Escócia: uma experiência na casa do melhor uísque do mundo

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Vista do Castelo de Edimburgo flagrada do rooftop do prédio da Johnnie Walker na Princess Street. O castelo é o principal ponto turístico e histórico da capital da Escócia

O tempo quente e o céu azul logo de cara foram indícios de que a viagem prestes a começar seria especial – afinal, em Inverness, minha porta de entrada na Escócia, tais condições são raríssimas na região, conhecida por suas baixas temperaturas e muita chuva. Minha missão: explorar o universo de Johnnie Walker e dos uísques escoceses, experimentar os rótulos mais desejados e entender as raízes da bebida, consideradas uma das melhores do mundo.

Antes mesmo de baixar as malas em um hotel, seguimos direto para uma propriedade construída em 1893 para ser a casa de veraneio de uma abastada família escocesa. A mansão Rothes Glen foi comprada em 2019 pelo casal Damian e Pippa Riley-Smith, passou por uma restauração total e foi decorada no estilo clássico inglês. O dono é editor de uma revista especializada em uísque e, não à toa, transformou o local em uma escala perfeita para os amantes da bebida, que vêm à região sedentos pelo conhecimento acumulado nas destilarias mais famosas da Terra.

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No meu caso, fui conhecer a Cardhu. Ali, é fabricada boa parte dos rótulos Johnnie Walker. A história da destilaria é muito interessante e remonta aos idos de 1820, quando a bebida ainda era ilegal na Escócia. Quem protagoniza essa saga são duas mulheres, Helen e Elizabeth Cumming, que, mesmo com as adversidades da vida – como a morte dos maridos –, foram resilientes e mantiveram o negócio, que foi vendido à família Walker em 1893.

A mansão Rothes Glen, em Speyside, no nordeste da Escócia. A região é conhecida, e muito procurada, por suas famosas destilarias

A locação do “minicastelo” de 11 quartos deu o tom da primeira fase da viagem. Com um chef particular à disposição, foram servidos dois deliciosos jantares degustação, harmonizados com os rótulos mais exclusivos da Johnnie Walker, além da apresentação de produtos ainda em embargo.

Em um dos jantares, estava presente Emma Walker, a primeira master blender mulher da história de Johnnie Walker. Emma é responsável por muitos dos rótulos da marca (e não, ela não é parente de Johnnie;, o sobrenome, incomum, é pura coincidência – ou destino, quem sabe). Na ocasião, foi servido o Blue Label Ghost and Rare.

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Tive a oportunidade de me sentar ao lado dela e escutar um pouco sobre sua fascinante profissão, ainda pouco conhecida da grande maioria. Emma é formada em química e seguiria para a área farmacêutica, até que conseguiu um emprego na Diageo, há 15 anos, e por lá ficou até hoje. Ela diz ser muito feliz e realizada em sua carreira. “Criar um uísque é como criar um perfume, desperta algo íntimo na memória de cada um.”

Clima ideal, água pura e turfas

Assim como o Brasil é o país do futebol, a Escócia virou sinônimo de uísque – e, “in loco”, pude entender melhor o porquê. O principal fator é o seu clima frio, com invernos rigorosos e verões amenos, que proporcionam as condições perfeitas para o envelhecimento do destilado em barris de carvalho. Além disso, a abundância de nascentes de água pura contribui para a qualidade da paixão escocesa.

Ingrediente fundamental na produção da bebida, a cevada local também faz toda a diferença no produto, que tem sua tradição, regulamentação industrial e rigor na produção formando um tripé sólido de garantia de qualidade.

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Fachada do prédio da Johnnie Walker na agitada Princess Street, com oito andares dedicados ao uísque

Outro elemento essencial quando se fala em uísque escocês é a turfa (material orgânico formado por camadas de vegetação parcialmente decomposta), que adiciona traços “defumados” ao sabor. Ela também contribui para o, digamos, caráter da bebida, adicionando notas terrosas, salgadas e até mesmo medicinais. Essas nuances são apreciadas por muitos amantes de uísque, especialmente por quem prefere os estilos mais robustos. No entanto, é importante ressaltar que nem todos os uísques escoceses são defumados com turfa. Existem regiões, como as Highlands e as Lowlands, que produzem produtos mais leves e sem influência da turfa, priorizando outros perfis de sabor.

Uísque Single malt

Destilado em alambiques de cobre, o single malt é produzido usando apenas cevada maltada como grão base. Além disso, todo o processo de produção, desde a fermentação até o envelhecimento, ocorre na mesma destilaria. A principal característica de um uísque single malt é a complexidade de sabores e aromas, que podem variar dependendo da região de produção. Os single malts escoceses são conhecidos por sua diversidade de perfis de sabor – variam de frutados e florais a defumados e turfosos.

Uma curiosidade é que o single malt não é necessariamente um uísque de malte puro. Ele pode ser um blend de diferentes barris de malte da mesma destilaria, desde que todos os barris provenham de malte de cevada e destilação no mesmo local. A adição de outros uísques de grão (como uísque de milho ou trigo) é o que diferencia um single malt de um blended malt whisky.

