No início de 2024, todos os holofotes estão voltados para a rápida aplicação da IA generativa e o questionamento se a tecnologia poderá resolver, ou, pelo contrário, agravar os problemas que enfrentamos como sociedade.
A empreendedora e ativista dos direitos das mulheres Reshma Saujani decidiu que não iria esperar para descobrir. Fundadora da Girls Who Code, organização sem fins lucrativos que ensina programação a meninas e mulheres, e da Moms First, voltada para mães no mercado de trabalho, Saujani dedicou sua carreira à construção de movimentos que lutam pela igualdade de gênero e defendem a inclusão das mulheres no setor de tecnologia.
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E viu na IA generativa uma ferramenta com potencial para expandir seu trabalho. Agora, está usando essa tecnologia para ajudar a resolver um problema relevante para as mulheres, especialmente nos Estados Unidos: a licença parental remunerada.
Em dezembro de 2023, Saujani e a equipe da Moms First lançaram a PaidLeave.ai, um chatbot projetado para informar os nova-iorquinos (com planos para chegar a 13 estados americanos, além de Washington) exatamente quanto tempo de folga remunerada eles têm direito e ajudar a orientá-los durante esse processo.
A ferramenta online e gratuita é baseada em inteligência artificial e usa dados do governo federal dos EUA para fornecer informações personalizadas aos trabalhadores. O país continua a ser o único desenvolvido sem uma política federal para garantir licença parental remunerada, e apenas alguns estados colocam essa obrigação. Muitos profissionais optam por tirar a licença não-remunerada, o que em muitos casos, inviabiliza o seu uso.
No Brasil, a lei permite que os pais tirem cinco dias de licença remunerada, e as mães, 120, depois de terem ou adotarem um filho. Mas as empresas ainda podem aderir à licença parental estendida, impulsionada pelo programa Empresa Cidadã, que em 2016 possibilitou às companhias cadastradas estender o benefício para 20 dias para os pais e 180 dias para as mães em troca de incentivos fiscais.
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E se a própria ferramenta ajudar a reduzir a desigualdade?
Com a ideia em mente, ela abordou o CEO da OpenAI, Sam Altman. “E se a própria ferramenta puder ajudar a reduzir a pobreza?”, disse ela.
Altman viu uma oportunidade ali e a conectou com a Novy.ai – uma startup ligada à OpenAI que ajuda a escalar projetos de IA, e, junto com a organização sem fins lucrativos Craig Newmark Philanthropies, deram vida a essa ferramenta.
O sistema usa o GPT-4 da OpenAI para ajudar a analisar os dados, traduzir qualquer idioma e determinar a elegibilidade com base em circunstâncias específicas de cada pessoa. Um plano de ação com os formulários e documentação necessários é enviado por e-mail ao usuário.
Benefícios da licença parental
São inúmeros os benefícios econômicos e sociais de aumentar a proporção de mulheres que são mães no mercado de trabalho e conseguir retê-las. Para Reshma Saujani, o acesso a cuidados infantis e licença remunerada podem ser mais impactantes para a economia e a inovação do que a própria IA. “Construímos o movimento dando acesso a mais mulheres, criando caminhos para mudanças federais.”
Saujani tem trazido o assunto em conversas com governadores dos Estados Unidos, que apontam para a baixa utilização de licenças remuneradas em locais onde elas existem, o que, segundo ela, ignora o fato de que disponibilidade não é igual a acessibilidade. “Estamos vendo mulheres grávidas e pais exaustos, completamente sobrecarregados e abandonados à própria sorte para navegar por sistemas fragmentados e cheios de jargões jurídicos. Não é de se surpreender que eles desistam.”
Nesse sentido, o objetivo da Paidleave.ai é colocar as informações de forma acessível, focando, nesse primeiro momento, especialmente nos estados americanos onde a licença remunerada é elegível.
A empreendedora tem a esperança de que a sua ferramenta seja a primeira, mas não a última a olhar para esse desafio sistêmico e a dar acesso à informação transparente a grande parte da sociedade. “Imagine um mundo onde os mais vulneráveis recebam informação e sejam capacitados para criar sua própria mudança”.
Impacto da IA nas mulheres
Saujani diz que seu maior medo em relação à IA e seu impacto nas mulheres é que as projeções apocalípticas que têm sido feitas se tornem realidade. “Se ficarmos focados num mundo onde apenas o pior acontece, poderá acontecer mesmo”.
Seu objetivo é expandir o acesso à inteligência artificial e suas potencialidades. “Vamos ser muito intencionais na forma como usamos a tecnologia, vamos colocá-la nas mãos de mulheres, pessoas negras e de comunidades de baixa renda.”
A ideia é resolver a questão dos cuidados com as crianças, que recaem desproporcionalmente sobre as mulheres e as mantêm fora do mercado de trabalho, restringindo o seu potencial de ganhos e limitando a sua carreira e escolhas pessoais.
Ela compartilhou exemplos de estudantes que conheceu por meio do Girls Who Code que precisavam sair mais cedo ou perder o programa para ajudar a cuidar dos irmãos em casa. “Percebi que não se trata de ser capaz, qualificado ou bom o suficiente. As estruturas não permitem que as mulheres tenham sucesso.”
*Gemma Allen é colaboradora da Forbes USA. Ela tem 18 anos de experiência em diversas áreas na indústria de tecnologia. Também é colaboradora da Nasdaq para o avanço feminino e futuro do trabalho, além de mãe.
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