Com mais de 20 anos de carreira, sendo metade desse período no Google, Gustavo Souza acaba de ser promovido a diretor-geral de produtos de publicidade no Brasil, o que inclui anúncios na busca, YouTube, Display e mídia programática.
O executivo, que tem uma formação que mescla tecnologia e comunicação, construiu uma base técnica no início da carreira e, conforme foi subindo, buscou ampliar suas habilidades socioemocionais, as chamadas soft skills. “Em alguns momentos tive que buscar habilidades específicas para conseguir dar o próximo passo”, diz ele, citando questões mais objetivas como domínio do inglês, técnicas de produtividade e comunicação em público e também formas de controlar a ansiedade e ter mais consciência corporal.
Siga a Forbes no WhatsApp e receba as principais notícias sobre negócios, carreira, tecnologia e estilo de vida
Segundo Souza, para construir uma carreira sólida e assumir posições de liderança – no Google ou em outra companhia – essas mesmas competências subjetivas podem contar mais que o currículo em si. “No Google, valorizamos muito mais habilidades comportamentais do que experiências profissionais prévias.”
Começou sua carreira corporativa no marketing e também liderou equipes de vendas e transformação digital em empresas de diferentes segmentos, como SulAmérica, Nextel, Cyrela e Votorantim. No Google, assumiu posições de liderança nas indústrias de telecomunicações, finanças e serviços. “Para um profissional de marketing evoluir sua carreira para uma posição de liderança, é preciso ter versatilidade, curiosidade e foco em pessoas e resultados.”
Leia também
“Coragem é o que não me falta”: nova CEO da Líder Aviação conta como conquistou espaço na indústria
Para novo CEO da Kimberly-Clark, tempo de casa é relevante para chegar à liderança
“Temos que atrelar os objetivos de negócio aos nossos sonhos”, diz nova diretora da Intel
Forbes: Quais habilidades foram mais importantes para desenvolver ao longo da carreira?
Gustavo Souza: Na carreira de marketing, o entendimento técnico é cada vez mais importante, especialmente nos primeiros anos. Com a abundância de dados e tecnologia, a capacidade de entender a fundo seu escopo e gerar impacto é o que vai formar seu reconhecimento.
Conforme a carreira evolui, nossas habilidades comportamentais se tornam cada vez mais importantes, ao ponto que você deixa de ser um contribuidor individual e passa a assumir atividades de gestão. A partir daí, a versatilidade, comunicação, empatia e visão para os negócios passam a ser mais relevantes, assim como habilidades para gerenciar e desenvolver pessoas, junto a um olhar estratégico que conecte os times.
Houve momentos em que tive que buscar habilidades específicas para conseguir dar o próximo passo. O domínio do inglês, técnicas de produtividade, de comunicação em público, controle da ansiedade e consciência corporal pelo mindfullness são exemplos disso.
F: Que dicas você daria para um profissional que tem a ambição de fazer carreira no Google?
GS: No Google, valorizamos muito mais habilidades comportamentais do que experiências profissionais prévias. Sendo assim, ter uma visão clara dos seus interesses e de como você consegue gerar impacto positivo para a empresa e para as pessoas é mais importante do que uma boa história de cargos e projetos com os quais aquele profissional teve contato. Uma abordagem proativa e propositiva ao trabalho é essencial para entrar e para evoluir aqui dentro. Por fim, flexibilidade, curiosidade e aquela velha dica de “seja você mesmo” são mais que bem-vindas.
F: Como sua formação ajudou a construir sua carreira?
GS: Eu acredito muito no conceito de educação continuada. A graduação é uma etapa importante, mas não determinante na trajetória profissional. Minhas duas primeiras formações são contrastantes, mas sempre valorizei essas experiências como algo que me deu versatilidade para conseguir atuar tanto no universo de exatas quanto de humanas, e acredito que hoje o profissional de marketing tenha esse desafio para ter sucesso.
Apenas depois de me formar que realmente encontrei a área que gostaria de atuar e usei minhas formações complementares para me aprofundar em temas relacionados, como marketing, tecnologia, comportamento do consumidor, gestão e liderança.
Meus cursos complementares tiveram papel fundamental na criação de um repertório para evoluir profissionalmente. Fiz cursos e certificações marcantes que até hoje me ajudam a resolver problemas de negócios e liderança. Por fim, sou um eterno curioso, e depois de muito tempo descobri que os audiobooks funcionam melhor para mim do que os livros impressos. Uso a leitura como uma forma de me manter atualizado com temas relacionados a tecnologia, liderança, marketing, gestão, inclusão e diversos outros aspectos do meu trabalho.