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O segredo do Blue Label

Johnnie Walker Blue Label é uma mistura requintada feita a partir de alguns dos uísques mais raros da Escócia – apenas um em cada 10 mil barris contém bebida com qualidade para se tornar parte do Blue Label.

Suas notas começam com avelãs, xerez e laranjas, seguem para gengibre, sândalo e chocolate amargo. O mel surge, com toques de pimenta e frutas secas, finalizando com um suave defumado.

A pequena equipe de mestres uisqueiros, liderada por Emma Walker, seleciona uísques maduros e envelhecidos por sua suavidade e sabores profundos – frutas ricas, fumaça e uma doçura refinada de baunilha – e os mistura, em um perfeito equilíbrio, com uísques mais jovens e vibrantes. Essa composição traz camadas de sabor efervescente a esse notável rótulo.

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Emma Walker, master blender da Johnnie Walker

A Johnnie Walker está trabalhando para alcançar 100% de produção líquida zero carbono e transição para fontes de energia renovável até 2030. “Na verdade, três das nossas destilarias na Escócia (Oban, Royal Lochnagar e Brora) já têm conseguido alcançar esses resultados”, disse Julie Bramham, diretora global de Johnnie Walker. “Nossa meta é que todas as embalagens sejam recicláveis, reutilizáveis ou compostáveis até 2030”, acrescentou.

Olhando ainda mais à frente, mais precisamente para o ano de 2220, a marca convidou o artista digital Luke Halls (que já trabalhou com Adele, Rihanna, U2 e Beyoncé) para criar uma visão inspiradora do amanhã. Explorando temas como geoengenharia, capacitação de inteligência artificial e tecnologias que desafiam a física, trazendo uma versão utópica das cidades daqui a 200 anos. Fazem parte dessa série: Londres, Taipei, Cidade do México, Seul, Sydney, Berlim, Singapura e…Marte. A interpretação de Luke sobre Marte 2220 visualiza a humanidade como uma civilização multiplanetária, com colônias no planeta vermelho.

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Garrafa especial da Johnnie Walker Blue Label traz ilustrações da vida humana em Marte no futuro

Segunda parada: Edimburgo

Na segunda fase da viagem, a caminho de Edimburgo, paramos na sede escocesa da Diageo para conhecer mais a fundo os dois séculos de história da Johnnie Walker. No acervo, achei coisas interessantes, como anúncios da marca no Brasil, de 1940. O slogan da época: “nascido em 1820 – – ainda continua forte”, além do famoso desenho original do logo da marca, o “Striding Man”, feito pelo cartunista Tom Browne, em 1918.

Já em Edimburgo, visitamos o prédio da Johnnie Walker na Princess Street, no coração da capital escocesa. A Princess Street é famosa por sua arquitetura, com belos edifícios georgianos e vistas privilegiadas para o castelo, além de abrigar diversas lojas, boutiques, cafés e restaurantes descolados, sendo uma parada obrigatória para quem visita a cidade. O nome da rua é uma homenagem à princesa Charlotte, filha do rei George 3º, que visitou Edimburgo em 1819.

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Foto do restaurante que fica no último andar do prédio da Johnnie Walker, em Edimburgo

O prédio da Johnnie Walker abriu para o público em outubro de 2021, com um convidado ilustre: o rei Charles 3º inaugurou o tour nos oito andares do prédio, que funciona como um templo do uísque escocês. Lá também é possível montar um drinque personalizado, de acordo com suas preferências gustativas. O restaurante no rooftop descortina um visual deslumbrante da cidade. O prédio está entre as atrações turísticas mais visitadas da Escócia.

Outra parada obrigatória é o Castelo de Edimburgo, uma fortaleza situada no topo de um rochedo vulcânico. A imponente estrutura do castelo domina a paisagem da cidade, oferecendo vistas deslumbrantes para todos os lados de Edimburgo. Lugar para ir e esquecer do relógio.

O local foi alvo de ataques e invasões durante as Guerras da Independência Escocesa, Guerras Napoleônicas e Guerras Jacobinas, entre outros conflitos. Ao longo dos séculos, o castelo desempenhou um papel vital na história do país, servindo como residência real, fortaleza militar e prisão. Além de sua importância histórica, a construção abriga as joias da Coroa escocesa e edifícios históricos, como a Capela de Santa Margarida. O lugar também é endereço de exposições e eventos, incluindo a famosa Parada Militar diária, quando os soldados marcham e tocam a música tradicional escocesa.

Aprenda a fazer um coquetel de uísque

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Penicillin, drink com uísque

Acredito que muita gente, assim como eu, cresceu ouvindo que existiam duas formas de apreciar um bom uísque: “cowboy” ou “on the rocks”. Pois bem, isso ficou no passado. Hoje existem inúmeros coquetéis em que a base é o uísque. Abaixo, receita do Penicillin – meu favorito, feito por Alê D’Agostino.

Ingredientes:

45 ml de uísque escocês
25 ml de xarope de mel com gengibre
25 ml de suco de limão
spray de single malt defumado

Preparo:

Bata todos os ingredientes em uma coqueteleira e sirva em um copo com gelo. Finalize com o spray de single malt.

Reportagem publicada na edição 110 da revista, disponível nos aplicativos na App Store e na Play Store e também no site da Forbes.

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