Kamal Ghaffarian, aos 65 anos, é um bilionário incomum na indústria espacial. Ao contrário de outros que entraram no setor após acumular riqueza em outras áreas, como Elon Musk e Jeff Bezos, Ghaffarian construiu sua fortuna principalmente por meio de suas atividades espaciais. Ele é o fundador de várias empresas, incluindo Axiom Space (que está construindo a primeira estação espacial comercial em parceria com a NASA), Intuitive Machines (desenvolvendo pousadores lunares), Quantum Space (criando uma “autoestrada” espacial) e X-Energy (fabricando reatores nucleares de pequeno porte).
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O sucesso de Ghaffarian é atribuído a bons clientes e contratos significativos. Ele fechou um negócio de US$ 546 bilhões com o governo dos Estados Unidos, além de ter clientes empresariais como Cedars-Sinai (sistema de saúde), G.H. Mumm (produtor de champanhe) e o conglomerado japonês Mitsui. A Axiom Space também possui parcerias com os governos do Canadá e da Arábia Saudita, entre outros, e realizou missões tripuladas bem-sucedidas para a Estação Espacial Internacional em colaboração com a SpaceX de Musk.
Essa reputação ajudou Ghaffarian a conquistar investidores e a levantar fundos para suas empresas. A Axiom Space está avaliada em US$ 2,1 bilhões, a Intuitive Machines vale cerca de US$ 1,1 bilhão, mesmo valor da X-Energy. No total, a Forbes estima que ele possui um patrimônio de US$ 2,2 bilhões. Nada mau para um imigrante iraniano que chegou a Washington, D.C. em 1976 com um empréstimo de US$ 2 mil de seu tio para frequentar a faculdade.
“As pessoas pensam em Bezos, Musk, Branson e com razão”, explica Chris Stott, fundador e CEO da Lonestar Data Holdings, que está se associando à Intuitive Machines para armazenar dados na superfície lunar. “Deveriam também incluir Kam Ghaffarian nessa lista porque ele está fazendo tanto quanto os demais, e foi bastante inteligente em aproveitar tudo o que Jeff e Elon estão fazendo.”
Assim como os empreendedores espaciais mais conhecidos, Ghaffarian tem planos audaciosos. O objetivo imediato é de construir a primeira estação espacial comercial e os módulos de aterrissagem lunar para reduzir os custos de entrada no espaço. A ideia é a mesma dos foguetes reutilizáveis da SpaceX, que tornaram o acesso mais barato, fácil e rápido. Mas isso é apenas o começo. “Nosso destino final de longo prazo é que a raça humana se torne interestelar”, diz ele.
Trajetória de Kamal Ghaffarian
Os sonhos intergalácticos de Kamal Ghaffarian remontam à sua infância no Irã, onde ele se maravilhava com as estrelas. Na noite de 20 de julho de 1969, o então garoto de 11 anos se reuniu em torno da TV e viu Neil Armstrong e Buzz Aldrin se tornarem os primeiros seres humanos a caminhar na Lua. “Foi realmente um momento transformador”, recorda. “Isso realmente acionou para mim que era isso que eu queria fazer.”
Inspirado pelo pouso na Lua em 1969, ele voou para Washington D.C. em 1976 para estudar na Catholic University of America, financiando sua educação com um empréstimo de US$ 2 mil de seu tio. Depois de formado em ciência da computação e em engenharia, Ghaffarian iniciou sua carreira na indústria espacial em 1983, trabalhando para a Lockheed e, mais tarde, fundando a Stinger Ghaffarian Technologies (SGT) em 1994.
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Em 2006 a SGT já era a 20ª maior fornecedora da NASA com contratos no valor de US$ 100 milhões para fornecer serviços de engenharia e suporte a missões. Em 2018, ele vendeu a empresa por US$ 355 milhões para a KBR, fornecendo capital para seus novos empreendimentos na indústria espacial.
As empresas de Ghaffarian são compostas por pelo menos 18 ex-funcionários da NASA com experiência de alto nível, trazendo uma riqueza de experiência governamental e convencendo investidores de que podem ter sucesso em um mercado cada vez mais acirrado. Em 2013, ele se uniu a Stephen Altemus, ex-diretor do Centro Espacial da NASA, que liderou os pousos na Lua, para lançar a Intuitive Machines. Três anos depois, ele convenceu Michael Suffredini, que gerenciou o programa da Estação Espacial Internacional da NASA por uma década, a se juntar a ele na fundação da Axiom Space.
“Kam é uma das poucas pessoas que têm a capacidade de enxergar um futuro grande, ousado e ambicioso e consegue fazer muitas pessoas acreditarem nessa visão”, diz Dakin Sloss, fundador e sócio-gerente da Prime Movers Lab, uma empresa de capital de risco, que investiu tanto na Axiom Space quanto na Quantum Space.
Raio-X do setor
As ações da Intuitive Machines caíram 70% desde sua estreia no mercado de ações, à medida que os investidores reagiram aos atrasos no primeiro lançamento lunar da empresa. Inicialmente programado para novembro — o que teria tornado Ghaffarian o primeiro a levar os Estados Unidos de volta à lua desde 1972 —, foi adiado para janeiro devido ao “congestionamento de plataforma” na estação do Cabo Canaveral, na Flórida. Outra empresa dos EUA, a Astrobotic, tem seu próprio módulo lunar que está previsto para ser lançado na véspera de Natal, potencialmente superando Ghaffarian.
E a concorrência é acirrada em todos os setores: na indústria nuclear, a TerraPower de Bill Gates, que está construindo um reator piloto de 345 megawatts, também ganhou um contrato do Departamento de Energia em 2020. No campo das estações espaciais, a Axiom Space também terá que lidar com a Blue Origin de Bezos e a Sierra Space — fundada pelo casal de bilionários Eren e Fatih Ozme. Além da Astrobotic e Blue Origin, a startup japonesa iSpace está planejando uma segunda missão à lua em 2024.
Ghaffarian não está preocupado, imaginando um futuro em que haverá negócios suficientes para vários reatores nucleares pequenos, estações espaciais e empresas que transportam cargas para a lua. “A competição é saudável. Torna você mais criativo e inovador”, diz ele. Seus investidores concordam: “Queremos incentivar concorrentes porque este será um mercado em crescimento”, acrescenta Kurt Scherer, da C5 Capital.
Para Ghaffarian, a motivação para construir uma estação espacial e landers lunares nunca foi apenas enriquecer, mesmo que seus investimentos neles o tenham tornado muito rico.
“Eu não queria ser o homem mais rico no cemitério e não queria que minha vida fosse apenas sobre ganhar mais dinheiro”, diz ele, refletindo sobre quando vendeu seu primeiro negócio. “Eu queria que minha vida fosse mais sobre fazer diferença, mudar o mundo para melhor.”
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