Ao lado das cenas inimagináveis e trágicas de milhares de pessoas que perderam entes queridos e que também perderam tudo o que construíram ao longo da vida com as cheias no Rio Grande do Sul, temos visto cenas emocionantes de gaúchos e gaúchas aos prantos ao reencontrar e abraçar os seus pets, de pessoas que só deixaram as suas casas com a condição de que seus animais de estimação fossem com elas, de grupos de proteção animal e voluntários que, numa bonita corrente, têm conseguido resgatar muitos bichinhos e, com sorte e a ajuda das redes sociais, encontrarão os seus tutores.
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Também temos visto cães e humanos lado a lado na busca por desaparecidos – cães guiando o homem, ensinando-o a como fazer e onde ir procurar.
Recentemente, também testemunhamos a dor de um tutor ao constatar que seu cão havia sido enviado por uma companhia aérea a outro Estado e, por causa disso, acabou falecendo. Vimos como essa morte gerou uma onda de protestos de “pais” e “mães” de pet.
Dados apontam que o Brasil já alcançou a incrível marca de 168 milhões de pets (a maioria cães e gatos) para uma população de 215 milhões de pessoas. Isso ajuda a nos ter uma ideia do quanto eles passaram a fazer parte do dia a dia da maioria das pessoas, mesmo quando essas pessoas não têm um lugar para morar.
Por que será que amamos tanto os nossos animais de estimação (eu sou um; amo demais o Franc)? Muitos estudos vêm se debruçando nisso e no poder dos pets sobre a nossa saúde mental.
Descobriu-se, por exemplo, que só de olharmos os nossos animais, o nosso corpo responde com a liberação do chamado hormônio do amor (a ocitocina), aquele que nos ajuda a nos sentirmos bem. Ou seja, olhar para os nossos pets nos traz grande bem-estar emocional.
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Verificou-se também que, na presença de seus pets, os tutores ficam mais relaxados frente a uma situação de estresse ao ponto de até a pressão arterial cair. O benefício também vale para o animal: perto de seu tutor, os animais sentem-se mais seguros e brincam mais.
Há muito tempo, presenciamos o fenômeno do crescimento da população das cidades e do aumento acelerado do espaço urbano. A solidão nos grandes centros é uma realidade e tem grande impacto na saúde mental.
E é aí que entra o animal de estimação. Não só ele costuma ser um motivador para uma pessoa sair de casa e ainda se exercitar como, de alguma forma, ele é capaz de reativar em nós a capacidade de nos relacionarmos com um outro. Muitas pessoas que são sozinhas dizem que seus bichinhos as fizeram redescobrir o que é amar e ser amado. E isso é sinal de boa saúde mental.
Os animais de estimação também são um apoio importante em momentos de luto, quando perdemos alguém ou algo que é importante para nós.
Por fim, algo que acho muito bonito: nossos pets nos fazem voltar a ser crianças e a descobrir novamente a capacidade de brincar, uma das habilidades mais importantes para o cuidado da saúde mental de adultos e de crianças.
Dr. Arthur Guerra é professor da Faculdade de Medicina da USP, da Faculdade de Medicina do ABC e cofundador da Caliandra Saúde Mental.
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