Nos próximos anos, as cadeias produtivas do agro têm uma missão: dar respostas cada vez mais assertivas à sociedade sobre as etapas da produção de alimentos, bioenergia e produtos que saem do campo para a cidade. Essa demanda já existe, mas as mudanças em curso devem colocar o agro em um novo patamar de tecnologia e gestão do negócio. “Quem ficar parado vai ser ultrapassado, não tenha dúvida”, diz o produtor Jan Haasjes, da Chácara Marujo, em Castro (PR), que apostou em inovação ao transformar os dejetos dos animais em biometano.
Hoje o produto é utilizado na frota da fazenda. “É uma maneira de reduzir custos e ser mais sustentável”, diz ele. “Produzimos o biometano e o gás substitui o diesel.” O produtor é um entusiasta da tecnologia. Não por acaso, a New Holland, pioneira e líder global em energia limpa, o convidou para testar uma de suas inovações, um trator movido a biometano. “Testamos em diversos serviços e percebemos que dava para trabalhar tranquilamente com ele”, diz Jan.
Novas lideranças
Ao lado da inovação e da tecnologia, a atual realidade no campo tem outros dois atores de peso: as novas gerações e as mulheres. Lideranças com um novo olhar, mais do que nunca, são fundamentais. “Da porteira para dentro, o produtor sempre resolveu seus desafios. O problema é da porteira para fora. Nossos produtores precisam de líderes que possam atender a demandas ligadas às políticas agrícolas e às questões sanitárias e regulatórias”, afirma Endrigo Dalcin, de Nova Xavantina (MT), onde planta soja e milho.
Dalcin foi presidente de sindicato rural e um dos criadores da Aprosoja-MT. Para ele, é importante formar novos líderes que atuem com empresas parceiras e próximas – como a New Holland. “Temos a tributação aos agricultores para investimentos em infraestrutura. A soja, por exemplo, não gera riqueza só para quem planta. Pagamos impostos de forma direta e indireta. Nas cidades que têm um agronegócio forte, o IDH é melhor, as escolas são melhores.” Não à toa, a participação do agronegócio no PIB (Produto Interno Bruto) do Brasil, que foi de 26,6% no ano passado, deve chegar aos 30% em 2021, segundo o Cepea (Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada) da Esalq/USP, em parceria com a CNA (Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil).
As novas gerações, incluindo as mulheres, estão inserindo uma visão de futuro inclusiva e adaptável. Gustavo Montans Baer, 35 anos, é um exemplo. A família começou a plantar soja no interior do Paraná na década de 1960. Ele conta que nunca foi forçado a seguir no agro, mas hoje responde pela direção técnica da Agropecuária Ipê. “Sempre foi o que eu gostei”, afirma. Para Baer, além da boa rentabilidade e das novas tecnologias que atraem os jovens para o campo, o importante é gostar do desafio da lida de uma indústria a céu aberto. “Aqui não temos rotina. Cada dia é uma nova tecnologia surgindo, um insumo novo que aparece”, diz ele. “Os jovens que quiserem seguir no campo precisam mostrar competência e agilidade para acompanhar o ritmo das inovações.”
No município de Correntina (BA), essas qualidades respondem pelo nome de Luiza da Rocha Teixeira Neves, que assumiu em 2005 a administração da fazenda que hoje se completa com dois arrendamentos de 10 mil hectares de lavouras, onde cultiva, junto com o marido, soja, milho e algodão. Ela representa a crescente participação das mulheres na liderança de propriedades e entidades ligadas ao agro, um movimento que teve a New Holland como precursora – a empresa criou, há alguns anos, a iniciativa chamada “É Tempo de Mulher”, que traz à tona maior diversidade e troca de experiências. O aumento da força feminina tem reflexo na ocupação de espaços nas fazendas. Segundo o IBGE, 19% das propriedades rurais Endrigo Dalcin: líderes da porteira para fora eram dirigidas por mulheres em 2017, cerca de 947 mil fazendas. Em 2006, eram apenas 13%. Se somadas as propriedades em que as mulheres dividem atribuições com os parceiros, como é o caso de Luiza, chegamos a 1,5 milhão. “As mulheres estão vindo para agregar na administração, sozinhas ou em parceria com os homens”, afirma ela. Quem a vê à frente de uma equipe de 90 funcionários não tem nenhuma dúvida de que as mulheres chegaram para ficar – e ir além.
