duro sempre”, diz Câmara em entrevista para FORBES na Itália, dentro do motorhome da Ferrari em um GP de F1 onde foi acompanhar o trabalho da equipe de perto.
Estar ligado a Ferrari Driver Academy é um importante diferencial para o brasileiro, afinal, muitos pilotos que estão no grid da F1 foram “crias” desta escola, incluindo o próprio piloto da equipe atualmente, Charles Leclerc. Para o ano que vem, outro jovem talento da FDA foi confirmado no grid, com o anúncio de Oliver Bearman na Haas em 2025.
“O apoio da Ferrari Driver Academy é muito importante. É sempre muito bom estar com eles. Especialmente para me preparar para o fim de semana, para a corrida. Estar o mais preparado possível. Chegar lá e fazer o que sabemos na corrida. Estar o mais saudável possível, todas essas coisas. E também o lado mental. Então, toda vez que estou em Maranello, estamos na fábrica, trabalhamos nesse aspecto. No aspecto mental, isso é muito importante, pois você está subindo e subindo nas categorias. E também o físico. Toda vez que estamos na academia, temos nossa programação. É ótimo fazer parte dessa grande família. Já somos parte dela, mas queremos nos aproximar ainda mais”, diz Câmara.
Quem vê Rafael dando entrevista no motorhome da Ferrari durante um GP de F1 mal pode imaginar o começo da carreira deste pernambucano, que foi até curioso. Ele andou de kart pela primeira vez porque o irmão mais velho acabou não gostando do esporte. Já a paixão dele foi instantânea e aos 13 anos já era campeão brasileiro de kart.
Com o sucesso no Brasil, Câmara conquistou mais vitórias e títulos na Europa e competições mundiais, incluindo dos prestigiados campeonatos como Champions of the Future, WSK Champions Cup e WSK Super Master Cup. Assim, ele colocou seu nome no mesmo troféu de ninguém menos que Max Verstappen, que também venceu no WSK em 2010 e 2011.
O sucesso na elite do kart mundial rendeu a Câmara o convite para uma seletiva em busca de uma vaga como piloto da famosa academia da Ferrari, a Ferrari Driver Academy. A estreia como piloto da academia na Europa não poderia ser melhor: Rafael Câmara venceu logo na sua primeira corrida da competitiva F4 Italiana, com mais de 40 pilotos na pista. O brasileiro também chamou atenção na F4 dos Emirados Árabes Unidos, onde foi vice-campeão mesmo tendo ficado de fora das três primeiras etapas do ano por ter contraído Covid-19.
Para 2025, o objetivo é competir na preliminar da F1 – o passo natural seria a F3, mas Kimi Antonelli, que foi campeão deste mesmo torneio que Câmara lidera em 2024, foi direto para F2. Mas o brasileiro sabe que a orientação da Ferrari Driver Academy será importante para indicar seu futuro. “O objetivo é vencer a FRECA e depois a meta é ir para a F3, continuar fazendo um bom trabalho, trabalhando duro como sempre e fazendo o que eu amo fazer. E, a partir daí, veremos como as coisas vão se desenrolar. Ainda há um longo caminho a percorrer”, diz.
Câmara sonha em chegar na F1, mas não apenas competir na maior categoria do mundo, e sim ser protagonista dela, assim como foi seu grande ídolo, Ayrton Senna, cujo legado no esporte completa 30 anos nesta temporada de 2024.
“Eu vejo tudo sobre Ayrton Senna desde que era criança e o acompanho de perto, os filmes, os documentários e as histórias também. Uma pessoa tão incrível como ele, não só por ser rápido na pista, mas pelo que fez fora da pista. Nas coisas que ele acreditava, tudo que ele fazia com tanta paixão. Independente se tinha aquela pressão da corrida, ele sempre era muito humano. Ele é um ícone mundial por tudo que ele fez”, diz Câmara.
Resta saber agora o que o futuro reserva a Rafael e outros jovens talentos que estão chegando perto da F1. Para a torcida brasileira, a saudade de Senna também traz um longo tabu: o último título do Brasil na categoria foi justamente com o piloto em 1991, ano do tricampeonato. Que a nova geração que sequer era nascida em 1994 consiga reverter esta escrita em breve.
*Rodrigo França é repórter especializado em esporte a motor desde 1997. Em 25 temporadas, cobriu mais de 1.000 corridas de F1, Indy, Le Mans, Formula E, Nascar, Stock Car e Truck, acompanhando GPs em mais de 20 países diferentes. Também é autor do livro “Ayrton Senna e a Mídia Esportiva”, apresentador do programa “Momento Velocidade” na TV Gazeta e do canal Senna TV. Em 2023, cobriu 8 GPs da F1 por Forbes Motors.
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