Levi Novaes e Kevin David: o elo entre cultura e tecnologia na nova fase da MOOC

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Levis Novaes e Kevin David, sócios da KELE

Criada em 2015 como um coletivo, a agência MOOC consolidou sua operação criativa atendendo clientes como Skol, TikTokMeta e outros na oferta de soluções criativas. Agora, diante de um rebranding e passando a se chamar KELE, a agência pretende ampliar territórios, principalmente aqueles associados à tecnologia como games e redes sociais. À Forbes Brasil, Levis Novaes, que foi Forbes Under 30 em 2021 e Kevin David falam sobre a nova estratégia e o momento da KELE diante do contexto do mercado publicitário.

“Uma das maiores saturações que enfrentamos nos últimos anos como MOOC/ KELE é testemunhar o mercado empurrar a gente dentro de caixinhas, como se ser um criativo negro no mercado de comunicação no Brasil nos limitasse unicamente a falar sobre diversidade ou racismo, quando a gente tem se proposto a ser um serviço que oferece soluções através da moda, da tecnologia, da beleza e de diversos outros lugares. Esse é o maior ponto crítico que a KELE se propõe a subverter: reforçar que agências pretas ou brasileiras podem falar sobre todo e qualquer tipo de assunto”, explica Levis.

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Forbes Brasil – Nesses anos de MOOC e agora com a atuação da KELE, o que vocês compreenderam sobre a intersecção de cultura e tecnologia?
Kevin David – Com o avanço do universo digital, a gente entendeu desde cedo que precisávamos abraçar a tecnologia para acelerar algumas respostas. Paralelo a isso, uma ferramenta que contribuiu com a aceleração de conversas e possibilidades foi a tecnologia social e a cultura preta, assim como a cultura de rua, acaba pensando muito por esse viés como core. E tecnologia social pra gente tem muito haver com criarmos nossas próprias ferramentas decoloniais, seja para planejar, criar ou executar nossa criatividade.

Levis Novaes – A maior compreensão é o quanto o impacto cultural gera resultado de negócios. Essa história começou no processo de desenvolvimento do ecossistema MOOC ao longo de 8 anos e deságua no surgimento da KELE como agência criativa com driver cultural. A narrativa que emerge desse contexto direcionado para as pessoas e as marcas está ligada a enxergar o reflexo de criações autênticas e reais por meio de perspectivas diferentes das estruturas engessadas que foram sustentadas em diferentes mercados por décadas. Neste mesmo campo, a tecnologia entra para potencializar os movimentos que estão acontecendo, dando escala a mensagens que fogem do senso comum, e principalmente, tagueando os resultados para além de big data.

FB – Pode comentar, a partir das experiências com clientes de tecnologia, como foi construir narrativas a partir de companhias estruturadas no ecossistema tecnológico?
Kevin David – Em 2021 a gente participou de uma co-criação com o Indique Uma Preta e o Meta para o desenvolvimento de um chatbot inclusivo que traduzia termos corporativos em inglês via WhatsApp. Foi um processo divertido porque a indústria criativa é rodeada de termos em inglês e estamos em um país onde só 5% da população possuem alguma fluência em inglês, então é especial demais usar a tecnologia para contribuir com o vocabulário de um bucado de gente que às vezes ingressa no mercado de trabalho sem entender a maioria dos termos publicitários. Olhamos muito para como essas parcerias entre a gente, como uma agência criativa brasileira, e uma empresa que constrói tecnologia para ajudar pessoas como o Meta, tem o poder de gerar um impacto cultural positivo na vida das pessoas.

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Levis Novaes – A base de companhias estruturas em tecnologia nos permite ir além na experimentação de coisas novas. A inovação vem com estudo, teste, aprimoramento e repetição, até que os resultados tenham textura e densidade suficiente para trilhar novos caminhos. A nossa primeira conquista em Cannes Lions foi através de um trabalho em conjunto com Meta e outros parceiros no programa “Ads For Equality”, na categoria “Creative B2B”, o que nos permitiu tangibilizar a potência do trabalho que dedicamos tanta energia.

