Indoor farming no Brasil precisa produzir valor agregado

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As indoor farming, ou agricultura vertical, que vinham em processo acelerado de expansão, passaram a ser vistas com desconfiança nos últimos anos sobre sua capacidade de retorno sobre o investimento. Foram muitas as notícias na mídia mundial sobre uma dura realidade de financiamentos minguando, pedidos de concordata e sem os retornos esperados para a maior parte dos projetos. Resultado: ao longo de 2022 e 2023, a queda para o capital de risco destinado ao setor foi estimada em 91% por algumas consultorias de análise.

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Mas, neste ano, parte delas já começou a fazer ajustes novamente para cima, apontando dados promissores para esse segmento de mercado. Porém, vale para todos os países? No caso do Brasil, o quanto faz sentido os investimentos em fazendas verticais?

“Para o Brasil, é importante focar em produtos de alto valor agregado, que possuam algum tipo de limitação para produção aqui no país, e que seu preço de prateleira atual justifique um investimento desse tipo. Deve-se mirar para produtos que importamos bastante, ou produtos que possuam alguma dificuldade com clima quente, por exemplo”, diz Caio Rosateli, head de finanças e processos na venture builder especializada no agronegócio WBGI, criada em 2019 e que tem como parceiros a Agtech Valley; a EsalqTech, a incubadora tecnológica ligada à Escola Superior de Agricultura Luiz de Queiroz, da Universidade de São Paulo (USP), e o Instituto de Tecnologia Canavieira (ITC).

“As empresas do setor devem estar de olho no produto ao qual sua solução é destinada, assim como o mercado que estão buscando atingir. Olhando para o mercado internacional, fazendas de alface indoor podem fazer sentido, dependendo do país em que se busca atuar”, afirma Rosateli. Ventures builders, como a WBGI, são organizações que atuam no desenvolvimento de outras empresas de base inovadora e tecnológica (startups) aportando seus próprios recursos.

NikolayEvsyukov_Getty

Fazenda indoor com produção de micro verdes, produto de valor agregado

No final do ano passado, junto com o sócio Pedro Forti, head de business intelligence na WBGI, Rosateli reuniu os dados do setor para traçar um panorama que olhasse para o mundo, mas com foco nas particularidades do potencial nacional.

De acordo com a Market Research Future, com dados a partir de EUA, Canadá, Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Espanha, China, Japão, Índia, Austrália, Coreia do Sul e Brasil, a estimativa é que mercado das fazendas indoor deve alcançar neste ano US$ 7,48 bilhões (R$ 40 bilhões), ante US$ 6,2 bilhões (R$ 33,2 bilhões) em 2023. Em uma década, segundo a consultoria, o valor deve chegar a US$ 33,5 bilhões.

Outras consultorias mantêm números superlativos, como é o caso da ResearchAndMarkets, com sede em Dublin, na Irlanda. Em março deste ano, em seu “Indoor Farming Market Report” ela afirma que o mercado global de fazendas indoor atingiu US$ 19,6 bilhões (R$ 105 bilhões) em 2023, com estimativa de US$ 43,9 bilhões (R$ 235 bilhões) até 2032.

No segundo trimestre de 2024 já houveram algumas boas notícias no mercado dos EUA. A Oishii acabou de inaugurar uma fazenda de morangos de 22 mil metros quadrados em Nova Jersey; e a AppHarvest, que pediu concordata no ano passado, está recebendo investimentos da Mastronardi Produce, Equilibrium Capital e Bosch Growers, além de planos de expansão em andamento, como da Revol Greens, com fazendas nos estados de Minnesota, Califórnia, Geórgia e Texas.

Esses fatos vão ao encontro do que dizem Rosateli e Forti, ao afirmarem a busca por modelos alternativos de fazenda indoor. Por exemplo, a agtech norte-americana Babylon, que captou uma rodada de US$ 8 milhões (R$ 43 milhões) a partir de um conceito enxuto de negócio. A empresa, que não tem cultivo próprio, planeja e executa projetos reordenando os suprimentos em nuvem. Por exemplo, com uma das maiores maiores empresas de transporte marítimo do mundo onde eles cultivam os folhosos servidos nos navios. Há outras iniciativas, como estufas altamente tecnológicas, mas que dividem iluminação de LED e solar, sem perder produção.

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Neste mês de junho, nos dias 24 e 25, estas e outras startups participam da Indoor AgTech Innovation Summit, em Chicago, o maior evento do setor. Uma das principais discussões é a seguinte: como se levantar cautelosamente e se preparar para ser eficiente? Segundo a WBGI, muito da desilusão de anos anteriores se deu à medida que os investidores descobriram que os retornos não eram “comparáveis a empresas de software, por exemplo, sobretudo em um cenário de juros altos e insegurança bancária”.

O estudo de Rosateli e Forti contrapõe um cenário no mundo e um para o Brasil, mesmo se a comparação for com grandes cidades lá fora e aqui, como por exemplo São Paulo, Rio de Janeiro ou Brasília, as três maiores do país. “Mesmo no caso das grandes metrópoles, o cenário brasileiro destoa do resto do mundo”, afirmam.

A ideia de que no Brasil, pela oferta de áreas de produção e sua proximidade com as grandes cidades, as fazendas indoor precisam produzir alimentos com alto valor agregado, pode ser confirmada nas gôndolas. “Enquanto uma alface crespa comum pode ser encontrada por cerca de R$ 4,00 no mercado, a mesma hortaliça orgânica chega a aproximadamente R$ 7,00. Uma alface orgânica cultivada no modelo de indoor farming, por sua vez, pode ser encontrada por R$ 14,00”, afirma Rosateli.

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De acordo com a WBGI, devem ser levados em consideração os fatores seguintes fatores:

1-A proximidade, mesmo no caso dessas metrópoles, com polos satélites que produzem hortifrutis com uma estrutura bastante simples, podendo em poucas horas transportar este produto para dentro das metrópoles, não justificando o alto investimento em uma estrutura de indoor dentro da cidade.

2- Questões climáticas do Brasil, que na grande maior parte de sua geografia não apresenta climas extremos, viabilizando a cultura desses hortifrutis na proximidade de praticamente todos os núcleos urbanos do país.

3- O baixíssimo custo de produção desse tipo de produto, seguindo um modelo convencional, tornando muito pouco competitivo o gasto mais alto em estruturas para sua produção, já que são produtos de baixo valor agregado.

Especificamente em relação aos eventos climáticos Rosateli dizem ser um fator fundamental para ditar a necessidade do uso deste tipo de produção. “O aumento de eventos climáticos extremos começa a tornar cada vez mais necessário esse modelo”, Afirma. “Ele já dita sua viabilidade nos dias de hoje, como quando comparamos sua aplicação em países do norte da Europa, com clima bastante frio”, principalmente, diz ele.

“O agro tem um fator de risco muito alto atrelado ao clima em geral. Eventos climáticos costumam gerar prejuízos para quase todas as produções. O uso do Indoor tira esse risco da conta, porém tem um custo elevado para tal.” afirma Rosateli. De acordo com Rosateli e Forti, “olhando para o Brasil, seria necessária uma piora extrema no volume de eventos climáticos para começarmos a pensar em implantar esse tipo de cultivo em produtos de baixo valor agregado”.

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