O Instituto Inhotim está inserido em um contexto rural, em Minas Gerais, fora do eixo São Paulo-Rio. “Não é um museu de passagem, é um destino. Você precisa se programar para ir”, diz a diretora presidente, Paula Azevedo. Ainda assim, foi esse o destino escolhido por ela para comemorar o seu aniversário de 40 anos, muito antes de sonhar estar à frente do maior museu a céu aberto da América Latina. “É de uma força hiperbólica: o verde é muito verde, as plantas são gigantes e as obras, monumentais.”
É a primeira mulher no cargo, em meio a um movimento de figuras femininas à frente de importantes instituições artísticas no Brasil, na América Latina e em todo o mundo. “A desigualdade de gênero é histórica, mas o meu caso é um exemplo de mudança. E, assim como eu, há mulheres assumindo cargos de direção em diversos museus do mundo”, afirma, citando as lideranças do Louvre, em Paris, do Malba, em Buenos Aires, e do Brooklyn Museum, em Nova York. “É um movimento mundial em diversas áreas, e com os museus não é diferente.”
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Azevedo construiu sua carreira em grandes instituições e tem experiência em gestão de coleções privadas. Antes de assumir a presidência do Inhotim, passou pelo Instituto Tomie Ohtake, pelo Museu de Arte Moderna de São Paulo – trabalhando ao lado da sua mentora Milu Villela, que presidiu o MAM por 24 anos – e pelo Instituto de Arte Contemporânea.
Museu (a céu) aberto
Ainda como vice-presidente, a executiva ajudou a estruturar o programa “Inhotim de Todos e Para Todos”, com foco na democratização do acesso ao museu e na sustentabilidade a longo prazo. “O museu é para todos quando a gente não cobra ingresso e dá acesso a todos os tipos de pessoas.”
O ponto de virada partiu da maior doação individual da história da cultura brasileira, feita pelo fundador, Bernardo Paz, que transferiu ao museu 326 obras da sua coleção de arte contemporânea. Além de um contrato com a Vale, que vai destinar R$ 400 milhões ao Instituto ao longo de 10 anos.
Azevedo e Lucas Pessôa, então presidente do Inhotim, formaram um conselho com 30 membros, entre eles Roberto Setubal, copresidente do conselho do banco Itaú, Fabio Barbosa, CEO da Natura &Co, e Jandaraci Araújo, cofundadora do Conselheira 101. “Estabelecemos as diretrizes necessárias para uma instituição perene e alinhada com seu tempo. Agora, o meu desafio é fazer a implementação”, diz Azevedo.
Fundado em 2006, o museu continua inovador e repercutindo pautas atuais graças aos olhares de artistas diversos. Das 18 galerias com exposições permanentes no Inhotim, 50% são dedicadas a artistas mulheres, como Adriana Varejão, Doris Salcedo, Claudia Andujar e Yayoi Kusama. Neste ano, as exposições temporárias incluem nomes como Grada Kilomba, Rebeca Carapiá, Rivane Neuenschwander e Pipilotti Rist. No ano passado, também foi formado um comitê de equidade racial.
A presidente está à frente dos acervos artístico, botânico e de arquitetura. “Acima de tudo, sou uma pessoa muito relacional, e acho que o nosso principal acervo são as pessoas”, diz ela, citando tanto os visitantes quanto os funcionários.
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Arte como carreira e terapia
A habilidade com pessoas veio de casa, circulando entre os círculos sociais dos pais. Enquanto a mãe, modelo, vivia cercada de artistas, o pai trabalhava no mercado financeiro. “Eles eram muito diferentes e eu sempre convivi com grupos opostos.”
Azevedo iniciou a carreira no mundo das artes trabalhando em uma galeria, mas foi inserida nesse universo desde cedo. “Minha mãe incentivou meu interesse pela arte de maneira geral.”
O networking, importante para qualquer carreira, foi especialmente relevante para ajudar a captar investimentos para as organizações em que atuou. Hoje, ela é responsável pelo Anoitecer Inhotim, evento anual de fundraising do Instituto. Também faz parte do conselho de administração do IAC (Instituto de Arte Contemporânea).
Azevedo se reveza entre São Paulo e Brumadinho, próximo a Belo Horizonte, onde fica o Instituto. Seu trabalho também envolve viajar pelo Brasil e pelo mundo, visitando feiras e conhecendo novos museus. “Sou uma dessas pessoas privilegiadas que trabalha com o que gosta. Assim como os cariocas vão à praia ver o mar, quando eu preciso estar comigo, eu vou ao museu.”
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