FB – Como a cultura alimenta a tecnologia e a inovação e vice-versa, em outras palavras, como elas se retroalimentam?
Kevin David – Cultura é uma movimentação feita pelas pessoas enquanto a tecnologia é uma ferramenta que acelera isso. Quando pensamos em cultura, a inovação acaba tendo um papel de propor novos imaginários a partir dessa troca. Então é importante pensar como mercado, como a gente tem usado a tecnologia para impulsionar a inovação através da cultura. Nosso papel enquanto agência tem sido provocar as marcas a pensarem nisso propondo caminhos que respeitem esse processo de um jeito autêntico.

Levis Novaes – A Cultura de alguma forma sempre representou o principal shape para todas as transformações significativas na sociedade, e consequentemente, na tecnologia e na inovação. A troca de códigos e inteligência na utilização abre caminhos para que a tecnologia reverbere as movimentações que acontecem a todo momento.

“Com o avanço do universo digital, a gente entendeu desde cedo que precisávamos abraçar a tecnologia para acelerar algumas respostas.”

FB – No caso dos games, que mesmo vocês ainda não tendo case, está muito próximo do universo de vocês por causa da música e da cultura, como vocês enxergam o potencial desse ecossistema na formação de cultura e conexão ?
Levis Novaes – Entre muito outros fatores, o mercado de games abre espaço par o processo de democratização e inclusão projetando novas realidades. Atualmente é uma força global com potencial criar comunidades inimagináveis, mas que são atraídas projetarem novas realidade e possibilidades a partir de seus personagens. Estrategicamente, a utilização da lógica de games, ou a gamificação, está mais presente no desenvolvimento de ecossistemas. O desenho das jornadas por etapas a serem vencidas, desafios x objetivos, histórias interligadas, rewards entre muitos outros elementos que tornam o processo mais interessante. O case de Fortnite é um dos maiores exemplos da conexão multifacentada entre o universo do game com a publicidade, a música, as personalidades, a experiência e até possibilidades de ativações de marca.

“A narrativa que emerge desse contexto direcionado para as pessoas e as marcas está ligada a enxergar o reflexo de criações autênticas e reais por meio de perspectivas diferentes das estruturas engessadas que foram sustentadas em diferentes mercados por décadas”

FB – Olhando para tendências na conexão de marcas, pra onde vocês vão olhar? Existem espaços a serem explorados? Existe saturação? Onde estão os pontos críticos?
Kevin David – A gente se propõe a ser uma agência que pensa nas fricções entre o que há entre as marcas e a cultura. E isso diz muito sobre nosso DNA que tem um espírito transformador que transita entre todos os tipos de espaços entre a publicidade e o mercado de luxo. Uma das maiores saturações que enfrentamos nos últimos anos como MOOC/ KELE é testemunhar o mercado empurrar a gente dentro de caixinhas, como se ser um criativo negro no mercado de comunicação no Brasil nos limitasse unicamente a falar sobre diversidade ou racismo, quando a gente tem se proposto a ser um serviço que oferece soluções através da moda, da tecnologia, da beleza e de diversos outros lugares. Esse é o maior ponto crítico que a KELE se propõe a subverter: reforçar que agências pretas ou brasileiras podem falar sobre todo e qualquer tipo de assunto.

Levis Novaes – A KELE representa um novo capitulo da história da publicidade e da economia criativa brasileira. Após anos de aprendizado, estamos no momento de apresentar ao mundo a máxima expressão de como os caminhos não são binários ou tão engessados como aparentavam. Nós estarmos aqui hoje é a prova viva de que grandes mudancas pode acontecer, viemos de um lugar incomum e diferente do atuamos, emergimos da fricção, e hoje conseguimos transitar por todo os espaços em caminhos que atravessam desde as periferias ao mercado de luxo tanto no Brasil quanto no mundo e essa é a nossa essência. Olhar o mundo através de outras lentes e nos conectarmos com o que completa para a excelência nos fará alcançar o que um dia pareceu impossível. Para alcançar a equidade existe um longo caminho a ser percorrido e isso só acontecerá quando diversidade, equidade e inclusão forem fatores intrínsecos na raiz dos negócios.

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