Hoje ela ajuda a desenvolver tecnologias, incluindo as possibilidades da Inteligência Artificial, para grandes empresas, do porte de Nestlé, Itaú e Raia Drogasil. Renata Mello Feltrin, diretora executiva da empresa de tecnologia CI&T para América Latina, atua para entender os problemas das empresas em tempos de transformação digital e traduz essas questões para os muitos engenheiros que a cercam. “A CI&T é uma empresa de engenheiros. O que os engenheiros geralmente querem é construir coisas. Eu aprendi a fazer essa ponte entre eles e as empresas, a traduzir os problemas de negócios para a tecnologia. Aprendemos muito com essa troca.”
Nada mal para quem começou corrigindo redação dos alunos de cursinho, ainda no ensino médio. Depois disso, Feltrin cursou comunicação em Belém do Pará, sua cidade natal, ao mesmo tempo que surgia o Netscape, o primeiro browser. E logo começou a trabalhar com publicidade. “Percebi que as agências não estavam olhando para tecnologia e resolvi que iria fazer do meu jeito.”
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Abriu, então, uma pequena empresa para desenvolver sites e “tirar as empresas das páginas amarelas” [grandes catálogos com nomes e telefones de pessoas e empresas pré-internet]. Foi para São Paulo estudar, aprendeu código e trabalhou numa gravadora até que, em 2004, foi entrevistada por um dos fundadores da CI&T, Bruno Guicardi, para uma vaga de webdesigner.
Mas a personalidade expansiva e a capacidade de se comunicar e de estreitar relações logo a levaram para a área de negócios, onde sua carreira decolou. “Meu background de comunicação e minha capacidade de criar vínculos foram muito importantes porque descobri que os líderes não querem entender a fundo de tecnologia, eles querem confiar em quem está fazendo. Eu levo essa confiança para eles quando traduzo o que estamos criando.”
Apoio a mulheres e Pacto Global
Em novembro do ano passado, Feltrin foi a Genebra para o Fórum Mundial de Direitos Humanos e Empresas. Em princípio, o objetivo era apresentar os resultados do programa Mentorela, em que executivas de destaque mentoram outras profissionais, em conjunto com ONU Mulheres e Pacto Global. Seu trabalho foi voltado para a área de inovação e estratégia digital.
Pouco antes da viagem, uma surpresa. Feltrin foi convidada pela ONU para participar de dois eventos sobre Direitos Humanos e Inteligência Artificial Generativa que aconteceram paralelamente ao fórum. “Fui a única brasileira convidada no grupo, que discutiu governança em torno da IA para que a gente use esse recurso de forma responsável.”
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Aceleração da carreira feminina
A viagem trouxe um dos assuntos mais caros a Renata Feltrin no momento, que é investir na formação de lideranças femininas. “Faz alguns poucos anos que eu percebi como era diferente ser mulher, que as coisas eram mais difíceis e me perguntei como eu nunca tinha me incomodado com isso.”
Depois dessa percepção, porém, seu foco mudou. “Começamos a medir a velocidade de carreira das mulheres na empresa e percebemos que elas levam três vezes mais tempo para chegar a serem líderes”, conta. Percebeu também que os colegas que haviam começado junto com ela já estavam em cargos mais altos antes que ela chegasse à diretoria.
E esse foi o empurrão para que se envolvesse no programa de aceleração de carreira de mulheres da CI&T. “Uma parte importante é entender como os homens olham para essa agenda de liderança feminina”, diz a paraense, que a partir daí ajudou a mapear as mulheres que estavam com suas carreiras estagnadas e ajudá-las a subir mais rápido com a ajuda da mentoria de diretores.
O programa inclui também uma consultoria invertida, em que essas mulheres também mostram aos executivos o que é importante para elas. “Hoje, nossos indicadores de carreira são automatizados e isso permite acelerar a diversidade de maneira geral.”
A jornada de Renata Feltrin
Quem me apoia
“Não querendo cair no clichê, mas se meu marido [Rogério Feltrin] não tivesse assumido um papel importante no nosso arranjo familiar e na responsabilidade parental com minhas filhas, ao longo dos anos eu não teria conseguido trilhar uma carreira executiva de tanto crescimento. Além dele posso citar dois executivos que foram importantes ao longo da minha história. Solange Sobral, que deu minha primeira oportunidade de gestão executiva com a transformação digital do Itaú; e Aminadab Nunes, que é o líder mais inteligente e generoso que conheci. Aprendi muito com ele – e foi pelas mãos dele que me sentei na cadeira de diretora executiva.”
Turning point da carreira
“O momento em que escolhi enfrentar uma jornada de autoconhecimento profunda. Passei mais de um ano investindo em mentorias que me levaram para meu lado mais feminino, para a capacidade de escuta ativa e de buscar felicidade além do trabalho. Isso me transformou em muitos aspectos e me fez capaz de realizar grandes projetos com pessoas diferentes.”
Causas que abraço
“Sem dúvida, a de equidade de gênero, especialmente nas mesas de alta liderança, e a abertura de espaço para mais mulheres em tecnologia. Hoje sou mentora em três diferentes programas de mentoria para mulheres (Mentorela, Pulse, da B2Mamy, e MCIO) e sou investidora anjo na [aceleradora de empresas de mulheres] B2Mamy.”
O que ainda quero fazer
“Gostaria muito de desenvolver algo que potencialize o desenvolvimento de mulheres na Amazônia, como uma maneira de retornar o que eu tenho. E um próximo passo que já comecei a me preparar: atuar como conselheira de inovação e de tecnologia para empresas que têm o desafio de evoluir seus negócios através dessas alavancas.”
Quinzenalmente, a Forbes publica a coluna Minha Jornada, retratando histórias de mulheres que trilharam vidas e carreiras de sucesso.
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