A Case IH, marca de máquinas agrícolas da CNH Industrial, avança na área da agricultura digital ao apresentar a Fazenda Conectada. Mas o projeto, que tem como objetivo mostrar os benefícios da conectividade ao produtor, é apenas uma das iniciativas da marca nesse sentido.
As atividades e as decisões no campo estão se baseando cada vez mais na tecnologia e na digitalização dos processos. São os sinais de um futuro cada vez mais eficiente, tecnológico e autônomo.
Pensando na realidade do produtor, a Case IH investe em tecnologia para que todas as máquinas e necessidades do campo sejam totalmente conectadas, evoluindo os serviços para soluções mais completas.
Para falar sobre o momento da marca, o vice-presidente da Case IH para a América Latina, Christian Gonzalez, conversou com a Forbes.
FORBES – A Case IH lançou recentemente a Fazenda Conectada, que apresenta um ecossistema completo em agricultura digital, reunindo as soluções avançadas da marca em uma propriedade real onde máquinas, serviços e pessoas estão sempre conectados. Esse é o futuro ou é o presente do agronegócio? Podemos esperar mais tecnologias no campo?
Christian Gonzalez – A agricultura digital é mais uma etapa da evolução constante pela qual a atividade agrícola, especialmente no Brasil, vem passando desde os anos de 1970. Passamos de uma atividade considerada estagnada para um dos setores mais ativos e tecnológicos do país. Entre todos esses avanços tecnológicos, o mais recente foi a agricultura de precisão, um conjunto de tecnologias e técnicas que auxiliam o produtor a melhorar o rendimento por meio de decisões mais precisas. E nada dentro de uma propriedade rural é mais importante do que decisões corretas. É fundamental e tem impacto direto na produtividade. Só que a agricultura de precisão gerou um volume brutal de informações, e é aí que entra a agricultura digital, que é a evolução de todo esse processo. Dentro de uma propriedade, quem é o maior gerador de dados? As máquinas agrícolas. As máquinas, que atualmente são totalmente eletrônicas, têm sensores que permitem colher quase todos os dados de uma propriedade rural. Até pouco tempo atrás, fazia-se pouco com esse volume de informações. A agricultura digital veio justamente para mudar isso, nasceu para melhorar a gestão agrícola através da utilização de novos conceitos e tecnologias como big data, inteligência artificial, machine learning e conectividade. E nós, da Case IH, como produtores de máquinas, assumimos a responsabilidade de liderar esse processo. Foi daí que nasceu a ideia da Fazenda Conectada. A agricultura digital é um conceito. Ela é feita de milhões de pequenas etapas, equipamentos, aplicações. Cada produtor rural vai querer usar isso de uma forma diferente. E nós entendemos que temos o dever de educar a sociedade agrícola para esse futuro que já chegou. Mas não existe uma receita pronta para todo mundo. Culturas e propriedades diferentes vão exigir soluções diferentes. Como grandes provedores e utilizadores de dados, nós sentimos que tínhamos a obrigação de criar um laboratório onde fosse possível mostrar todas as soluções, em cada etapa, em larga escala, numa região que retrata a agricultura brasileira. É um projeto de longo prazo, no qual queremos mostrar a evolução, o que é possível fazer com a agricultura digital, e os resultados práticos na produtividade, eficiência e sustentabilidade.
Quando se pensa no futuro de qualquer indústria, pensamos em automação. As máquinas autônomas serão uma realidade na agricultura brasileira? Em quanto tempo?
Serão. Atualmente, a questão das máquinas agrícolas autônomas é mais regulatória. A tecnologia já existe. Em 2017, a Case IH apresentou no Brasil o primeiro trator autônomo, um conceito, mas que trabalhou em situações reais de plantio nos EUA. Desde então, estamos trabalhando para trazer a tecnologia comercialmente para o Brasil em breve. O país tem tudo para ser um dos maiores mercados de máquinas agrícolas autônomas do mundo. O brasileiro é apaixonado por tecnologia, não apenas no campo, mas na sociedade urbana também. Exemplos não faltam. É um país menos reticente e com mais facilidade de adaptação. Outro motivo é a falta de mão de obra nas áreas rurais. A operação de uma colheita não é uma tarefa fácil, exige um profissional qualificado, que não está mais no campo. Outro ponto importante é que o Brasil é um dos poucos países do mundo que praticam a agricultura de larga escala, o que torna mais acessível e necessário o uso de máquinas autônomas. A implementação da autonomia acontecerá gradativamente, em fases. Algumas delas, inclusive, já estão no campo. Atualmente temos uma colhedora, a Axial-Flow Série 250, que se autorregula por meio de vários sensores, sem a necessidade de que o operador faça isso. Graças a avançados algoritmos e inteligência artificial, quanto mais ela colhe, mais inteligente ela fica. Isso é machine learning, é automação pura. É comum algumas pessoas imaginarem, quando falamos em automação, em propriedades rurais vazias, com todos os equipamentos fazendo tudo. Não é isso que vai acontecer. Será um processo, a automação acontece em níveis. No começo, as máquinas, mesmo trabalhando sozinhas, vão precisar de um operador, até chegar a um ponto em que esse operador não será mais necessário, apenas em algumas máquinas líderes. Só depois disso é que teremos um cenário em que as máquinas vão trabalhar com o gerenciamento remoto, apenas com supervisão. Será uma revolução em estágios, mas que estará disponível comercialmente em pouco tempo.
