A Expocaccer (Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado), que reúne 700 produtores de cafés em Patrocínio (MG) e região, inaugurou na semana passada um escritório no estado de Delaware, nos EUA, onde há um importante porto, o de Wilmington, que recebe cargas a granel, além de frutas, vegetais e produtos industriais. A estratégia é centralizar os procedimentos de venda e exportação, facilitando as operações da cooperativa lá fora.
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“Ter estoques de café nos EUA, para atender ao mercado spot, é uma maneira de aproximar o produtor do consumidor. O hub é a presença dos 700 cooperados nos EUA, para mostrar ao consumidor americano quem produz”, diz Simão Pedro de Lima, diretor comercial da Expocaccer. Com a iniciativa, a estimativa é de que os embarques do grão para este mercado aumentem até 15% este ano.
Em 2023, os cooperados produziram 1,3 milhão de sacas de café (78 mil toneladas do grão), das quais 450 mil sacas foram para o exterior. Os Estados Unidos compraram 67,5 mil sacas (4 mil toneladas), ou 15% do total exportado e 5,2% do total produzido. Em 2024, a cooperativa acredita em um volume da ordem de 76,5 mil sacas (4,6 mil toneladas) do grão para os EUA, com a estimativa de aumento total do volume embarcado para algo entre 550 mil e 600 mil sacas.
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De acordo com Lima, quase toda a expectativa de aumento das exportações vem dos EUA. Sem o hub, a cooperativa enfrentava “vários embaraços aduaneiros”, que ela espera sanar, embora conte com o suporte logístico de parceiros comerciais nas Costas Leste e Oeste americanas. “Antes do hub, os compradores não podiam pedir, vamos supor, 20 sacas de café — ou compravam 320 (um contêiner) ou esperavam o contêiner fechar com outros pedidos para sair do Brasil”, explicou Lima à Forbes.
“Agora, a Expocaccer Brasil vai enviar para a Expocaccer EUA as cargas de café que não necessariamente foram vendidas previamente. Então poderemos, por exemplo, enviar mil sacas de café — ou seja, três contêineres — que ficarão depositados nas warehouses parceiras e serão vendidos fracionados lá, isto é, o comprador pode adquirir uma quantidade pequena à pronta entrega”, diz ele.
Em 2023, o Brasil exportou 39,247 milhões de sacas (2,2 milhões de toneladas), por US$ 8,08 bilhões, de acordo com o Mapa (Ministério da Agricultura). Os EUA foram o principal destino, com valores da ordem de US$ 1,27 bilhão para 5,7 mil sacas (340,5 mil toneladas).
O anúncio de que a Expocaccer estenderia suas operações diretas ao país, criando um hub, foi feita em abril do ano passado e de lá para cá foi tempo montar as infraestrutura e definir serviços. “É mais um hub logístico do que uma unidade comercial, pois o produto continuará sendo distribuído pelos nossos clientes, que são as torrefações e comerciantes locais”, afirmou Lima. “Mas a nossa logística ficará potencializada. A Expocaccer é a primeira cooperativa brasileira a fazer isso, vanguardista.”
Café especial está na mira da Expocaccer
Com mais facilidades na oferta do grão, a cooperativa pretende investir na venda de cafés especiais. A meta é dobrar, em quatro anos, até 2028, o envio de cafés especiais para os Estados Unidos. Hoje, os cafés especiais representam algo em torno de 10% a 20% dos embarques ao país, o que significa volumes da ordem de 7 mil a 13 mil sacas nos últimos anos.
“Na minha época, o consumidor queria saber de onde vinha (o café). Hoje, ele pergunta quem produziu. Então, vamos trabalhar com essa transparência radical”, diz Lima. Em 2023, a cooperativa produziu 40 mil sacas de cafés especiais e a estimativa é dobrar para 80 mil sacas neste ano.
O produtor e cooperado Gustavo Ribeiro Caixeta, da fazenda Congonhas, de 270 hectares de cultivo e que também fica em Patrocínio, está animado com a iniciativa e acredita em agregação de valor à produção. “A gente tem condição de levar o café para o maior número de compradores possível nos EUA. Como a cooperativa é uma extensão nossa, do produtor, a gente faz todo o processo de vendas juntos”, diz ele. “Se a gente sabe que um cliente prefere um café frutado, que é o que produzo, sabemos qual produtor tem o café mais apropriado. O novo escritório vai facilitar muito nossa comercialização e ‘pulverizar’ melhor nossas vendas.”
Caixeta é um entusiasta da agricultura regenerativa e investe para ter grãos diferenciados. Ele usa fertilizantes biológicos e aplicação extra de esterco, além de cultivar um mix de culturas nas linhas de café para enriquecer o solo com diferentes microrganismos gerados a partir da variedade de raízes. Do total da lavoura, o produtor reserva de 35% a 40% da produção como tipo exportação. É esse café que ele quer vender com valor agregado lá fora. Caixeta colhe cerca de 10 mil sacas por ano e para o café especial aposta, principalmente, na variedade bourbon amarelo.
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Segundo o Cecafé (Conselho Exportador de Cafés do Brasil), os grãos especiais representam 25% das exportações brasileiras e garantem um prêmio médio de 13,4% ao produtor, que pode às vezes até dobrar. Em 2023, o preço médio da saca exportada foi de US$ 227,47. “O Brasil é o maior exportador e segundo consumidor — exporta 40% do café no mundo. O país tem tudo para liderar, agora, o café sustentável, em tempos de novas regras”, diz Marcos Antonio Matos, CEO do Cecafé. “Hoje se debate prêmios para os parâmetros ambientais.”
Matos lembra que os EUA podem voltar a comprar mais café do Brasil neste ano. Isso porque 2023 não é um bom ano para comparações, pois o país vinha de uma quebra de safra ocasionada por geadas em 2021/2022 (houve queda de 24% nos embarques para os EUA). “Se a safra deste ano for normal, devemos voltar aos padrões anteriores”, diz ele.
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