Por dentro da fábrica de bilionários de R$ 1 trilhão

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No início de abril de 2020, quando os temores da Covid-19 estavam no auge e o fluxo de negócios no mercado privado estava quase paralisado, Marc Lipschultz, cofundador da então empresa de empréstimos Owl Rock Capital Partners, recebeu uma ligação de Philip Hammarskjold, um amigo de longa data e presidente da empresa de private equity Hellman & Friedman.

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A companhia de Hammarskjold estava finalizando a aquisição de US$ 1,15 bilhão (R$ 5,94 bilhões) da empresa de cibersegurança Checkmarx e queria garantir que a Owl Rock, a antecessora da Blue Owl, ainda estivesse disposta a fornecer parte do financiamento para o negócio.

“Claro que a resposta foi sim”, diz Lipschultz. “Essa era a nossa motivação, ser uma solução duradoura que não sofresse com as inconstâncias do mercado de negociações.”

O negócio foi fechado em 16 de abril de 2020, com a Owl Rock subscrevendo um empréstimo de US$ 250 milhões (R$ 1,2 trilhão), com uma taxa flutuante de 7,75% acima da London Interbank Offered Rate (Libor), uma taxa de referência de juros. Esse era o tipo de aquisição de grande porte pelo qual a companhia se tornou conhecida em seus quatro curtos anos de existência, e à medida que o Federal Reserve (FED), o banco central americano, aumentava as taxas de juros nos anos seguintes, os rendimentos só melhoraram.

O principal negócio de crédito privado da Blue Owl fechou nada menos que 600 empréstimos, totalizando US$ 100 bilhões (R$ 516,3 bilhões) em originações brutas desde a fundação da Owl Rock em 2016. Cerca de US$ 15 bilhões (R$ 77,4 bilhões) desses empréstimos são mantidos pela Blue Owl Capital Corp, uma das empresas de desenvolvimento de negócios listadas na NYSE, que registrou uma taxa interna de retorno de 9,8% desde sua criação em 2016.
A Blue Owl Inc. de Nova York é um nome relativamente novo no mundo do capital privado, mas é administrada por veteranos do setor. A empresa foi fundada em maio de 2021, após uma fusão SPAC de US$ 12,5 bilhões entre a Owl Rock e a Dyal Capital Partners de Michael Rees, conhecida por comprar participações minoritárias em outras empresas de private equity.
Desde então, a companhia quadruplicou de tamanho. Ela gerenciava US$ 174 bilhões (R$ 898,3 bilhões) em ativos no final do primeiro trimestre deste ano, com US$ 91 bilhões (R$ 469,8 bilhões) em seu negócio de crédito.

Após as aquisições da Kuvare Asset Management e da credora imobiliária Prima Capital em abril, a gestão da Blue Owl aumentou para mais de US$ 200 bilhões (R$ 1.03 trilhão). Suas ações subiram 86% no último ano, tornando-se uma rara história de sucesso entre as empresas originadas de SPACs. Os co-CEOs Doug Ostrover, 61, e Lipschultz, 55, assim como Rees, um co-presidente que ainda supervisiona o segmento de US$ 56 bilhões (R$ 289,1 bilhões) em participações em parcerias gerais, são todos bilionários.

A Blue Owl se especializou em financiar aquisições de software e empresas apoiadas por private equity em outros setores em crescimento com fluxos de caixa recorrentes, e Ostrover se orgulha de que sua empresa nunca perdeu dinheiro em um negócio de software empresarial. Seu histórico de evitar inadimplências é excelente, com perdas anuais de apenas 0,06% em sua carteira de crédito.

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“Queremos garantir que recebamos US$ 0,80 centavos por dólar [no pior caso]. A maioria dos negócios não entra em situação de estresse logo de cara, então se eu conseguir alguns anos de cupom e receber 80 de volta, isso significa que devolvi o valor nominal aos nossos investidores,” diz Ostrover, explicando a filosofia da empresa para minimizar riscos e apoiar indústrias como a de software, cujos modelos suportam fluxos de caixa semelhantes a anuidades. “Nosso objetivo não é ter o maior rendimento do mercado.”

Trajetória dos fundadores

A introdução de Doug Ostrover ao mundo do crédito de alto rendimento ocorreu na corretora E.F. Hutton logo após se formar em economia pela Universidade da Pensilvânia, em 1984. Ostrover inicialmente trabalhou no departamento de finanças municipais da Hutton, na área de títulos de receita industrial.

