As mulheres estão mais ambiciosas agora do que antes da pandemia – agora, rivalizam com os homens. É o que mostra a Women in the Workplace, pesquisa anual da Lean In, organização que trabalha pela equidade de gênero, em parceria com a McKinsey & Company. No entanto, os resultados do estudo indicam que as mulheres ainda enfrentam obstáculos significativos para subirem na carreira, como microagressões e menos promoções no início de suas trajetórias profissionais. Essas barreiras são ainda mais duras para mulheres negras.
Esta é a 9ª edição do relatório e foi feito com mais de 27 mil entrevistas com profissionais de 270 empresas. Do grupo feminino, 81% delas relataram o desejo de serem promovidas este ano, o que representa um aumento em relação a 2019, quando apenas 70% disseram o mesmo. A ambição dos homens também aumentou, com a parcela daqueles que desejam subir na hierarquia corporativa indo de 74% em 2019 para 82% este ano. Tanto as mulheres negras quanto as mais jovens são particularmente ambiciosas – mais de 90% esperam crescer profissionalmente no próximo ano.
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Os modelos de trabalho híbrido e remoto adotados após a pandemia podem ser a razão da crescente ambição das mulheres. Uma em cada cinco afirmou que a flexibilidade é fundamental para evitar que reduzissem a jornada de trabalho ou abandonassem o emprego. Não é surpreendente que mães com filhos pequenos valorizem excepcionalmente a flexibilidade. Sem esse benefício, 57% das mulheres com filhos afirmam que teriam que reduzir a jornada ou pedir demissão.
Mais da metade das entrevistadas também aponta a redução da pressão com a aparência como um benefício do trabalho remoto. Uma pesquisa do veículo norte-americano Today descobriu que as mulheres gastam aproximadamente 55 minutos todos os dias se arrumando. Ter uma hora extra por dia para se concentrar no trabalho em vez de se preocupar com a aparência é vantajoso para a carreira de qualquer pessoa.
O desafio da primeira promoção à liderança
Apesar da ambição crescente, ainda existem obstáculos significativos ao progresso feminino no trabalho. O maior deles está nos primeiros degraus da hierarquia corporativa – a promoção para uma primeira posição de liderança ou gerência. Os homens têm maior probabilidade de serem promovidos de cargos de nível inicial para posições de gestão – um fenômeno que tem sido a barreira mais significativa relacionada a gênero nos nove anos desde o início do relatório da McKinsey.
Este ano, a cada 100 homens promovidos para um primeiro cargo de gerência, apenas 87 mulheres receberam uma promoção semelhante. E para as mulheres negras, a diferença é ainda maior (e crescente): apenas 73 foram promovidas, abaixo das 82 do ano passado. A desigualdade no início da carreira também ajuda a explicar por que menos mulheres, e especialmente mulheres negras, chegam a níveis superiores de liderança.
A pesquisa recomenda que as empresas analisem quem está sendo indicado para as gerências e, também, que tenham promoções por critérios de raça e gênero. Esse monitoramento permite que as companhias identifiquem desigualdades e trabalhem para resolvê-las.
Microagressões impedem as mulheres de avançar
Os pesquisadores também descobriram que as mulheres enfrentam mais microagressões no trabalho do que os homens. Microagressões são comentários ou ações que insultam, mas de forma mais sutil do que a discriminação explícita, apesar de terem um impacto significativo no bem-estar de qualquer profissional.
As mulheres ainda têm uma probabilidade duas vezes maior de relatar que tiveram sua competência questionada, como quando outros assumem o crédito pelas suas ideias ou as interrompem no trabalho, e de receber comentários sobre a sua aparência ou estado emocional. Mulheres negras dizem, por exemplo, que muitas vezes são confundidas com alguém da mesma cor de pele. Mulheres asiáticas e negras têm sete vezes mais probabilidade do que as brancas de serem confundidas com alguém da mesma raça.
As microagressões podem, em casos mais sérios, impactar a produtividade no trabalho. “As mulheres que sofrem microagressões têm muito menos chance de se sentirem psicologicamente seguras no contexto profissional, o que torna mais difícil assumir riscos, propor novas ideias ou levantar preocupações”, dizem os pesquisadores. Com o tempo, esse cenário pode levar ao esgotamento, deixando-as menos satisfeitas com seus empregos. Estudos na área da medicina indicam que microagressões também estão associadas a problemas de saúde, como depressão e pressão alta.
Para criar um ambiente de trabalho mais acolhedor e reduzir a probabilidade dessas violências, o relatório Women in The Workplace recomenda promover o conhecimento dos funcionários sobre essa discriminação. Mais importante que isso, as empresas devem criar uma cultura que incentive as pessoas a reagir quando testemunharem um comportamento desrespeitoso. “Embora estas conversas possam ser difíceis, muitas vezes conduzem a uma aprendizagem e crescimento valiosos”, diz o estudo da McKinsey.
*Kim Elsesser é colaboradora sênior da Forbes USA. Ela é especialista em vieses inconscientes de gênero e professora de gênero na UCLA (Universidade da Califórnia em Los Angeles).
(Traduzido por Gabriela Guido)
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