A Case IH no Brasil e no mundo sempre foi protagonista quando se fala em agricultura do futuro. Como a própria empresa se prepara para ele?
A Case IH sempre buscou a inovação para atender os produtores de alta performance, que buscam a evolução constante dos seus negócios. A história da marca mostra isso. No Brasil, a Case IH chegou, nos anos de 1990, com uma proposta diferente dos concorrentes. Trouxemos equipamentos com performances e tecnologia infinitamente superiores às dos que existiam no país na época, justamente quando o agronegócio brasileiro começava a despontar com a evolução das novas fronteiras agrícolas no Cerrado e no segmento bioenergético. Nunca deixamos de investir pesado em inovação. Fizemos investimentos importantes em empresas como a Monarch Tractor, empresa de tecnologia agrícola baseada na Califórnia, especializada em automação e eletrificação; e a Augmenta, empresa focada na automação de operações agrícolas através de visão computacional e inteligência artificial. Recentemente, adquirimos a Raven Industries, a maior empresa dos EUA de agricultura de precisão e referência em sistemas autônomos. Estamos nos preparando para essa nova era da agricultura digital.
Com a adoção de soluções mais avançadas, a servitização (processo de agregar serviços aos produtos) na indústria de bens de capital também será uma realidade?
A servitização não é uma tendência global restrita às indústrias, é um fenômeno social que vai atingir todos os setores, com maior ou menor intensidade. No caso das máquinas agrícolas, por exemplo, se formos comparar com a indústria automobilística, será uma servitização um pouco mais limitada. Não teremos no campo um “carsharing”. Os processos nas lavouras são realizados simultaneamente, o que dificulta isso. Mas sim, cada vez mais o produtor rural vai querer comprar serviços. E nós vamos oferecer, estamos preparados para isso. Até pouco tempo atrás, uma concessionária agrícola era focada na venda de máquinas, de peças, na oficina, em financiamento. Não é mais assim. Estamos oferecendo e vamos oferecer cada vez mais serviços. Sim, serviços agronômicos, gestão proativa de máquinas, gestão de dados, manutenção preventiva remota. Isso tudo é servitização. Ela vai acontecer e será boa para a indústria e para os produtores rurais.
Agricultura digital, veículos autônomos, transmissão de dados… Tudo isso passa por conectividade. No Brasil, especialmente no campo, ainda existem problemas com infraestrutura, principalmente em relação ao sinal de banda larga. Isso não é uma preocupação para vocês?
As áreas rurais não têm a mesma conectividade que as urbanas, isso ainda é uma realidade. Na Case IH, dentro do processo de produzir máquinas cada vez mais modernas e inovadoras, nós também passamos a investir recursos e tempo e a contratar profissionais para ajudar a conectar o campo. Fazer isso nunca foi parte do nosso core business, mas nós sabíamos que, se ficássemos na dependência de outros atores, a conexão não chegaria ao mesmo tempo nem na qualidade de que precisávamos. Em 2018, começamos a buscar uma solução e a conversar com empresas que tinham o mesmo objetivo que a gente: levar conectividade para o campo. A partir daí, surgiu em 2019 a iniciativa ConectarAGRO, que em 2020 virou uma associação sem fins lucrativos. Para esse projeto, estamos trabalhando com empresas das áreas de tecnologia, telecomunicações e de máquinas agrícolas, inclusive com os nossos concorrentes, pois sabíamos que o futuro iria passar pela conectividade e que isso seria importante para todos. Hoje, a associação ajudou a levar conectividade para mais de 6,2 milhões de hectares, usando a tecnologia de 4G de 700 MHz. Com o tempo, nós percebemos que outros players começaram a avançar nesse segmento, o que aumentou a concorrência. Isso mostra que é uma questão de tempo para o campo estar conectado. Todos os atores – indústria, poder público, produtores – sabem que a conexão é essencial, e todo mundo está buscando isso.
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