Esses créditos, às vezes questionáveis, ajudavam corporações a obter taxas mais baixas em empréstimos para edifícios e outras operações, estruturando-os como títulos isentos de impostos. Uma manhã, no metrô a caminho do trabalho, Ostrover abriu o Wall Street Journal e leu um artigo sobre a Receita Federal americana mudando o código tributário para restringir esses títulos. Quando chegou ao escritório, encontrou seus colegas empacotando caixas e pensou que estava sem emprego.

“Eles entraram na nossa sala e disseram para empacotarmos,” lembra Ostrover, “mas como você trabalhou com empresas pequenas, agora vamos fazer de você o grupo de títulos de alto risco da E.F. Hutton. E foi assim que comecei.”

Ostrover acabou indo parar no banco de investimento Donaldson, Lufkin & Jenrette em 1992 e ajudou a torná-lo um dos principais subscritores de títulos de alto risco de Wall Street na década seguinte ao colapso da Drexel Burnham Lambert.

Ele permaneceu na DLJ, que foi adquirida pelo Credit Suisse em 2000, por 13 anos antes de ele e seus colegas Bennett Goodman e Tripp Smith decidirem que era hora de seguir caminhos próprios.

“Começamos a pensar, bem, somos o principal originador. Os negócios que podemos originar e sabemos que têm alfa anexado a eles, em vez de sindicá-los e vendê-los para a PIMCO, Fidelity e Blackrock, por que não criamos um negócio onde mantemos esses empréstimos realmente bons?” diz Ostrover. “Hoje em dia, isso é chamado de empréstimo direto. Naquela época, praticamente ninguém estava fazendo isso.”

​​O trio chamou seu novo negócio de GSO Capital Partners, representando as últimas iniciais de cada um deles, e em três anos estavam gerenciando US$ 10 bilhões (R$ 51,63 bilhões). Em janeiro de 2008, eles receberam seu dia de pagamento – uma venda de US$ 945 milhões (R$ 4,9 bilhões) para a Blackstone. Ostrover continuou construindo a GSO (renomeada posteriormente como Blackstone Credit) e até 2015 a divisão havia acumulado US$ 75 bilhões (R$ 387,22 bilhões) em ativos sob gestão. A vontade empreendedora de Ostrover começou então a surgir novamente.

Nesse ponto, Ostrover diz que havia muitas empresas capazes de fazer empréstimos pequenos de US$ 10 milhões (R$ 51,63 milhões) aqui ou US$ 30 milhões (R$ 154,89 milhões) ali, mas muito poucas além de sua operação na Blackstone estavam emprestando centenas de milhões de cada vez. Ele sentiu que havia demanda suficiente por esses grandes negócios para que uma nova empresa independente pudesse se posicionar no topo dessa pirâmide e começou a recrutar novos sócios.
Enquanto isso, Lipschultz era o chefe de investimentos em energia e infraestrutura na KKR, tendo ingressado na famosa firma de aquisições em 1995, logo após sair da Harvard Business School. Lipschultz tinha vitórias de bilhões de dólares em seu currículo, com negócios como Hilcorp e East Resources, mas também teve perdas como a TXU quando os preços das commodities caíram. Quando Ostrover o chamou com a oportunidade de entrar no mundo de menor volatilidade do crédito privado, ele aceitou de imediato.

“Se pudermos agora criar um conjunto de produtos que ofereçam às carteiras alternativas algo mais previsível, durável e protegido contra o principal, poderíamos construir algo realmente especial para os investidores,” diz Lipschultz. “Poderíamos atuar como um fornecedor de pás e picaretas para essa grande indústria de mineração de ouro do private equity.”

Lipschultz não foi o único peso-pesado que Ostrover recrutou. Ele também convenceu Craig Packer, chefe de high-yield da Goldman Sachs e ex-colega da DLJ, a iniciar a Owl Rock com eles — Packer é agora co-presidente e líder da plataforma de crédito da Blue Owl.

Juntos, impulsionados pelo histórico de sucesso de Ostrover com a GSO, eles levantaram US$ 6 bilhões (R$ 30,98 bilhões) em seu primeiro fundo e, com uma alavancagem, tinham US$ 12 bilhões (R$ 61,95 bilhões) em poder de fogo para implantar.
Ostrover diz que cerca de 35% do financiamento veio de gestores de patrimônio privado, recebendo apoio inicial da Merrill Lynch, o que era incomum para grandes fundos de private equity em 2016. A Owl Rock colocou seus títulos em BDCs, que efetivamente securitizaram os empréstimos, dando aos clientes ricos de corretoras o mesmo acesso que grandes fundos de pensão e fundações.

