Greening se espalha nos laranjais do Brasil, ameaça safras futuras e vitamina preços

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Fundecitrus/Reuters

Laranjeira com greening.

O greening, doença mais danosa para a citricultura global, espalhou-se como nunca nos pomares do Brasil no último ano e ameaça encolher as próximas safras do maior produtor mundial e exportador de suco de laranja, com a escassez da fonte de vitamina C fortalecendo um mercado que já registra os preços mais altos da história.

Principal polo industrial da laranja, que oferta três de cada cinco copos de suco consumidos no mundo, o país pode ver sua safra levar um tombo de cerca de 25% ao final de uma década, para 235 milhões de caixas de 40,8 kg, considerando o pior cenário de infestação de greening, mesmo em uma condição climática satisfatória para os pomares, segundo modelo estatístico elaborado por integrantes do Grupo de Consultores em Citrus (Gconci) e da consultoria Agriplanning.

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Em um prazo mais curto, de cinco anos, o modelo aponta uma queda de 12% em relação ao número atual de 309 milhões de caixas para a produção no cinturão citrícola industrial (São Paulo e Minas Gerais) na temporada 2023/24.

“Em cinco anos, mesmo com o clima andando bem, teremos uma colheita de 271 milhões de caixas”, enfatizou o consultor Mauricio Mendes, sócio da Agriplanning e integrante do Gconci.

Um laranjal infectado pelo greening, que é causado por uma bactéria transmitida pelo inseto psilídeo, sofre drástica queda de produtividade, que pode ser 60% menor em relação a uma árvore sadia, segundo pesquisas da instituição de pesquisa Fundecitrus.

Plantas adultas ainda têm maior capacidade de suportar a doença do que as jovens, que em dois anos de infecção estão praticamente tomadas pelos sintomas, que incluem folhas amareladas e frutos deformados, antes de caírem precocemente.

O estudo, realizado também pelos consultores Gilberto Tozatti (Gconci) e Rodolfo Castro (Agriplanning), estimou ainda que a produção poderia cair até 31% no prazo de uma década, no caso de um clima ruim, para 213 milhões de caixas, ou 20% em cinco anos, para 248 milhões, nessa mesma condição climática.

A doença não tem cura, e as formas de lutar contra ela incluem a erradicação dos pomares — o que também tem efeito na produção — ou o combate ao psilídeo, que tem ficado mais resistente ao uso de inseticidas pela aplicação inadequada em muitos casos. Essa dificuldade ajuda a explicar o maior salto anual na incidência da doença em 2023, para 38% da área citrícola, segundo o Fundecitrus.

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“É extremamente fundamental que os citricultores adotem imediatamente as medidas recomendadas para o controle correto do psilídeo”, disse o pesquisador do Fundecitrus Renato Bassanezi, lembrando que somente na última safra a queda prematura de frutos por greening foi de 21,9 milhões de caixas de laranja.

Questionado sobre as estimativas dos consultores, o diretor-executivo da associação de exportadores de suco CitrusBR, Ibiapaba Netto, disse que com o avanço da doença “é natural tentar estimar as perdas, mas é muito difícil chegar num número porque há outros fatores que influenciam a safra”, como clima na florada.

A CitrusBR, representante das gigantes do setor, como Citrosuco, Cutrale e Louis Dreyfus Company, reportou na semana passada que os estoques brasileiros de suco de laranja atingiram uma mínima histórica de 84,74 mil toneladas em 30 de junho, com uma restrição da oferta da fruta após safras afetadas pelo clima e também por doenças citrícolas como o greening.

Preço alto segura erradicação

Os preços do suco de laranja congelado e concentrado estão próximos dos maiores patamares dos mais de 50 anos da história de negociação da commodity na bolsa de Nova York, acima de 3,30 dólares por libra-peso, com uma alta de mais de 60% no acumulado do ano, refletindo a situação da oferta no Brasil nos últimos tempos, assim como a queda na safra da Flórida.

A tradicional região citrícola dos Estados Unidos também tem enfrentado graves efeitos do greening, assim como o impacto do furacão Ian, conjuntura que reduziu a safra do Estado norte-americano em mais de 60%, para 15,8 milhões de caixas em 2022/23.

“Como existe uma diminuição de oferta não só do Brasil, mas na Flórida, e o México também está com bastante greening… os preços subiram muito… Nos próximos anos, embora tenha queda de consumo (pelo preço), a queda da oferta vai ser numa taxa muito maior, e é isso que o mercado está prevendo”, disse Mendes.

Conforme o consultor, o produtor não vai erradicar tão rapidamente os laranjais infestados por greening porque, mesmo produzindo menos, a atividade segue lucrativa, já que os preços estão em patamares recordes.

“É uma questão meio perversa do ponto de vista fitossanitário… porque o cinturão citrícola vai ter mais pomares doentes propagando bactérias para pomares sadios”, afirmou.

Ele estimou que a rentabilidade gira em torno de 20 mil reais/hectare, superando outras lavouras, para quem ainda consegue boas produtividades.

Mendes citou, por outro lado, algumas tecnologias para mitigar o problema do greening, como reforços nutricionais para as plantas já doentes, que dão “sobrevida” aos pomares.

Mas isso também implica em custos. Para o presidente da Associação Brasileira dos Citricultores (Associtrus), Flávio Viegas, o agravamento do greening aperta margens. “Mas como a citricultura da Flórida foi praticamente inviabilizada pelo greening, os preços do suco de laranja aumentaram significativamente, há perspectiva de aumento no preço.”

Uma saída para escapar do greening é levar os pomares a áreas com menor incidência da doença, como Minas Gerais, Mato Grosso do Sul, Paraná e Goiás, Estados não tão distantes do polo industrial de São Paulo, o que tem acontecido com alguma escala.

Na avaliação do consultor Mendes, isso permitirá que a área plantada com a fruta — apesar de uma erradicação de lavouras — caia menos do que a produção, ou cerca de 13% em dez anos, para 336,6 mil hectares. “Vai haver redução de área em pomares que não compensa tratar, principalmente pomares novos, mas mais importante que a redução da área será a redução da produção.”

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