As mulheres representam mais de 50% dos gamers no Brasil, segundo dados da Pesquisa Gamer de 2024, mas esse universo foi construído e ainda é dominado pelo público masculino. “Tudo ali é reflexo direto de uma sociedade que quer colocar homens como protagonistas e mulheres como objetos”, afirma Lisa Mae Brunson, fundadora da Ong Wonder Women Tech.
A organização, que atua globalmente pela inclusão feminina no mundo da tecnologia, criou a primeira delegacia da mulher em um jogo eletrônico. Dentro do GTA RP, a e-delegacia criada com uma modificação simples no game facilita o acesso a informações e denúncias de assédio e violências. “Punições dentro do game não bastam. Por isso, criamos a e-Police Station, que faz a conexão entre as jogadoras e delegacias do mundo real.”
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A recomendação é que as mulheres que sofrerem ou presenciarem situações de violência salvem as provas dentro da própria plataforma e levem seus avatares até o ponto de apoio, onde serão instruídas a fazer o boletim de ocorrência eletrônico dentro do site oficial da polícia. É como uma denúncia comum: as informações seguem os trâmites de apuração das ocorrências pelas autoridades oficiais.
Impunidade nos games
Situações de abuso ou assédio nos jogos são recorrentes. Uma pesquisa da Sky com 4.000 mulheres gamers no Reino Unido mostra que quase 50% já enfrentaram alguma situação do tipo – e esse número sobe para 75% entre as jovens de 18 a 24 anos. “As vítimas param de jogar, entram em depressão e 1 em cada 10 cogitam o suicídio. E os agressores seguem impunes.”
Dentro dos games, as punições se resumem, basicamente, ao banimentos dos jogadores, o que não é efetivo, já que eles podem criar novos perfis. “O universo gamer muitas vezes pode facilitar que essas situações se transformem em entretenimento para o público masculino”, afirma a gamer Amanda Abreu, que já sofreu diversos episódios de assédio nos seus 10 anos jogando.
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Muitas vítimas deixam de denunciar pela impunidade que rodeia esse universo. “As pessoas acham que a internet é terra sem lei e que através de perfis fakes não vão ser punidas”, diz Abreu.
Para se proteger, as jogadoras usam nomes de homem e efeitos para disfarçar a voz. “A era do silêncio acabou. Acredito que dar uma ferramenta para que as mulheres denunciem é uma forma de intimidar futuros assediadores”, afirma Brunson. Para ela, a raiz das violências está na intimidação de mulheres ocupando esse espaço, antes reservado aos homens.
A primeira e-delegacia chega primeiro ao Brasil, mas deve ser levada também para outros países. A escolha se deve ao fato de que a indústria de games brasileira está entre as que mais crescem no mundo, além dos índices alarmantes de assédio no país e ao pioneirismo na instituição de delegacias especializadas em mulheres na América Latina, criadas em 1985.
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