Se você ocupa um cargo de liderança e/ou trabalha em uma startup, são altas as chances de o seu pacote de remuneração incluir uma participação nas ações da empresa. Se esse for o seu caso, você consegue estimar sua oportunidade de ganho total? Essa pergunta parece meio despropositada, mas te asseguro que tem bastante fundamento.
Sempre que estou analisando um programa de ações, outorgado por uma empresa aos seus profissionais com o objetivo de alinhar interesses do time com a performance do negócio e com o ganho dos acionistas, eu vejo os efeitos que fatores exógenos podem causar nesta expectativa de ganho. A política, a economia, o dólar, o preço das commodities, a China, as guerras que estão acontecendo do outro lado do mundo ou mesmo o mau humor dos investidores podem desmantelar qualquer plano de negócio. E aí, grande parte do ganho esperado pelo profissional perde a validade.
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Essa instabilidade é um dado do problema. Mas, no mês passado, me deparei com um estudo conduzido pela Harvard Business Review e que me trouxe um nível adicional de preocupação. Não é que as pessoas esperam uma oportunidade de ganho e acabam recebendo menos. O problema é que as pessoas nem sabem o que estão recebendo!
Segundo a publicação, os profissionais tendem a aceitar ofertas de remuneração inferiores aos padrões de mercado em troca de um número de ações sem nenhuma correlação com o quanto elas potencialmente valem.
Quanto maior o número de ações oferecidas, maiores as chances de as pessoas aceitarem a troca do dinheiro pelo papel, mesmo sem terem a menor ideia do que isso significa, sem saberem qual o percentual que essas ações representam do cap table da empresa, se vão precisar pagar pelas ações, quanto vão precisar pagar ou qual a projeção de crescimento dessa ação. Me lembrou um programa de TV que assistíamos aos domingos em que a pessoa entrava numa cabine e respondia perguntas sem tê-las ouvido, e acabava trocando um carro zero km por uma casca de banana (referência válida para os 40+ como eu!).
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Outro ponto alarmante veio de uma pesquisa aplicada para entender o nível de conhecimento dos profissionais sobre os programas de ação, e os resultados foram realmente desconcertantes. O índice de acerto não só foi baixo, como também as pessoas optavam pela resposta errada ao invés de admitir que não sabiam. E esse excesso de confiança acaba levando os profissionais a não buscarem informações que são fundamentais para que possam tomar as melhores decisões.
O programa mais complexo e que mais gera dúvidas é o de Stock Options. Já descrevemos os principais elementos deste modelo de remuneração em artigos anteriores, mas não custa lembrar que em qualquer tipo de plano, o número de ações não é equivalente ao seu valor monetário. Que pode existir um custo para a aquisição dessas ações. Que existem condições para a liquidação do programa (e que essas condições podem não se concretizar).
Então antes de trocar o certo pelo duvidoso, se informe, procure orientação de um profissional especializado, estude as condições da proposta que está recebendo e compare com as alternativas mais tradicionais. E se depois de todas as considerações você entender que o pacote é atrativo, siga em frente! Só não vale dar um salto no escuro e reclamar depois de ter pulado num poço sem fundo.
Fernanda Abilel é professora na FGV e sócia-fundadora da How2Pay, consultoria focada no desenho de estratégias de remuneração.
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