Vou ser honesto: dar o primeiro passo em busca de ajuda não é tão simples assim. Embora o estigma relacionado às questões de saúde mental esteja enfraquecendo lentamente, ele ainda existe. Por causa disso, muitas pessoas, ainda que estejam sofrendo, tentam dar conta sozinhas do seu problema. Ou relevam, acreditando que em breve o problema vai sumir como num passe de mágica. Ou, ainda, acreditam que um remédio será capaz, sozinho, de dar conta da sua dificuldade.
Uma pesquisa da Sociedade Brasileira de Urologia apontou que quase metade dos homens só vai ao médico quando está com algum sintoma. Neste caso, estamos falando de uma doença que afeta o corpo. Quando falamos de algo que afeta a mente, a coisa é mais complicada. No caso dos homens (e, em algumas situações, das mulheres também), a vergonha ainda é um fator impeditivo para a busca de ajuda.
Mas você decidiu seguir em frente. A quem você deve recorrer? Eu diria que o primeiro passo é procurar por alguém em que você confia verdadeiramente, alguém com quem, você entende, pode dividir as suas dores mais profundas. É impressionante, mas, como médicos, temos percebido um número bem expressivo de pessoas cujo sofrimento é apenas não ter alguém que as ouça.
Poder desabafar já tem um grande efeito terapêutico. Saiba, porém: as relações são vias de mão dupla. Se você buscou por alguém, esteja preparado para, um dia, ser o ombro amigo daquele seu companheiro ou companheira.
Familiares próximos (e aqui eu incluo parceiros ou parceiras de vida) também são uma opção, desde que a relação entre vocês esteja sólida.
No ambiente corporativo, procure pelos profissionais do RH. Com o passar dos anos, mas especialmente com a pandemia de Covid, as equipes de RH passaram de alguma forma a lidar também com questões de saúde mental. Tanto que, em consultorias que a Caliandra (empresa que tenho com a sócia Camila Magalhães e que cuida da saúde mental em organizações) faz, líderes e times de RH estão sempre envolvidos.
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Você também pode buscar por um médico. E não precisa ser necessariamente um especialista em saúde mental. Pode ser aquele seu médico em que confia. Muitas vezes, se o caso é pontual ou episódico, ele mesmo pode dar conta de buscar uma solução juntamente com você. Ou pode encaminhá-lo a um profissional de saúde mental (um psiquiatra, um psicólogo ou psicanalista).
Por fim, dependendo de qual a sua questão de saúde mental, há os grupos de ajuda mútua como os Alcoólicos Anônimos (AA) e os Narcóticos Anônimos. Totalmente gratuitos, eles se baseiam na ideia de pertencimento e de ajuda mútua entre os membros.
Existem muitas opções de suporte. Não existe a certa ou a errada. Os diversos tipos de apoio funcionam de forma diferente para pessoas diversas em momentos diferentes de suas vidas.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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