O capacete de Ayrton Senna é o mais famoso de todos os tempos – e houve até eleição feita na Inglaterra para definir isso. Este talvez não seja um fato surpreendente, mas você conhece a história por trás do desenho que ficou célebre nas conquistas do piloto na F1, incluindo suas 41 vitórias e nos três títulos mundiais de 1988, 1990 e 1991?
Uma coisa que pouca gente sabe é que o famoso desenho não foi feito exclusivamente para Ayrton Senna. Esta história remete a 1979, quando o então jovem promissor piloto já era muito conhecido no mundo do kart, mas jamais tinha pilotado um fórmula ou carro de corrida ainda.
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Como campeão brasileiro de kart naquele ano e tendo ficado em sexto lugar na sua estreia no Mundial de Kart do ano anterior, Senna integrou a delegação brasileira enviada ao principal campeonato do mundo em 1979, em Estoril (Portugal). E, assim como nos Jogos Olímpicos, os pilotos naquela época representavam seus países também nas cores de seu capacete.
O desenho foi criado por Sid Mosca, que já era um célebre artista da área: ele era o responsável pelo capacete de Emerson Fittipaldi, fez a pintura do F1 brasileiro (a equipe Fittipaldi) e até de outros times estrangeiros quando precisavam de algo no GP Brasil de F1. Senna até então usava uma pintura branca, com um tom brasileiro também, nas faixas verde e amarela, mas posicionados na base do capacete. Mas ele gostou tanto da pintura do Mundial de 1979 que fez um pedido a Sid.
“Assim que ele chegou de Portugal, disse que queria que aquele capacete fosse o dele, que passaria a usar não só no Mundial, mas em todas as competições. A gente já sabia que o Ayrton era super diferenciado e tivemos desde aquele momento a certeza de que aquele desenho ganharia fama no mundo todo com as conquistas do Senna”, disse Alan Mosca em entrevista para FORBES durante o lançamento de uma homenagem especial pelos 30 anos de legado de Ayrton Senna, um capacete oficial folheado a ouro.
Serão produzidas apenas 41 unidades do modelo, todas numeradas e acompanhadas de certificado de autenticidade. O número faz conexão às vitórias do piloto na F1. Cada um deles é acompanhado de um pequeno quadro de Senna, assinado pelo artista Ricardo Barbour. Ambos foram produzidos com madeira de lei canela com detalhes folheados a ouro, incluindo logos e números de série. O preço é de R$ 34 mil.
Em um ano tão especial para destacar os feitos de Ayrton Senna, como nas homenagens da F1 em Ímola (em tributo reunindo os pilotos do grid, liderados por Sebastian Vettel) e no GP de Mônaco, o capacete de Senna acaba sendo uma das principais formas de homenagem. Foi o que aconteceu nas ruas de Monte Carlo, onde a McLaren correu com dois carros pintados nas cores do capacete de Senna na prova disputada no mês passado.
“O capacete do piloto é sua identidade dentro do carro, a maneira como ele é reconhecido nas pistas. E o do Ayrton é nosso principal ícone, simboliza a força de um legado atemporal que inspira pessoas das mais variadas idades em todo o mundo. O lançamento desta peça comemorativa com os amigos da Sid Special Paint é um momento especial para marca Senna pois reflete 45 anos de uma parceria genuína e vitoriosa”, destaca Thiago Fernandes, COO da Senna Brands, empresa criada pela família do tricampeão para gerenciar as marcas vinculadas ao piloto.
Em 2015, a principal revista de esporte a motor do mundo, a inglesa Autosport, fez uma eleição para definir o capacete mais icônico de todos os tempos. E o resultado saiu como o esperado: Ayrton Senna em primeiro lugar.
Especialistas destacam que a rápida identificação do piloto com uma cor chamativa (amarelo) ajudou a consolidar tanto destaque. “Os adversários de Ayrton Senna sempre diziam que o temor deles era ver aquele capacete amarelo no retrovisor: eles sabiam que ele viria com tudo para fazer a ultrapassagem”, relembra o narrador Galvão Bueno, um dos melhores amigos de Senna e que narrou boa parte da carreira do piloto na F1.
Outro importante fator é destacado por Alan Mosca. “O Ayrton manteve o mesmo desenho por toda sua carreira, começando naquele Mundial de Kart em Portugal até sua última corrida na F1. Muitos pilotos acabam trocando detalhes da pintura, mexem por conta de patrocinadores, de corridas especiais e aí não se cria essa identidade tão forte”, diz Alan.
Ele lembra que apenas nos anos da famosa e icônica Lotus preta e dourada, com a qual Senna correu duas temporadas (1985 e 1986), houve uma leve alteração, perceptível para os mais fanáticos torcedores de Ayrton, mas que o público talvez nem perceba. “Usamos um tom mais chamativo do amarelo nestes anos, bem cítrico, para ficar mais em destaque no carro preto e dourado. Mas quando a Lotus voltou a ser amarela, voltamos para o desenho original, que aliás foi um pedido do próprio pai do Ayrton, Milton da Silva”, diz Alan.
Curiosamente, em Estoril, Senna usou o desenho pela primeira vez no Mundial de Kart e também foi lá, mas desta vez correndo no autódromo, que ele venceu pela primeira vez na F1, com a Lotus, em 1985. Seu capacete também serviu para celebrar conquistas em seu legado, como no dia em que Lewis Hamilton igualou o recorde de poles de Ayrton Senna, no GP do Canadá de 2017. A família Senna o presenteou com um capacete de Ayrton, considerado pelo britânico como “um de seus maiores troféus na vida”, como o inglês destacou naquele ano em Montreal.
Por isso, o novo lançamento do capacete especial folheado a ouro para celebrar o legado de Ayrton Senna, que completa 30 anos em 2024, é mais uma forma de eternizar este símbolo de garra, superação e determinação do tricampeão da Fórmula 1.
“Este é o capacete mais famoso do mundo e nós temos muito orgulho de ter criado este desenho. Mas se não fosse usado por um piloto com os valores de Ayrton Senna, ele talvez jamais tivesse tanta expressão. Por outro lado, este desenho foi pensado para transmitir velocidade, com as faixas saindo do olhar do piloto, passando rapidez quando você vê o carro em movimento. E Senna perpetuou essa imagem”, completa Alan.
*Rodrigo França é repórter especializado em esporte a motor desde 1997. Em 25 temporadas, cobriu mais de 1.000 corridas de F1, Indy, Le Mans, Formula E, Nascar, Stock Car e Truck, acompanhando GPs em mais de 20 países diferentes. Também é autor do livro “Ayrton Senna e a Mídia Esportiva”, apresentador do programa “Momento Velocidade” na TV Gazeta e do canal Senna TV. Em 2023, cobriu 8 GPs da F1 por Forbes Motors.
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