A maior parte dos ativos da Blue Owl está em veículos de capital permanente de longo prazo que não precisam devolver o capital aos investidores dentro de um prazo definido, tornando seus fluxos de caixa estáveis e previsíveis. Cerca de 90% de sua receita de US$ 1,7 bilhão (R$ 8,78 bilhões) em 2023 vieram de taxas de gestão.

Os cofundadores também comprometeram parte de sua própria riqueza acumulada para os primeiros fundos da Owl Rock, e em 2019, eles procuraram a Dyal Capital de Nova York para comprar uma participação minoritária na empresa para lhes fornecer mais liquidez para investir em novos fundos. Apoiada pelo gigante da gestão de ativos Neuberger Berman, de 85 anos, a Dyal foi formada em 2011 para comprar partes de fundos de hedge e investidores alternativos.
Ostrover logo percebeu que se a Owl Rock realmente quisesse ser um “parceiro indispensável para o ecossistema dos mercados privados”, a Dyal era uma combinação natural para se juntar. A Owl Rock fornecia crédito para os negócios das firmas de private equity, e com a Dyal, eles poderiam oferecer dinheiro diretamente aos proprietários dessas empresas, os sócios-gerentes, também.

O casamento não foi inteiramente sem problemas. Após Ostrover promover Lipschultz a co-CEO da Blue Owl em maio passado, surgiram relatos de que Rees, um co-presidente, estava frustrado com a reestruturação e se sentia excluído.
Ostrover agora minimiza os rumores de discordância como “muito barulho por nada”, embora o arquivamento trimestral da Blue Owl em agosto passado mostre que a empresa concedeu a Rees um generoso novo pacote de remuneração em uma aparente tentativa de reparar as relações. O acordo promete a Rees pagamentos de bônus a cada trimestre vinculados a uma proporção do lucro gerado pelo seu segmento de negócios.

O bônus para cada um dos dois últimos trimestres de 2023 foi de US$ 8,5 milhões (R$ 43,88 milhões), e Rees concordou em receber os pagamentos trimestrais em ações da Blue Owl até o final de 2025. Rees, que vale US$ 1,8 bilhão (R$ 9,29 bilhões) de acordo com a Forbes, está agora levantando um sexto fundo, que deve fechar em torno de US$ 13 bilhões (R$ 67,12 bilhões).

Expansão

​​Desde a formação da Blue Owl em 2021, a empresa também expandiu para o setor imobiliário com a aquisição da Oak Street Real Estate Capital por US$ 950 milhões (R$ 4,9 bilhões) no final daquele ano. A Oak Street era líder de mercado na área de rápido crescimento de locações triplo líquidas, uma prática no setor imobiliário comercial onde os proprietários exigem que os inquilinos paguem pelo seguro, impostos e manutenção da propriedade, reduzindo seu risco. Hoje, o segmento imobiliário incipiente da Blue Owl tem US$ 27,2 bilhões (R$ 140,43 bilhões) em ativos sob gestão.

A onda de aquisições continuou este ano com a compra de US$ 170 milhões (R$ 877,69 milhões) da Prima, que gerencia US$ 10 bilhões (R$ 51,63 bilhões) em ativos imobiliários, e seu negócio de US$ 750 milhões (R$ 3,8 trilhões) para a Kuvare Asset Management (KAM), uma gestora de ativos para companhias de seguros, o que se espera que aumente os ativos sob gestão da Blue Owl em mais US$ 20 bilhões (R$ 103,26 bilhões).

A empresa também comprou US$ 250 milhões (R$ 1,2 bilhão) em capital preferencial na Kuvare UK Holdings, uma provedora de seguros de vida e anuidade que é separada, mas tem ativos gerenciados pela KAM. Ativos de seguros, que há muito tempo favorecem títulos corporativos negociados publicamente, representam um grande pote de mel inexplorado para comerciantes de crédito privado como a Blue Owl.

“As duas grandes áreas que acredito que serão um fator determinante das alternativas nos próximos anos são gestão de patrimônio privado e seguros,” diz o analista da Piper Sandler, Crispin Love, que possui uma classificação de compra para as ações da Blue Owl. “A Blue Owl já tem uma boa posição na gestão de patrimônio privado e varejo, e acredito que o seguro era um pouco do que faltava. Este acordo com a Kuvare Asset Management os ajudará a preencher essa lacuna.”

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