F: Muitos profissionais de marketing têm chegado à alta gestão das empresas. Você observa isso como uma tendência? Que tipo de habilidades eles levam para a liderança?
GS: Sim, vejo como uma tendência. Com a constante transformação no comportamento dos consumidores gerada por diversos fatores – e a tecnologia é um dos mais importantes – , a função de entender o cliente e suas necessidades é cada vez mais crítica. Por isso, o papel do marketing e do CMO (Chief Marketing Officer) tem ganhado mais importância.
Em 2021, publicamos um artigo falando mais sobre a importância do CMO nas empresas e as características cada vez mais procuradas nesses executivos. Cabe a eles traduzir as necessidades dos clientes em produtos e serviços que gerem crescimento de negócios. Além de um protagonismo em inovação e geração de talentos, construção de canais de relacionamento, estratégias de distribuição e interação.
Por conta de todas essas expectativas, acredito que para que um profissional de marketing consiga evoluir sua carreira para uma posição de liderança, é preciso ter versatilidade, curiosidade e foco em pessoas e resultados.
F: Qual foi o turning point da sua carreira?
GS: Quando entrei no Google, em 2014, decidi abrir mão da posição de gestor de pessoas, que havia conquistado em 2008, para ocupar uma posição de executivo de negócios. Durante esse período, tive que voltar a executar atividades operacionais que há algum tempo não fazia, e aproveitei para me atualizar sobre diversos temas, incluindo análise de dados, técnicas de apresentação e técnicas de vendas.
Com isso, me coloquei novamente em um ciclo de aprendizado. Essa experiência me ajudou a criar uma abordagem ao trabalho que combinava visão estratégica com profundidade técnica.
Ao assumir novamente uma posição de gestão, conseguia entender melhor os desafios dos meus times por saber como era sua rotina de trabalho, quais sistemas usavam, onde gastavam muito tempo de execução e que tarefas eram as mais trabalhosas, chatas ou desafiadoras. Essa conexão com o time me permitiu promover diversas iniciativas de alto impacto na organização, o que acabou alavancando minha carreira e permitindo evoluir mais rápido nas cadeiras de gestão e liderança.
F: Como a passagem por diferentes indústrias agregou para a sua trajetória?
GS: Ao longo da minha carreira passei por diversas empresas e assumi diferentes cargos que me ajudaram a ampliar o repertório de conhecimentos e vivências em vários aspectos: de cultura corporativa até estratégias e prioridades de negócios. Ao longo dos meus quase 10 anos no Google, trabalhei com dezenas de empresas de mais de 15 diferentes mercados ajudando com as estratégias de marketing e negócios. Cada contexto traz diferentes aprendizados sobre como identificar oportunidades, abordar o trabalho e gerenciar pessoas e cultura. Acredito que aprendi a me conectar com o trabalho, me manter motivado e buscar impacto positivo no negócio e nas pessoas independente do contexto.
F: Atua como conselheiro também?
GS: Já recebi alguns convites. Para entender mais a fundo esse papel, concluí o curso para formação de conselheiros de administração do IBGC no ano passado. Contudo, ainda não encontrei tempo para conciliar as atividades de conselheiro com a minha rotina corporativa. No dia a dia, acabamos atuando como conselheiros para diversos de nossos clientes corporativos, e já atuei em conjunto com dezenas de grandes empresas brasileiras, de grandes bancos a empresas de telecomunicações, passando por startups em rápido crescimento. Também atuo junto ao Google for Startups em algumas sessões do Growth Academy, programa dedicado a capacitar startups para crescerem de forma rentável e sustentável por meio das plataformas Google.
Por quais empresas passou
Google, SulAmérica, Nextel, Cyrela, Medial Saúde, Grupo Votorantim, Universidade de São Paulo e Unisys
Formação
Bacharelado em Comunicação Social com habilitação em Relações Públicas – USP
Pós graduação em Marketing – Insper
MBA Executivo – Insper
Liderança Organizacional – Harvard Business School
Conselheiro de Administração – IBGC
Primeiro emprego
Técnico em eletrônica – Unisys
Estagiário de Comunicação – USP
Primeiro cargo de liderança
Coordenador de vendas online (Cyrela – 2008)
Tempo de carreira
Em marketing, 20 anos (desde janeiro de 2003)
O post “Valorizamos habilidades comportamentais mais do que experiências prévias”, diz diretor do Google apareceu primeiro em Forbes Brasil.