Quando se estabelecem metas para o futuro, há uma noção implícita, porque óbvia, de que esse futuro vai chegar. A que foi estabelecida pela OMS (Organização Mundial da Saúde), de eliminar epidemias de aids, tuberculose, malária e doenças tropicais foi estabelecida em 2015, dentro do âmbito dos Objetivos de Desenvolvimento do Milênio, da ONU (Organização das Nações Unidas). A pandemia de covid-19 atrasou os esforços para que esse programa fosse cumprido – mas é importante que seja perseguido. E o Brasil tem condições de fazer isso.
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No início de novembro, em Brasília, o Ministério da Saúde avaliou que, em 2 anos (até novembro de 2025, portanto), será possível detectar 95% das pessoas com HIV; ter 95% delas já introduzidas a tratamento antirretroviral; e fazer com que a carga viral das pessoas em tratamento se torne indetectável. O caminho no combate ao HIV traz sucessos a serem mostrados: na cidade de São Paulo, segundo o ministério, há 5 anos o número de casos de aids vem decrescendo.
Fossem quais fossem os avanços que a área de saúde pudesse estar fazendo, a pandemia mudou o jogo: foram feitos esforços monumentais, em todos os países, para preparar centros de cuidados emergenciais, fabricação de equipamentos e desenvolvimento de vacinas. Hoje, felizmente, o quadro já é outro: a doença ganha um perfil endêmico (quando é recorrente em uma dada região, mas sem aumentos significativos de casos), e esforços podem voltar a se concentrar em outras doenças, que causam impacto igualmente forte em sistema de saúde por toda parte.
O Brasil, como bem sabemos, foi duramente atingido pela covid-19. Reencontrar o caminho para fazer frente à meta da OMS vai exigir investimentos em pesquisa, avanços em diagnósticos, formação de profissionais e em saúde digital – com uso de IA (Inteligência Artificial), telemedicina, aprendizado de máquina e tantas outras ferramentas. Mas há sinais inspiradores: o país, afinal, se tornou uma referência no combate ao HIV – em não pequena medida devido ao alcance do SUS (Sistema Único de Saúde), com acesso a medicamentos, exames e acompanhamento – dos quais se beneficiam milhares de brasileiros.
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Por mais que, perto do prazo final, uma meta não possa ser cumprida, o esforço só faz sentido se for para atingi-la – e mesmo superá-la. Há intercorrências que comprometem esse esforço, mas não se pode reduzir as expectativas. É possível, claro, adequá-las, calibrá-las – afinal, não faz sentido estabelecer metas que excedam toda chance de realizar na prática. Na área da saúde, planejar e elaborar medidas públicas podem ajudar a absorver o impacto de uma eventual nova pandemia, por exemplo. Buscar parcerias com o setor privado é outra iniciativa que pode ajudar a cumprir a meta da OMS, para desenvolver tratamentos, investir em pesquisa e em outras frentes.
Eliminar doenças, como estabelece a meta da OMS, pode soar um tanto ambiciosa. São ligadas a fatores socioeconômicos e comportamentais que tornam diagnóstico, tratamento e prevenção difíceis. Mas é preciso mirar alto, porque os avanços que se faz ao longo do caminho beneficiam a todos.
O Brasil, como visto neste mês na ExpoEpi (Mostra Nacional de Experiências Bem-Sucedidas em Epidemiologia, Prevenção e Controle de Doenças, promovida pelo Ministério da Saúde), tem disposição para cumprir a meta de 2030, o que é um sinal positivo. Já vai vencido, no entanto, mais da metade do prazo para atingi-la. E trabalhar no sentido apontado pela meta da OMS mostra que o Brasil busca reforçar seus laços com a comunidade internacional. O que, em um mundo tão abalado por conflitos e polarizações, não é pouca coisa.
Claudio Lottenberg é mestre e doutor em oftalmologia pela Escola Paulista de Medicina (Unifesp). É presidente do conselho do Hospital Albert Einstein e do Instituto Coalizão Saúde.
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