Caramuru tem R$ 1,1 bilhão em investimentos no agro e ainda se diz conservadora

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Júlio Costa, diretor-presidente da Caramuru, diz que a empresa é conservadora sim

No início deste mês de julho, o executivo Júlio Costa, diretor-presidente da Caramuru Alimentos, arrumou as malas e partiu de férias. De Itumbiara, no sul de Goiás, para o mundo. Mas ele volta, em breve, como faz há quatro décadas, desde a época em que a Caramuru ainda era um pequeno negócio criado em 1964 por Múcio de Souza Rezende, para o qual ele foi contratado como auxiliar de escritório. Cria da casa que se tornou um especialista no treinamento de altos executivos, Costa tem hoje uma agenda complexa de decisões e administração que neste exato momento é da ordem de R$ 1,1 bilhão de investimentos em execução.

“A nossa política sempre foi o crescimento orgânico. Elegemos os investimentos e vamos realizando de forma cadenciada, porque temos um foco bem ajustado com a nossa estrutura de capital”, afirmou Costa, em entrevista à Forbes.

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A Caramuru é uma das maiores processadoras de grãos do país – soja, milho, girassol e canola – e até tenta passar uma imagem “low profile”. Mas, chegando mais perto, a imagem é outra. Basta dar uma espiada em seu balanço financeiro. Em 2023, a receita foi de R$ 7,59 bilhões, após o recorde de R$ 8,6 bilhões um ano antes. No primeiro caso, em função dos preços globais achatados das commodities e, no segundo caso, por um mercado tensionado por guerras e pandemia (Ucrânia e Covid-19).

O fato que conta, de fato, é que a Caramuru cresceu 50% desde 2019. Naquele ano, sua receita líquida fora de R$ 4,1 bilhões e o Ebitda (lucro antes de juros, amortização e depreciação), de R$ 324 milhões, com processamento de 2 milhões de toneladas de grãos. No ano passado, o Ebitda foi de R$ 489,6 milhões.

O processamento atual é de 3,3 milhões de toneladas de grãos originados em 5,7 mil propriedades rurais que entregam suas colheitas à Caramuru também nos estados de Minas Gerais, Mato Grosso e Paraná, onde estão as unidades processadoras de óleos, farelos, concentrados proteicos e biocombustíveis de soja (diesel e etanol, neste caso, a partir do melaço da oleaginosa). O etanol de milho está no radar, mas por ora ainda “não há nada de concreto”.

“A Caramuru é uma empresa, não é uma trade que exporta o grão. Origina, processa e exporta”, afirma Costa. “Mais de 90% do que originamos, nós processamos e transformamos em produtos finais.” Do total originado e processado, 2 milhões de toneladas são de soja, 700 mil toneladas de milho e 60 mil toneladas de girassol.

No caso dessa cultura, a Caramuru é referência. “Houve uma época em que todo o girassol consumido no Brasil era importado, principalmente da Argentina”, conta Costa. “Foi a Caramuru, juntamente com a Embrapa e a Universidade de Viçosa, que desenvolveu variedades para serem plantadas no Centro-Oeste”, se referindo ao pioneirismo da empresa. Vale registrar, também, que a Caramuru é a maior processadora de soja não convencional, ou seja, a soja que não é produto de transgenia.Os investimentos atuais da Caramuru estão concentrados em Goiás, Mato Grosso, Amapá e Pará. São quatro aportes, que contemplam o aumento da produção do óleo de soja transformado em biodiesel em Ipameri (GO) e da glicerina derivada do combustível e aplicada na indústria farmacêutica a partir de Sorriso (MT). Os outros investimentos, em Santana (AP) e Miritituba (PA), visam à eficiência da logística hidroviária e escoamento da produção.

