Caitlin Clark começou seus dias como atleta profissional quebrando mais um recorde. Maior artilheira de todos os tempos na história do basquete da NCAA, a liga universitária dos Estados Unidos, assinou com a Nike o que se acredita ser o contrato de patrocínio mais lucrativo do basquete feminino, supostamente valendo US$ 28 milhões em oito anos.
Mas mesmo com essa e outras grandes parcerias, com marcas como Gatorade, State Farm e Gainbridge, Clark não ganhou o suficiente para estar entre os 50 atletas mais bem pagos do mundo este ano. Na verdade, nenhuma mulher aparece na lista.
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A atleta feminina mais bem paga em 2023, a tenista polonesa Iga Świątek, teve cerca de US$ 23,9 milhões em ganhos totais, pouco mais da metade dos US$ 45,2 milhões necessários para ficar entre os 50 mais bem pagos deste ano.
O ranking está ficando mais disputado, considerando que o limite para este ano é aproximadamente o dobro dos US$ 22,7 milhões de uma década atrás.
Serena Williams foi a única mulher entre os 50 atletas mais bem pagos do mundo no ano passado – a sua sexta vez na lista na última década – mas agora está aposentada e já não é elegível.
Apenas três outras mulheres chegaram ao top 50 desde 2012 – as tenistas aposentadas Maria Sharapova e Li Na, e Naomi Osaka, que está aumentando o seu portfólio de patrocinadores, que chegou a atingir estimados US$ 60 milhões anuais após uma longa ausência por lesão e depois de dar à luz seu primeiro filho no ano passado. Nenhuma mulher entrou na lista de 2017 a 2019.
De onde vem a disparidade
Grande parte do problema decorre do fato de que os ganhos em campo, salários e prêmios em dinheiro, estão vinculados às receitas da liga. Nesse sentido, a receita de transmissão é crucial, e a Deloitte projeta que os esportes de elite femininos vão gerar coletivamente US$ 340 milhões nessa categoria em 2024. A WNBA (liga profissional de basquete feminino dos EUA), por exemplo, atualmente arrecada cerca de US$ 60 milhões anualmente dos direitos de mídia, e a comissária Cathy Engelbert disse recentemente à CNBC que pretendia “pelo menos dobrar nossas taxas de direitos.”
Em comparação, a NBA (a liga masculina) ganha cerca de US$ 3 bilhões com seus acordos, e deverá dobrar esse número após a próxima rodada de negociações.
Observando essas disparidades, fica evidente por que Caitlin Clark ganhará apenas US$ 77 mil em sua primeira temporada, enquanto a primeira escolha geral da NBA em 2023, Victor Wembanyama, teve um salário base de US$ 12,2 milhões.
Os salários da WNBA chegam a cerca de US$ 240 mil, enquanto o mínimo para os atletas homens é de cerca de US$ 1 milhão. Mesmo num esporte como o tênis, cujos torneios do Grand Slam oferecem prêmios em dinheiro iguais desde 2007, a disparidade de rendimentos persiste em torneios menores.
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Mudança de cenário para os esportes femininos
Uma quantia crescente de dinheiro circulando nos esportes femininos pode mudar esse cenário. A Deloitte estima que a receita total dos esportes profissionais femininos atingirá US$ 1,28 bilhão este ano, o que está pelo menos 300% acima da projeção da empresa há três anos. Já aumentando essas marcas estão os novos acordos de direitos de mídia que elevaram o valor médio anual da NWSL (liga profissional de futebol feminino dos EUA) e do Torneio de Basquete Feminino da NCAA, liga esportiva universitária, para mais de US$ 60 milhões cada. “Este ano e o ano passado foram fenomenais para as mulheres nos esportes”, diz Anjali Bal, professora associada de marketing no Babson College, nos EUA.
O total da premiação do LPGA Tour, da liga profissional das golfistas mulheres, nesta temporada é de US$ 123 milhões, um aumento de 76% em relação a 2021. A NWSL, de futebol feminino, aumentou seu teto salarial em 40%, para US$ 2,75 milhões, e viu Mallory Swanson, atacante da Seleção Feminina dos EUA, assinar o maior contrato da liga de todos os tempos — US$ 2 milhões em quatro anos.
Mais patrocínios
E embora as oportunidades fora de campo para as atletas tenham ficado tradicionalmente aquém dos negócios masculinos, isso também deve mudar. Caitlin Clark e a atacante do Las Vegas Aces, A’ja Wilson, estão prestes a receber tênis da Nike com seus nomes, juntando-se às estrelas do New York Liberty, Sabrina Ionescu e Breanna Stewart.
Enquanto isso, mais marcas estão apoiando atletas femininas e, além de Clark, há uma série de jovens estrelas em ascensão, incluindo Angel Reese e Cameron Brink, na WNBA, Nelly Korda e Rose Zhang no golfe e Świątek, Coco Gauff e Aryna Sabalenka no tênis.
A disparidade é expressiva, mas as atletas femininas mais bem pagas estão fazendo grandes progressos. A mediana das 20 primeiras colocadas do ano passado subiu para US$ 8,5 milhões, contra US$ 7,3 milhões em 2022, e oito atletas registraram ganhos totais estimados de US$ 10 milhões ou mais, dobrando a marca de três anos atrás. “É tão injusto que as pessoas digam que os esportes femininos nunca serão vistos como os masculinos porque nunca tentamos ter equidade em termos de distribuição e remuneração”, diz a professora Anjali Bal. “Os patrocinadores são movidos pelos espectadores. Não há dúvida sobre isso.”
Quem são os 10 atletas mais bem pagos de 2024
*Justin Birnbaum é colaborador da Forbes US. Ele cobre negócios esportivos, fez perfis de bilionários proprietários de times, como Toto Wolff e Jorge Mas, e escreveu para grandes veículos nos EUA.
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