Novas tecnologias: a revolução no campo
Eduardo Kerbauy, diretor de mercado Brasil da New Holland Agriculture, marca da CNH Industrial, diagnosticou uma grande avidez por mudanças em todas as cadeias ligadas ao setor. “Ao lado da sustentabilidade, estão entre nossas prioridades a inovação, o desenvolvimento tecnológico, a conectividade e a agricultura digital no campo”, afirma Kerbauy. “São as transformações que criam mudanças que se irradiam para além das porteiras e fazem crescer a participação das nossas máquinas nesta revolução no campo.”
Um dado que ilustra a percepção de Kerbauy é a quantidade de tratores. De acordo com o Censo Agropecuário 2017 do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), o número de propriedades rurais com essas máquinas aumentou 50% ante 2006. E a produção de tratores com alguma solução digital incorporada está em praticamente todos os tratores acima de 140 cv da New Holland – em 2006, o percentual chegava no máximo a 5% dessa mesma linha de produtos.
“Estão entre nossas prioridades a inovação, o desenvolvimento tecnológico, a conectividade e a agricultura digital no campo.” Eduardo Kerbauy, da New Holland Agriculture
No Grupo Amaggi, com sede em Cuiabá, há 285 tablets distribuídos em cerca de 320 mil hectares de cultivos. A empresa, que tem a New Holland como uma de suas parceiras, utiliza telemetria em suas máquinas, que fornecem dados precisos sobre as operações no campo. São medições vitais que dão respostas, por exemplo, sobre as pulverizações de agroquímicos. Segundo um ranking da FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura) de 2016, o mais recente da entidade sobre uso de defensivos agrícolas, o Brasil aparece na 44ª posição – o país está entre os maiores consumidores do mundo por sua grande área plantada.
Mas a tecnologia ainda pode dar mais contribuições. “A telemetria é importante porque melhora a performance, evita falhas nos talhões. Com ela conseguimos controlar de forma online a operação”, diz Pedro Valente, diretor da divisão agro da Amaggi. É possível confirmar, via dados, a rastreabilidade das operações. No caso das plantadeiras baseadas em agricultura digital, “o controle da velocidade melhora a performance da fazenda como um todo” – em média, cada equipamento gera 32 GB de dados. “No futuro, a tecnologia vai estar em todas as fazendas com essas soluções”, diz Valente (o país possui 5,3 milhões de propriedades rurais).
Sustentabilidade
“Os jovens que quiserem seguir no campo precisam mostrar competência e agilidade para acompanhar o ritmo das inovações.” Gustavo Baer, da Agropecuária Ipê
A New Holland acredita no pilar da sustentabilidade como um dos grandes pontos para o futuro do agro. Um exemplo é sua parceria com a Webler, um grupo agrícola da região de Sapezal (MT) que vem dando respostas também para as demandas ambientais. Além da telemetria, o grupo investe em compostagem, bioinsumos, recuperação de pastagem e tecnologias para tornar o confinamento de gado mais eficiente, com parte das áreas já tomadas pela integração lavoura-pecuária. A floresta também vem sendo plantada. “Nossa intenção sempre foi a de cuidar do meio ambiente”, diz Carlos Webler, diretor da Agropecuária Global. De acordo com o produtor, “as boas práticas trouxeram ao negócio maior produtividade nas lavouras e uso mais intensivo da pastagem”, hoje em uma área de 4 mil hectares. Para ele, a sustentação de seu negócio já não depende da abertura de novas áreas ou compra de novas terras.
Isso confirma o que a Embrapa Territorial tem mostrado em números: 218 milhões de hectares de vegetação nativa estão dentro das propriedades rurais, equivalentes a 50% das áreas totais desses empreendimentos. Um patrimônio imobilizado de impressionantes R$ 3,1 trilhões.
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