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O maior aporte deste ano é a duplicação, por R$ 210 milhões, de uma das cinco unidades de processamento da empresa, das quais três ficam em Goiás. A fábrica de Ipameri (GO), é capaz de esmagar 1,5 mil toneladas de soja diárias, o que rende anualmente cerca de 300 mil toneladas de óleo (20% do grão). Com o óleo, produz 220 milhões de litros de biodiesel por ano, e uma fração disso vira 36 mil toneladas de glicerina, um subproduto do biodiesel.

“O investimento é para aumentar a oferta de matéria-prima para o biodiesel, pois ainda precisamos comprar parte do óleo de soja no mercado”, explica Costa. “Com essa expansão da planta, vamos ser autossuficientes.” A capacidade de processamento aumentará para 3 mil toneladas, garantindo uma oferta anual de 600 mil toneladas de óleo.

Em Sorriso, onde o processamento da oleaginosa é menor (1,2 mil toneladas/dia), a empresa pretende dobrar a produção de 14 mil toneladas de glicerina por ano, com investimento de R$ 700 milhões. “Estamos refinando essa glicerina para atender o mercado farmacêutico”, afirma Costa. A Caramuru produz a substância desde 2019, mas somente em 2021 começou a vendê-la para a fabricação de produtos de higiene e pomadas. Seja na operação de óleo de soja ou na de glicerina, os investimentos vão até meados de 2025, conta o executivo.

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Unidade da Caramuru que integra o complexo do Arco-Norte

O mercado global consome cerca de 50 mil toneladas de glicerina por mês e o Brasil é um grande exportador, com destaque à China e o Reino Unido, sendo que das 69 usinas de biodiesel instaladas no país, 13 já oferecem o produto. Vale reforçar, conforme o Conselho Nacional de Política Energética (CNPE) aprovou no início do ano, que a adição de biodiesel ao diesel comum deve ser de 13% em 2024, 14% em 2025 e 15% em 2026 — a agricultura pode fornecer matéria-prima em um cenário de até 20% —, atraindo dinheiro para o setor, que entregou 7,3 bilhões de litros ano passado, alta de 20%.

Melhorias com foco na logística

Uma das operações da Caramuru é exportar à Europa a Proteína Concentrada de Soja (SPC), que é um farelo com teores da ordem 63%. São cerca de 200 mil toneladas do produto exportados anualmente à Alemanha, que encaminha remessas da ordem de 150 mil toneladas à Noruega, onde o produto é utilizado como matéria-prima na aquicultura do salmão. A produção de SPC é feita na unidade de Sorriso (MT) e transportada via BR-167 até o rio Tapajós, para a entrega nos portos europeus.

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As exportações são realizadas por duas vias, pelo Porto de Santos (SP), a maior parte, e pelo Porto de Santana, no Amapá, onde a Caramuru está fazendo o seu terceiro investimento, de R$ 60 milhões, em um shiploader, uma espécie de guindaste que tornará o carregamento dos navios graneleiros mais eficaz.

A companhia também fechou uma parceria com a Três Tentos Agroindustrial, fundada pelo gaúcho Luiz Osório Dumoncel, empresa que atua no varejo de insumos (sementes, fertilizantes e defensivos), originação e trading de grãos, maia a industrialização de farelo, óleo e biodiesel de soja. No ano passado, a Três Tentos faturou R$ 9 bilhões, 30% acima de 2022.

A parceria com a Caramuru é para um investimento da ordem de R$ 400 milhões (metade de cada companhia) até 2028, visando a construção de um transbordo na hidrovia do rio Tapajós. “As duas empresas têm uma sinergia muito grande. Para nós, é uma oportunidade de investir mais no Arco-Norte”, diz Costa.

O chamado Arco-Norte é um plano estratégico em desenvolvimento no país que inclui portos ou estações de transbordo nos estados de Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Maranhão. O Arco-Norte tem sido fundamental para escoar grãos de Mato Grosso e desafogar a infraestrutura logística do centro-sul do país. Mas Costa ainda reforça: “Tem um detalhe também, e é bom esclarecer, que apesar da gente ter capturado resultado, a empresa tem uma política de rédea muito conservadora”, diz ele. “A gente não corre risco de forma alguma”.

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